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Opinião: Alvos cristãos, vítimas muçulmanas

Florian Weigand
28 de março de 2016

Os cristãos eram o alvo dos ataques em Lahore, mas foram atingidos principalmente muçulmanos. As pessoas vão fugir novamente de um país em que até mesmo um parquinho infantil é perigoso, opina Florian Weigand.

Jornalista da DW Florian Weigand

Seguindo o ponto de vista cínico dos autores de atentados, o ataque em Lahore foi uma gafe absoluta. No simbólico Domingo de Páscoa, eles queriam atingir a comunidade cristã ao atacar um parque de lazer na cidade, a segunda maior do Paquistão com mais de 7 milhões de habitantes.

O balanço preliminar no dia seguinte: mais de 70 mortos, entre eles, ao menos 26 crianças e – a partir da visão dos homens-bomba – muitos poucos cristãos, relatou o correspondente da DW no local.

O fato de os agressores em Lahore terem afirmado querer atingir cristãos foi um golpe pérfido de propaganda. A facção dissidente do Talibã estava contando, certamente, com a maior atenção possível em todo o mundo – e principalmente no Ocidente predominantemente cristão.

Mais uma vez se mostra: não importa que objetivos sejam perseguidos pelos radicais islâmicos, a maior parte das vítimas é formada por muçulmanos. Seja na Síria, no Iraque, na África, Indonésia ou nos países em crise constante Afeganistão-Paquistão.

Não se pode dizer, de verdade, que o Paquistão tenha uma legislação particularmente secular. A blasfêmia continua a ser um crime sujeito a punição por pena de morte. Muitos paquistaneses são muçulmanos devotos e que também acham certo que a vida pública se oriente de acordo com os princípios do Alcorão.

No entanto, também é uma realidade que as chamadas "convent-schools" cristãs sejam escolas populares para os filhos da elite muçulmana. O nível dessas escolas é indiscutivelmente alto. Isso também faz parte de um país, cuja complexidade social não se pode descrever em frases curtas.

Quem der uma olhada nas redes sociais após os atentados constata ali, especialmente, a consternação. Uma jovem muçulmana de Islamabad escreve, por exemplo, que todos os homens são irmãos; outra cita o profeta Maomé, que teria condenado essas atrocidades como anti-islâmicas.

Ao mesmo tempo, prospera no país uma corrente sinistra de um islamismo radical – apoiado durante muito tempo pelo governo e serviços de inteligência – como instrumento submisso contra o vizinho Afeganistão.

A princípio, até mesmo os EUA apoiaram tal corrente – na década de 1980, quando o Afeganistão era comunista e todos os instrumentos contra a União Soviética eram legítimos. Agora, eles não conseguem mais se livrar desses fantasmas. Nos últimos anos, já foram realizadas diversas ofensivas militares, mas o número de atentados só aumenta.

É bem possível esperar que, também no Paquistão, cada vez mais pessoas procurem sua felicidade no exterior. Feliz é aquele que pode contar com uma das muitas bolsas de estudo ou com uma boa oferta de emprego dos Emirados Árabes ou na Europa. A elite privilegiada já faz bastante uso disso.

Os menos favorecidos passarão a considerar se até mesmo um acampamento como em Idomeni, na fronteira entre a Grécia e Macedônia, não seria uma alternativa melhor em um país em que já se corre perigo de vida durante um passeio em família num parque de lazer.

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