Indústria automotiva
30 de outubro de 2008Setembro, na verdade, é um bom mês para o comércio europeu de veículos. Um mês em que as vendas normalmente correm bem. Só que no momento não há o que seja normal. Assim, setembro passado foi o pior dos últimos dez anos: uma quebra de 8% nas vendas – o que parece ter soado para o comissário europeu da Indústria, Günter Verheugen, como uma sirene de alarme.
Tanto que um encontro planejado há meses com os presidentes de empresas, representantes dos governos e dos sindicatos dos principais países produtores de automóveis na Europa foi rebatizado bombasticamente com o nome de "cúpula automobilística".
Já antes disso manifestou-se um fenômeno conhecido capaz de causar espanto: quando os negócios correm bem, toda prescrição ditada por Bruxelas é condenada como sendo obra do diabo. Quando as circunstâncias pioram, então a indústria clama por ajudas estatais.
Quarenta bilhões de euros: a associação da indústria automotiva da Europa não deixou por menos. Afinal, a concorrência norte-americana também estaria recebendo bilhões de dólares em créditos a juros baixos para desenvolver carros menos poluentes.
E de fato a Comissão Européia cedeu. Seu presidente, José Manuel Barroso, anunciou ajudas para que a indústria desenvolva carros de efeitos menos impactantes sobre o meio ambiente.
O mais tardar neste ponto é que se fica mesmo boquiaberto. Como é que pode? Por um lado, Bruxelas exige das montadoras que reduzam consideravelmente as emissões de dióxido de carbono até 2012.
Os fabricantes alemães, sobretudo, que ganham seu dinheiro principalmente com carrões possantes, rebelam-se contra isso.
E agora, de repente, Bruxelas deve disponibilizar dinheiro para que a meta de redução de CO2 seja cumprida? Quem é que vai colocar um ponto final neste disparate?
Ajudas estatais para a indústria automotiva européia são um absurdo, pois comparando-se com a situação da concorrência norte-americana, os europeus ainda estão bem. Os problemas que Daimler, Volvo, Fiat e cia. têm são de responsabilidade das próprias empresas.
Durante anos, o desenvolvimento de carros mais econômicos foi visto como questão de somenos importância que nunca despertou entusiasmo. O recuo nas vendas não é conseqüência da crise no mercado financeiro.
A indústria automobilística alemã, por exemplo, está em estagnação no mercado doméstico há anos. O que se tem de reconhecer é que nunca partiu de seus representantes o clamor por subsídios.
O setor encontra-se diante de uma fase difícil em toda a Europa. Mas ela não está passando por uma crise desastrosa, e sim, pelo menos no momento, por uma desaceleração conjuntural normal. Ninguém pode profetizar quantos postos de trabalho serão sacrificados.
Só que os próximos meses terão o efeito de um acelerador. O primeiro a lançar no mercado uma tecnologia econômica, barata e promissora será o grande ganhador.
É claro que os franceses agora levantam as mãos embevecidos e dizem: façam como nós. O país vizinho da Alemanha fomenta com recursos estatais a aquisição de carros de pequeno porte pouco poluentes.
Os resultados estão aí para serem vistos: para os construtores franceses de automóveis, setembro não foi um mês crítico. Eles aumentaram suas vendas em 8%. Isto deveria dar o que pensar.
Já a idéia do presidente da França, Nicolas Sarkozy, de estatizar parcialmente setores industriais estratégicos, entre os quais a indústria automotiva, deveria ser enterrada o mais rapidamente possível. Os "Estados Socialistas da Europa" – não há quem possa querer isso a sério. (lk)
Henrik Böhme trabalha na editoria de Economia da Deutsche Welle.