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Opinião: Abalada, Europa precisa se reafirmar

19 de novembro de 2016

Não por acaso Obama escolheu Berlim como estação final de última visita à Europa como presidente dos EUA. O futuro do continente está em jogo, e Alemanha desempenhará papel central, opina o jornalista Christoph Strack.

Christoph Strack é jornalista da DWFoto: DW

Berlim como palco de dias de transição. Nesta sexta-feira (18/11), por ocasião da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama – provavelmente em sua última viagem à Europa no cargo –, chefes de Estado e governo do oeste do continente sentaram-se com ele à mesa da Chancelaria Federal. Cada um deles, a seu modo, abatido ou sobrecarregado.

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, encabeça um governo sem maioria no Parlamento, que é meramente tolerado. Seu homólogo italiano, Matteo Renzi, enfrentará um referendo no início de dezembro, cujo resultado é totalmente imprevisível e que, no pior dos casos, poderá forçá-lo a renunciar.

Theresa May, do Reino Unido, tem prazo até o fim de março para encaminhar, também formalmente, o Brexit, a saída de seu país da União Europeia. Quanto ao presidente francês, o socialista François Hollande, é mais do que questionável que ele seja reeleito no próximo ano. No momento, ele é o que em francês se chama canard boiteux  – um pato manco.

E a anfitriã, a chanceler federal alemã, Angela Merkel? Ela está justamente tomando impulso para cuidar que seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), continue responsável pelo governo alemão depois das eleições legislativas de setembro de 2017. O convidado do outro lado do Oceano Atlântico, Obama, voa embora, para uma vida após a política.

Rajoy e May, aqueles que, do lado europeu, se manifestaram na Chancelaria Federal, destacaram, das conversas bilaterais com Merkel, as usuais questões objetivas: o desenvolvimento econômico espanhol, a imigração na Europa, a crise dos refugiados.

Apesar disso, uma outra questão pairava acima de todas as outras. Em seu comunicado final, divulgado alguns minutos após a partida de Obama, a Casa Branca mencionou, em primeiro lugar, "os desafios comuns para a comunidade transatlântica".

"Desafio" é a palavra-chave destes dias. Foi também o presidente americano em fim de mandato que, poucos dias antes, louvou efusivamente a UE e o padrão de vida da Europa. Isso serve de encorajamento àqueles que, de puro medo, vão assoviando baixinho pelo bosque. E permanece como mensagem entre despedida e partida, entre passado e futuro, com melancolia e muitas perguntas em aberto perante a mudança de poder em Washington.

No que tange à União Europeia, é significativo que nenhum de seus principais representantes – seja do Parlamento, da Comissão ou do Conselho – tenha participado do encontro, de modo algum. Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, se encontrava por acaso na capital alemã, para o congresso econômico de um jornal. Mas também ele não desempenhou papel algum no evento transatlântico.

Por isso, esta sexta-feira mostrou, acima de tudo, a importância que Berlim e a política alemã têm, dentro da UE. Agora, neste ano cheio de incertezas, a Alemanha terá que liderar sem reivindicar liderança. Também isso ficou claro nestes dias de novembro.

Go west. O avião de Obama, o Air Force One, deixou o aeroporto Tegel em direção ao oeste. Isso fica como símbolo. À mesa da Chancelaria Federal, nesta sexta-feira, cinco chefes de Estado e governo da Europa Ocidental sentaram-se com o presidente, em fim de mandato, da mais importante democracia ocidental, os Estados Unidos.

E apesar de tudo que os últimos anos trouxeram – seja o escândalo da NSA ou a disputa sobre o acordo TTIP: a questão das relações transatlânticas permanecerá de importância fundamental. Até porque continuam sobre a mesa os velhos assuntos que ninguém conseguirá resolver sozinho: o combate ao terror fundamentalista islâmico; a calamitosa situação na Síria, a constante tensão na Ucrânia; a Rússia, claro, e Vladimir Putin.

Berlim não foi uma cúpula no sentido próprio do termo. Mas foram dias de transição europeia, ainda que seguidos de desafios monumentais. Os meses até as eleições gerais na Alemanha não decidirão apenas o caminho que países isolados têm a seguir. Não: a Europa está perante um ano decisivo.

Os políticos europeus precisam lutar com mais determinação por um caminho comum. Pois a Europa está em jogo, e mais ainda: a tradição dos valores ocidentais. Foi deles – e nada menos – que se tratou nesse encontro em Berlim.

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