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Crise de alimentos

14 de abril de 2008

Banco Mundial e FMI advertem que carestia de alimentos pode causar caos social e inquietações políticas em 33 países. Os pobres precisam de ofertas de trabalho e condições justas de comércio, opina Karl Zawadzky.

Enquanto as pessoas nos países ricos se preocupam como poderão encher, no futuro, o tanque do carro, cada vez mais pessoas nas nações pobres têm problemas já hoje em encher a barriga. Sim, também a crescente transformação de alimentos em biocombustíveis contribui para a aguda crise alimentar. Mas este não é o único fator.

Karl ZawadzkyFoto: DW

Por exemplo, com o crescimento populacional, é superior a 80 milhões o número de pessoas a mais a serem alimentadas a cada ano; até o ano de 2050 a população mundial aumentará para 9 bilhões de habitantes. Mais de 90% dos nascimentos acontecem no Terceiro Mundo, onde já hoje 850 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer. A fome mata dezenas de milhares a cada dia.

Isto poderia ser evitado. As causas da crise alimentícia residem – excetuando-se as catástrofes naturais – em erros políticos, econômicos e sociais. Por isso, a fome é causadora de rebeliões em um número cada vez maior de países.

A Terra é suficientemente fértil para alimentar muito mais gente do que os habitantes do planeta. Má alimentação, fome em massa e morte por falta de alimentos não são naturais. "O problema não é tanto a falta de alimentos, mas a carência de vontade política", concluiu há 20 anos a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Hoje, isto não mudou.

Um quinto da humanidade sobrevive com menos de 1 dólar ao dia. São estas pessoas que se deitam com fome à noite, que são subnutridas ou malnutridas e que morrem de fome. Em todos os lugares onde são criados empregos em larga escala, o poder de compra daí resultante leva à diminuição da fome.

A medida isolada mais importante para combater o problema da fome é a criação de possibilidades de ocupação e rendimentos. Isto é correto, mas apenas parte da verdade.

A atual crise alimentícia, que levou a rebeliões em vários países e derrubou o governo do Haiti, também tem a ver com a inflação global dos preços de gêneros alimentícios e alterações nas correntes do comércio.

A demanda por parte de consumidores com poder aquisitivo nos países emergentes é coberta em parte pelo aumento da importação de alimentos. Além disso, aumentam cada vez mais as áreas cultiváveis usadas para a plantação de matérias-primas para biocombustíveis.

Em conseqüência disso, os países em desenvolvimento, já pobres, gastaram com a importação de alimentos no ano passado 25% a mais do que em 2006.

O preço do milho duplicou em dois anos, levando a uma crise da tortilha no México. Em quase três décadas, o trigo nunca esteve tão caro e tão escasso como agora.

O preço do arroz praticamente duplicou no ano passado. E são previsíveis novos aumentos de preços, que atingirão as camadas mais pobres da população.

Nos países emergentes, a demanda por alimentos de qualidade aumenta de forma desproporcional, o que faz com que cada vez mais cereais sejam usados como ração para a produção de carne. Os ricos deste mundo desfrutam seu luxo, em parte, em detrimento dos pobres.

O bem-estar de uma parcela cada vez maior da população mundial é uma das causas da fome no mundo. A inflação no preço dos alimentos – que também é sentida nos países industrializados, mas lá tudo é mais facilmente assimilável – atualmente tem conseqüências mortais para os pobres deste mundo.

Só que em longo prazo este aumento de preços pode tornar-se em vantagem para os países pobres. A condição para isso é que as nações industrializadas encerrem seu nefasto protecionismo agrícola e abram seus mercados para produtos do Terceiro Mundo.

Pois, na produção de matérias-primas agrícolas, os países em desenvolvimento são competitivos, mas infelizmente se vêem confrontados com as desleais barreiras comerciais das nações industrializadas, que com isso protegem seus agricultores.

Agora é hora de acabar com esta injustiça. Naturalmente é preciso ajudar os famintos, em situações de emergência, com doações de alimentos, só que esta não é uma solução permanente.

Os países industrializados deveriam abrir seus mercados para os produtos agrícolas das nações em desenvolvimento, contribuindo, assim, para a criação de postos de trabalho e para rendimentos no Terceiro Mundo.

Assim, mais pessoas de lá poderiam comprar alimentos e matar sua fome. Onde houver demanda de consumo, logo aparecerá uma oferta correspondente. Os pobres e famintos deste mundo precisam de ajuda alimentar, mas na realidade eles necessitam de ofertas de trabalho e condições justas de comércio. (rw)

Karl Zawadzky é chefe da editoria de Economia do programa em alemão da DW-RADIO.

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