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Esporte

Opinião: A raiva de Özil é justificada

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Matt Pearson
23 de julho de 2018

A reação dos poderosos e dos supostos torcedores de futebol ao que, afinal, foi apenas uma foto revelou um tom bastante sinistro e xenófobo no futebol e na sociedade alemã. A situação não precisava chegar a esse ponto.

"Me sinto como se não fosse bem-vindo e penso que aquilo tudo que conquistei desde a minha estreia internacional em 2009 foi esquecido", disse Özil.Foto: picture-alliance/dpa/C. Charisius

Depois de 92 jogos, nove anos e um título de Copa do Mundo, a carreira de Mesut Özil na seleção alemãparece ter chegado ao fim por meio de tuítes corajosos e rompimento de laços. O jogador de 29 anos disse no domingo (22/07) que nunca mais vai jogar pela Alemanha enquanto imperar "a sensação de racismo e desrespeito”.

O trio de comunicados furiosos, mas focados, no Twitter revelou uma longa lista de queixas sobre seu tratamento pela mídia alemã, pela Federação Alemã de Futebol (DFB) e pelos torcedores da seleção após a controvérsia iniciada em maio, quando foi publicada uma foto do jogador e de seu colega Ilka  Gündogan ao lado do presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

O presidente da DFB, Reinhard Grindel, foi o principal alvo de Özil. "Eu não vou mais continuar sendo um bode expiatório para a incompetência de Grindel e de sua inabilidade para desempenhar seu trabalho adequadamente", apontou o jogador no terceiro comunicado.

Antes disso, Özil havia mirado na mídia. "O que não posso aceitar", escreveu Özil, "são os meios de comunicação alemães culpando repetidamente minha ascendência dupla e uma simples fotografia por uma Copa do Mundo ruim”.

Sua raiva é justificada. E agora que Özil respondeu ao pedido de Grindel para que ele falasse sobre a foto com Erdogan, cabe ao chefe da DFB dar algumas explicações por conta própria. Grindel inicialmente apoiou a decisão do técnico Jochim Löw de levar Özil para a Copa, mas depois decidiu que o jogador precisava responder por suas ações. Tudo no exato momento em que a federação alemã estava desesperadamente procurando por alguém para culpar pelo vexame no torneio. Tudo muito conveniente.

"Muitos torcedores ficaram desapontados porque tinham perguntas para Özil e esperavam uma resposta", disse Grindel à revista esportiva alemã Kicker no início deste mês. "Para mim, é absolutamente claro que, uma vez que ele volte das férias – e com seus próprios interesses em mente –, ele divulgue a sua versão."

Bem, Reinhard, agora ele divulgou. E ele também chamou atenção para algumas das suas próprias palavras, especificamente sobre sua atuação como deputado em 2004, quando você disse que o multiculturalismo era "um mito e uma mentira de longa data". Se essa ainda é a opinião de Grindel, não parece apropriado que ele continue em uma posição que supervisiona jogadores e treinadores de várias origens.

A situação realmente não precisava chegar a esse ponto. Há poucas dúvidas de que foi questionável a decisão de Özil de posar para uma fotografia com um líder que combate a liberdade de expressão e reprime opositores políticos e dissidentes em sua busca pelo poder. É claro que a sessão de fotos fez parte de um evento de caridade, mas Özil e Ilkay Gündogan, presumivelmente, poderiam ter cumprido suas obrigações sem fazer pose.

Mas nada disso chega perto de desculpar a reação venenosa ao que, afinal de contas, era apenas uma foto. A retórica previsivelmente idiota do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) foi superada, da mesma maneira previsível, em volume e acidez pelos exércitos de fanáticos nas mídias sociais.

Özil menciona como ele foi chamado de "fod.. de cabras" por um político alemão e um "turco de m..." por seus próprios fãs. Surpreende que ele não se sinta mais à vontade para representar um país onde as pessoas com poder e aqueles que deveriam apoiá-lo não o consideram como um igual?

Özil poderia ter lidado melhor com essa situação, mas ele é apenas um jogador de futebol e não um diplomata. Lidar com escândalos na mídia deveria ser uma tarefa simples para a DFB. Embora não seja uma organização conhecida pela competência, é impossível não compartilhar a conclusão apontada por Özil, de que um jogador muçulmano de origem turca está sujeito a críticas muito mais ferozes do que outros em sua posição.

Por exemplo, o ex-capitão da seleção alemã e campeão mundial Lothar Mätthaus, agora embaixador da DFB, foi recentemente fotografado apertando a mão de Vladimir Putin, um homem que não é famoso por sua tolerância. O escândalo só foi notável por sua quase total ausência.

A reação daqueles com poder e dos supostos torcedores de futebol ao que, afinal, foi apenas uma foto revelou um tom bastante sinistro e xenófobo no futebol e na sociedade alemã. Parece não existir mais um caminho de volta para Özil, mas a esperança é que ele leve Grindel com ele. Essa é a única maneira de algo positivo sair dessa bagunça.

Matt Pearson é repórter esportivo do site em inglês da DW.

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