No cargo há menos de uma semana, novo ministro do Interior alemão já causou polêmica ao falar sobre o islã. Ele lançou debate importante, mas na direção completamente equivocada, opina a editora-chefe da DW, Ines Pohl.
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Foi rápido. Na sua primeira entrevista à imprensa, o novo ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, deixou claro como pretende conduzir o debate sobre integração e Heimat [termo traduzido como "terra natal", mas com significado que também se aproxima de identidade nacional]: por meio da polarização e da exclusão.
Sua frase "O islã não pertence à Alemanha" contém exatamente o acelerador de incêndio para inflamar ainda mais as fissuras sociais no país. E isso num momento em que aumenta o número ataques a mesquitas e instituições islâmicas.
Isso não é perigoso apenas para a convivência harmoniosa no interior da Alemanha, mas acaba sendo uma ameaça também para a coesão da União Europeia. Pois o bloco tem poucas chances de sobreviver num contexto de exclusão e separação. A exigência de Seehofer de suspender o tratado de Schengen por tempo indeterminado pode levar a mais insegurança ainda.
O fato de Seehofer ter se decidido por esse tom não é apenas perigoso. Trata-se também de uma oportunidade desperdiçada. O debate acalorado que o político bávaro da União Social-Cristã (CSU) desencadeou – uma vez mais – é prova contundente disso.
Enquanto um lado, furioso, vira as costas, outros aplaudem de forma estridente: "Até que enfim, alguém que fala o que pensamos."
Uma pessoa sensata não incendiaria ainda mais esse debate com declarações agressivas. Especialmente por ser novo no cargo, ele tem a chance de se aproximar dos problemas de muitos alemães – das inseguranças, dos sentimentos de ameaça – de forma mais investigativa. Quatro milhões de muçulmanos vivem na Alemanha. Isso é um fato. Dizer que a religião deles não pertence a nós acaba ajudando as forças extremistas.
Por que Seehofer não pergunta, simplesmente, que tipo de islã pertence à Alemanha – obrigando, assim, as associações islâmicas desse país a ajudarem a organizar e a assumirem a responsabilidade por uma convivência pacífica? Por que ele não tenta trabalhar com as muçulmanas e os muçulmanos que estão firmemente agarrados à nossa Constituição? Aqueles muçulmanos que lutam pela igualdade de direitos de mulheres e homens, assim como contra a discriminação de homossexuais?
Esse é o espírito com o qual o novo governo deveria lidar com os novos desafios da integração. E seria uma possibilidade construtiva de abordar os temores daqueles que votaram no partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), permitindo sua entrada no Parlamento alemão.
Não foi por acaso que a Alemanha levou quase meio ano para formar um governo. Trata-se de um reflexo da crise de identidade da Alemanha como um país de imigrantes. Focar permanente o islã é, nesse contexto, apenas mais uma prova de uma impotência generalizada.
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O novo governo de Angela Merkel
Os 15 nomes que compõem o gabinete do quarto governo Merkel já são conhecidos. SPD comandará pastas cobiçadas, como Finanças e Exterior. CDU chefiará a Economia, e CSU, o Interior.
Foto: Reuters/H. Hanschke
Na vitrine
Heiko Maas, de 51 anos, trocou o Ministério da Justiça pelo do Exterior. Como ministro da Justiça, Maas gerou polêmica com a lei contra a incitação ao ódio nas redes sociais. O Ministério do Exterior costuma levantar a popularidade de seus ocupantes, o que deverá acontecer também com ele. Por isso, já há quem especule que o SPD esteja preparando Maas para ser candidato à chancelaria pelo partido.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Guardião das finanças
Olaf Scholz, de 59 anos, já deixou claro que vai rezar pela cartilha do seu antecessor no Ministério das Finanças, Wolfgang Schäuble (CDU). Também ele rejeita gastar mais do que a arrecadação e não quer fazer novas dívidas. Isso está definido, aliás, no acordo de coalizão, mas não agrada a todas as lideranças do SPD. Scholz, que hoje é prefeito de Hamburgo, também será o vice-chanceler.
Foto: Getty Images/C. Koall
Poder de fogo
O ex-secretário-geral do SPD Hubertus Heil, de 45 anos, será o novo ministro do Trabalho e Social. Este é, de longe, o ministério com o maior orçamento no governo alemão, com mais de 100 bilhões de euros disponíveis.
Foto: Imago/photothek/M. Gottschalk
Jovem e do Leste Alemão
A ascensão de Franziska Giffey, de 39 anos, mostra que não é necessário integrar as panelinhas do Bundestag para conseguir um lugar no governo: Giffey, até então prefeita do distrito de Neukölln, em Berlim, vai comandar o Ministério da Família, também do SPD. Esta política do Leste Alemão é tida como partidária da lei e da ordem, o que lhe deu fama em Neukölln, uma "região problema" da capital.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Chefe do meio ambiente
Svenja Schulze, de 49 anos, já tem experiência em comandar uma pasta, mas em nível estadual. Até 2017, ela comandou a Secretaria da Pesquisa no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Depois que o SPD perdeu a eleição e deixou o governo, ela passou a ocupar o cargo de secretária-geral. Agora, vai assumir o Ministério do Meio Ambiente.
Foto: picture-alliance/dpa/R.Vennenbernd
Pelos direitos das mulheres
Katarina Barley, de 49 anos, vai trocar o Ministério da Família pelo da Justiça. No cargo atual, ela se mostrou uma defensora dos direitos das mulheres, por exemplo exigindo que o debate sobre sexismo e violência seja ampliado dentro da sociedade alemã.
Foto: picture alliance/dpa/K. Nietfeld
Braço direito da chanceler
Peter Altmaier, de 59 anos, é tido como o braço direito da chanceler federal Angela Merkel. Como chefe da chancelaria federal, ele recebeu dela alguns dos piores abacaxis do governo, como a gestão da crise dos refugiados. Agora ele passará para o Ministério da Economia e Energia, tido como o principal dos que ficaram com a CDU e importante para o setor industrial do partido.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Homem de confiança
Helge Braun, de 45 anos, também é um homem de confiança de Merkel e um de seus assessores mais próximos. Com a ida de Altmaier para a Economia, Braun, que é da CDU, assume a chefia da Chancelaria Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
De olho na Otan
Poucos ministros foram tão criticados no cargo, durante o governo passado, como Ursula von der Leyen, sempre às voltas com algum escândalo na Bundeswehr. Von der Leyen, de 59 anos e da CDU, já foi uma bem-sucedida ministra da Família de Merkel. Na época, era cotada para suceder a chefe. Hoje é tida como um nome forte para ser a próxima secretária-geral da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Renovação na CDU
Um dos rostos jovens mais promissores da CDU vai assumir o Ministério da Agricultura. Julia Klöckner, de 45 anos, perdeu duas eleições na sua terra natal, a Renânia-Palatinado, e agora se muda de vez para Berlim. Ela é tida como pessoa de confiança da chanceler federal. Para irritá-la, inimigos costumam lembrar que ela foi rainha do vinho no seu estado, um grande produtor de uvas e vinhos.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Crítico de Merkel
A imprensa foi unânime em apresentar a ida de Jens Spahn para o Ministério da Saúde como uma tentativa de Merkel de apaziguar seus críticos dentro da CDU. Afinal, Spahn, de 37 anos, é o principal crítico de Merkel na CDU. Ele se apresenta como católico, defensor dos valores conservadores e gay e é tido como um profundo conhecedor dos problemas de sua pasta, até mesmo por adversários políticos.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kappeler
A surpresa na lista
A escolha de Anja Karliczek, de 46 anos, surpreendeu muitos observadores. Pouco conhecida, ela é deputada federal da CDU pela Renânia do Norte-Vestfália e vai assumir o Ministério da Educação.
Foto: imago/M. Popow
Novo lar para o "leão bávaro"
Desde 2008 governador da Baviera, Horst Seehofer, de 68 anos, vai assumir um Ministério do Interior fortalecido pelas pastas de "Heimat" (lar, pátria) e Construção. É o ministério mais importante da CSU, e muitos analistas afirmam que a criação da pasta de "Heimat" é uma resposta ao avanço da AfD, que a CSU encara como uma concorrente direta pelos votos no estado do sul da Alemanha.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Pohl
De volta a Berlim
Andreas Scheuer, de 43 anos, ocupava o cargo de secretário-geral da CSU. Agora, ele retorna ao Ministério dos Transportes, no qual havia sido vice-ministro até 2013, na condição de ministro. O ministério inclui ainda a pasta Digital.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/S. Babbar
Ajuda ao desenvolvimento
Fora o ministro do Exterior, nenhum outro viaja tanto quanto o Ministro da Ajuda ao Desenvolvimento. O atual ocupante da pasta é Gerd Müller, de 62 anos, da CSU), e ele permanecerá no cargo no próximo governo. Entre as suas principais tarefas está combater a migração causada pelo subdesenvolvimento.