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Alemanha, ainda distante da verdadeira unidade

3 de outubro de 2018

Mesmo 28 anos após a Reunificação, Leste do país continua economicamente atrasado. Mas outras razões contribuem para que ali muitos se sintam cidadãos de segunda classe.

Berlinenses celebram a queda do MuroFoto: REUTERS/H. Hanschke

Pode-se dizer que Angela Merkel – dada a sua carreira extraordinária – tenha sido quem mais ganhou com a reunificação da Alemanha. Nascida em Hamburgo, mas criada na antiga Alemanha Oriental, a política democrata-cristã já governa o seu país há 13 anos – nos últimos tempos, mais para mal que para bem.

Os alemães do Leste não podem nem mesmo se orgulhar de sua chanceler federal, que, afinal de contas, é uma deles. Essa é uma das razões pelas quais o crescente distanciamento entre o governo e os governados a leste do rio Elba é mais perceptível do que nos estados do Oeste.

Aos seus olhos, Merkel é a principal representante de uma política que não representa seus interesses, embora compartilhe com eles a mesma experiência de ditadura e passado.

Leia o especial sobre a Reunificação alemã

Mas enquanto o caminho da atual chefe de governo, que está no poder desde 2005, sempre apontou para cima desde a queda do Muro de Berlim, a situação de milhões de alemães do Leste declinou constantemente. Acima de tudo, a experiência deprimente do desemprego involuntário e de longa duração deixou feridas duradouras.

As realizações dos alemães do Leste – executadas sob as condições de um Estado cultural e economicamente paternalista – ficaram ameaçadas da noite para o dia. Para lidar com isso, foi e é preciso o máximo em flexibilidade, mobilidade e estabilidade emocional, como nunca se exigiu dos alemães ocidentais em escala comparável. Pois a mudança estrutural econômica ou mudanças políticas de longo alcance nunca ocorreram de um dia para o outro na antiga Alemanha Ocidental.

Os alemães do Leste, por outro lado, vivenciaram no menor espaço de tempo a erosão total de uma ordem social que, embora não tenha sido saudada pela grande maioria, os marcou de forma inevitável.

Com o justificável orgulho da revolução pacífica que desencadearam em 1989/90, muitos não puderam comprar, simbolicamente, quase nada após a Reunificação. A maioria superou essa condição – mas, na média estatística, num nível muito mais modesto do que é habitual na parte ocidental do país.

No atual relatório sobre a unidade do país, pode-se ler: mesmo 28 anos após a Reunificação, os salários efetivamente pagos no Leste correspondem a 82% do nível do Oeste. Quem vende isso como um sucesso fecha os olhos para as correlações. Pois menos dinheiro pelo mesmo trabalho significa, ao mesmo tempo, menos reconhecimento e respeito.

A conversa fiada sobre o desempenho, que deve ser novamente recompensado, soa nos ouvidos dos alemães do Leste ainda menos credível do que nos daqueles socializados na antiga Alemanha Ocidental.

Os salários mais baixos, a falta de computação dos anos de trabalho nas aposentadorias e outras injustiças têm consequências para a vida toda. A sociedade de duas classes está gravada na mente da geração acima de 50 anos. Isso é e continua sendo um escândalo.

Mas o que, no longo prazo, supera ainda mais a desvantagem material cimentada é o domínio indiscutível das elites do Oeste alemão em quase todas as áreas da sociedade.

Sem Angela Merkel e sem a ministra da Família, Franziska Giffey, nascida na antiga Alemanha Oriental em 1979, o gabinete ministerial em Berlim, composto de 16 membros, permaneceria uma zona de exclusão de alemães do Leste. Isso pode ser considerado uma coincidência. Mas também pode ser chamado do que é: um sintoma do estado da Unidade Alemã.

Desde a Reunificação, uma geração inteira nasceu no país e, mesmo assim, os alemães do Oeste continuam a dar o tom por quase toda parte. O Leste alemão ainda está extremamente sub-representado nas diretorias de empresas, universidades ou na mídia – a Deutsche Welle não é exceção.

Somente quando essa situação for superada, as comparações muitas vezes irritantes, mas também necessárias, entre Leste e Oeste podem e vão ter um fim. Somente quando o Dia da Unidade Alemã não fornecer mais razão para um artigo de opinião como este, a unidade interna estará concluída.

Marcel Fürstenau é repórter da sucursal da DW em Berlim.

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Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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