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Angela Merkel, a chanceler domada

Berlin DW  Michaela Küfner
Michaela Küfner
12 de setembro de 2019

A realidade do governo Merkel diverge das reivindicações dos alemães, e discurso da chanceler federal mostra que coalizão de governo provavelmente não cumprirá as promessas dela, opina a jornalista Michaela Küfner.

"Muitas das ambições de Merkel devem ser deixadas de lado", opina Manuela KüfnerFoto: picture alliance/dpa/F. Rumpenhorst

Durou uma boa meia hora o périplo de Angela Merkel através da política mundial em seu discurso no Bundestag, o Parlamento alemão. Como em câmera lenta, viu-se ela ascender por 15 minutos à condição de tigresa da política global, até que – freada pelas chamas dos relatos da realidade alemã – ela aterrissou como uma gata doméstica no duro chão da realidade do país.

Pois, se Merkel, no papel de "Leader of the free World" ("Líder do Mundo Livre"), tenta apontar "quais são as expectativas em relação a nós" em grandes questões, como a relação transatlântica e a responsabilidade da Alemanha frente ao multilateralismo, então ela mesmo sabe: essa coalizão de governo com um Partido Social-Democrata (SPD) eternamente em crise dificilmente poderá cumprir tais tarefas.

Pois não apenas a questão clássica, o objetivo da Otan de empregar 2% do PIB na área de defesa, continua sendo uma provocação para os social-democratas – não importa o quanto a questão também possa sobrecarregar as relações com o governo Trump.

Quando Merkel adverte que a Europa deve "deixar sua marca" na resolução de conflitos no mundo ou mesmo "tornar-se mais visível na Síria", o SPD rebate aludindo a seus princípios partidários.

Justamente ali na Síria, além da luta contra o "Estado Islâmico" (EI), está ocorrendo um grande drama da coalizão de governo em Berlim: nos bastidores, há muita discussão sobre se será renovado o mandato, que expira no final de outubro, para voos de reconhecimento alemães contra posições do EI. "Tornar-se mais visível" parece ser algo diferente.

Parece muito audacioso o anúncio de Merkel de que a Alemanha quer "fazer sua parte" para garantir que a Líbia não se torne uma segunda Síria. Durante anos, a Alemanha se esquivou de confrontar França e Itália com seu interesse na Líbia.

Mas agora que o governo de transição líbio apoiado pela ONU está completamente perdido no caos da guerra, comportando-se, em sentido figurado, como uma criança que caiu no poço, Merkel repentinamente adverte contra outra "guerra por procuração", chamando precisamente de "nossa tarefa" a necessidade de evitar tal guerra. Mas continua sendo difícil imaginar quais ações concretas poderiam se seguir a essas palavras, com esse parceiro de coalizão.

A chanceler federal não pode se esconder atrás do SPD quando ela mesmo percebe que a Alemanha não está mais atualizada tecnologicamente. "Temos que admitir isso", disse Merkel quase timidamente, com os olhos na China. Para proferir pouco tempo depois que as mudanças climáticas e a digitalização são questões cruciais para garantir a prosperidade futura da Alemanha.

Merkel abordou os dois tópicos logo no início de seu mandato – há 14 anos. Mas muito deixou de ser feito. "No momento não é falta de dinheiro", explicou a chanceler federal, apontando que na Alemanha falta, sobretudo, capacidade de planejamento.

Não falta, portanto, dinheiro do contribuinte nos corredores de repartições públicas do país. O fato de muito não ter acontecido tem outras causas. E também muitas das ambições de Merkel na área de política externa devem ser deixadas de lado nos meses restantes da coalizão de governo em Berlim.

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