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Adeus da Europa ao gás russo tem seu preço

27 de março de 2022

EUA prometem fornecer grande volume de gás liquefeito, mais caro, para compensar embargo às importações da Rússia. Os tempos exigem disposição para sacrifícios – até certo ponto, opina Christoph Hasselbach.

Biden e Von der Leyen: "Para EUA, fornecer gás para UE é, acima de tudo, um grande negócio"Foto: Evelyn Hockstein/REUTERS

Sob pressão, de repente tudo dá, num instantinho: os países da União Europeia querem se livrar o mais rápido possível das importações de petróleo e gás russas. Considerando que até agora 40% do gás natural importado pelo bloco tem vindo do país que invade a Ucrânia, logo se percebe a dimensão do desafio.

Aí entram em cena os Estados Unidos: no futuro, o país quer fornecer até um terço do gás que a UE até agora comprava dos russos. Já em 2022, deverão ser 15 milhões de metros cúbicos. Embora seja muito, isso não passa de um décimo do volume atualmente importado da Rússia. O gás americano deverá sobretudo contribuir para encher os reservatórios europeus, que estão no momento bastante vazios: há ameaça de gargalos, o mais tardar no próximo inverno europeu, que vai de dezembro a março.

A presença do presidente Joe Biden não só nas cúpulas da Otan de do G7, como também na da UE, assim como seu comprometimento para fornecer gás, fortalece as relações euro-americanas, que estavam duramente abaladas, sobretudo sob seu antecessor, Donald Trump.

Por outro lado, no caso do gás não se trata de generosidade: para os EUA é, acima de tudo, um bom negócio, pelo qual, ironicamente, o próprio Trump, tão malquisto na Europa, fez campanha por muito tempo.

Os EUA não serão o único país a aumentar suas exportações de gás para a Europa: a região quer diversificar suas fontes de abastecimento "na direção de fornecedores em que confiemos", segundo palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Não é hora de ficar escolhendo

Com democracia e direitos humanos, porém, essa transação nada tem a ver – basta considerar fornecedores de petróleo e gás como os Emirados Árabes Unidos ou o Catar, em cuja direção a Alemanha anda estendendo suas antenas.

Contudo também isso faz parte do grande despertar provocado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia. Em tempos de aperto, não se pode ficar escolhendo muito, a política para evitar os gasodutos russos tem seu preço.

O gás liquefeito, em geral, é mais caro, pois exige adaptações tecnológicas; é preciso construir estações de desembarque para navios-tanques; criar uma infraestrutura de transporte que até o momento só existe de forma precária na Europa.

Tudo isso custa bem mais do que o atual abastecimento pela Rússia. Com os custos adicionais, quem vai arcar é o consumidor, diretamente, ou o contribuinte, indiretamente.

Por último, há mais um sapo para se engolir: o gás americano é extraído principalmente por fraturamento hidráulico (fracking), um método proibido em diversas partes da Europa, por razões ambientais. Também isso caiu agora para segundo plano.

Morrer de frio não é solução

Para a Alemanha, o desafio é ainda maior do que para a média da UE, pois o país compra do império de Vladimir Putin por volta de 55% de seu gás, e metade das casas do país é aquecida com o combustível fóssil.

Também isso é fruto de anos de uma política comercial e externa com que primeiro o chanceler federal Gerhard Schröder e, depois dele, a democrata-cristã Angela Merkel tornaram a Alemanha extremamente dependente da Rússia.

Portanto, para os alemães o redirecionamento será ainda mais radical do que em outras partes do continente. A crer nas pesquisas de opinião, os cidadãos estão basicamente dispostos a se sacrificar por essa causa.

O que não pode é o ex-presidente alemão, Joachim Gauck, solicitar a seus compatriotas, num programa de televisão: "Podemos também, uma vez na vida, passar frio em nome da liberdade." Mais eficiência energética na calefação, como reivindica a UE, pode e deve ser a meta principal – lares congelantes, com certeza, não.

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Christoph Hasselbach. é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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