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A sensatez de Merkel na crise da covid-19

Thofern Uta
Uta Thofern
28 de março de 2020

Reações exageradas ou ignorantes caracterizam o combate ao coronavírus em muitos países. Não na Alemanha: Angela Merkel é, provavelmente, a melhor gestora de crises que um país poderia desejar, opina Uta Thofern.

Pedir em vez de ameaçar, calma em vez de agitação: pontos fortes de Angela MerkelFoto: AFP/M. Kappeler

Na América Latina, as reações ao novo coronavírus variam de quarentena e isolamento, como na Argentina e no Chile, à luta dos governadores contra a ignorância de seu próprio presidente, como no Brasil.

Na Alemanha, a chanceler federal Angela Merkel continua a governar com calma e prudência. E, de acordo com as pesquisas de opinião, ela conta com grande aprovação entre os alemães. Obviamente, ainda não está claro quanto tempo isso ainda vai continuar correndo bem, como também não se sabe quanto tempo essa crise ainda vai durar. Mas a personalidade da chefe de governo e as vivências dos alemães com seu país sugerem que a situação não deverá ficar fora de controle.

Angela Merkel lidera estrategicamente, não taticamente – mas, se as circunstâncias mudam de forma drástica, ela é capaz de adaptar rapidamente sua estratégia. Carisma não é o seu forte, mas ela sabe quando é necessária uma reação clara. A reviravolta na política energética após o desastre nuclear de Fukushima em 2011 é um exemplo disso; o tratamento da crise de refugiados em 2015 é outro.

Nos dois casos, sua aprovação entre a população foi mais certa do que dentro do próprio partido. No entanto, não se trata de exemplos de como ela adapta sua opinião ao clima do país, pelo contrário. Merkel sempre pensa a partir do final; certamente, ela estava ciente de que ambas as decisões causariam dificuldades a longo prazo.

Liderança significa seguir na direção certa. A transição energética foi cientificamente correta, a política de refugiados foi humanamente e, a longo prazo, também economicamente correta. Angela Merkel é formada em física e foi criada num ambiente familiar protestante, com um pai pastor. Esses antecedentes lhe proporcionam um norte confiável para muitas decisões.

Construir a partir de fatos e tratar os outros de forma humana também ajudam numa crise na qual ainda é impossível saber a direção certa. Pois liderança significa então "guiar com a visão", ter cuidado, ser capaz de fazer correções de curso. Isso só funciona com grande abertura, pois cria confiança nos líderes. É por isso que o governo alemão está gradualmente adaptando sua gestão de crises aos desenvolvimentos, razão pela qual Merkel pede à população que respeite as restrições de circulação em vez de tomar medidas draconianas diretas.

Pedir em vez de ameaçar, objetividade em vez de norma, calma em vez de agitação. Isso combina com Merkel e traz calma a uma situação predestinada ao pânico. A chanceler federal sabe que, em última análise, nada pode ser bem-sucedido sem o apoio da população. Portanto, explicações e apelos em vez de promessas de salvação ou medidas coercitivas desnecessárias. Os direitos fundamentais na Alemanha já estão mais restritos do que nunca em tempos democráticos, e é possível que um toque de recolher acabe se tornando necessário. Mas na Alemanha isso se discute objetivamente e se decide democraticamente.

A confiança de que as restrições serão relaxadas o mais rápido possível e acirradas somente em último caso se baseia, por um lado, na confiabilidade do Estado de direito e de suas instituições. Por outro lado, é claro, também tem a ver com a confiança na equipe de liderança. Uma chanceler que cresceu atrás da Cortina de Ferro sabe o quanto significa a liberdade.

Obviamente, também é de importância o fato de a Alemanha ser economicamente forte e contar com um sistema de saúde muito bom. Mas essas são conquistas que a maioria dos alemães até o momento considerava normais. E somente agora muitos deles percebem como é boa sua situação.

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Uta Thofern Chefe do Departamento América Latina. Democracia, Estado de direito e direitos humanos são seu foco.
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