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Acirramento calculado no Golfo Pérsico

Rainer Hermann, FAZ & Klett-Cotta
Rainer Hermann
12 de julho de 2019

Enquanto tensões entre EUA e Irã se acirram, Teerã pratica violações de forma gradual e comedida, o que sugere que regime iraniano não está interessado em iniciar uma guerra, opina Rainer Hermann, do jornal "FAZ".

Foto: Imago/Ralph Peters

Enquanto o conflito entre Estados Unidos e Irã se acirra, o acordo nuclear iraniano está mais ameaçado do que nunca às vésperas de completar seu quarto aniversário. Washington se retirou unilateralmente do pacto e impôs sanções severas ao Irã. Teerã, por sua vez, viola os termos do acordo e, mais recentemente, nesta quinta-feira (11/07), tentou tomar o controle de um petroleiro britânico no Estreito de Ormuz, em retaliação pela apreensão de um petroleiro iraniano em Gibraltar.

Não são boas notícias, mas elas não devem ser dramatizadas. Pois os dois atores (ainda) seguem as regras de uma gestão racional de conflitos. Teerã pode violar as exigências do acordo assinado em 15 de julho de 2015, mas não numa escala que transforme imediatamente o pacto num desperdício de papel.

O Irã pratica violações de forma gradual e num nível que pode ser rapidamente revertido. Se o governo em Teerã estivesse interessado num rápido acirramento das tensões ou numa guerra, ele revogaria o acordo, cancelaria as inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) em suas instalações nucleares e, ainda, intensificaria novamente seu programa nuclear.

Rainer Hermann é jornalista do "Frankfurt Allgemeine Zeitung"Foto: Helmut Fricke

Mas o Irã não faz isso. O país aumentou ligeiramente o enriquecimento de urânio dos 3,67% permitidos para 5%, mas não para provocativos 20%. Além disso, no conflito sobre o petroleiro britânico no Estreito de Ormuz, Teerã reagiu de maneira recíproca à apreensão na semana anterior de um petroleiro iraniano.

Aparentemente o Irã envia o sinal de que continua buscando o diálogo. Em 6 de julho, os presidentes Hassan Rohani, do Irã, e Emmanuel Macron, da França, conversaram por telefone. Com essa estratégia, o Irã quer criar uma divisão entre os EUA – que ameaçam Teerã com sanções ainda mais rigorosas – e a Europa, da qual os iranianos esperam uma nova iniciativa diplomática para conter as sanções por parte de Washington.

No curto prazo, com sua estratégia de acirramento gradual e calculado, Teerã busca recuperar o fôlego, mas sem mergulhar o país numa guerra que nunca conseguiria vencer. Já no longo prazo, o regime iraniano segue cada vez mais o modelo da Coreia do Norte.

A imprensa iraniana noticia com frequência que mísseis de longo alcance norte-coreanos conseguiriam atingir qualquer ponto dos EUA, enquanto o Irã já trabalha arduamente em seu programa de mísseis. Isso sugere que o presidente dos EUA, Donald Trump, deve continuar exercendo pressão contra o Irã.

Muito depende agora dos europeus e se eles conseguirão manter um comércio legal mínimo com o Irã. Se não o fizerem, o acordo nuclear se tornará, finalmente, um desperdício de papel. Então o Irã ameaça avançar com seu programa nuclear, e o conflito, a essa altura, entraria numa espiral perigosa de tensão.

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