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Opinião: Ano de esperança e crises para América Latina

Thofern Uta
Uta Thofern
25 de dezembro de 2016

O ano de 2016 foi difícil para os latino-americanos, com crises violentas em alguns dos principais países. Só um Estado dá, ao menos, motivo de esperança, opina Uta Thofern, chefe do departamento América Latina da DW.

Uta Thofern é chefe do departamento América Latina da DW

A Colômbia é o "país do ano", na opinião do The Economist. E revista britânica tem razão: o país sul-americano alcançou a paz depois de mais de 50 anos de guerra civil. Em face dos acontecimentos no resto do mundo, trata-se de um sucesso quase inacreditável. Claro, o acordo de paz revisado, que acaba de ser aprovado pelo Congresso, tem um defeito: os cidadãos não foram consultados, depois que uma maioria apertada rejeitou o primeiro esboço.

A justificativa de que o órgão parlamentar representa a vontade do povo pode estar correta do ponto de vista formal. Mas soa como uma evasiva, depois de o próprio presidente Juan Manuel Santos ter insistido, da primeira vez, num plebiscito como única legitimação definitiva.

Com isso, o Nobel da Paz abriu as portas ao populismo. Agora, Santos precisa ver como pode fechá-la novamente e provar, até as eleições legislativas de 2018, que a paz de fato promove sensivelmente o progresso do país. Ainda assim, a Colômbia tem uma chance real – e, portanto, muito mais do que muitos outros Estados da América Latina.

E, no entanto, 2016 havia começado com grandes esperanças para alguns países-chave, por exemplo a Argentina, Venezuela e Cuba.

Depois de 12 anos de má gestão pseudossocialista, os argentinos haviam eleito um novo presidente que prometia dar impulso à economia. Mauricio Macri, de fato, colocou o país de volta nos mercados financeiros internacionais, com forte ímpeto, libertou o comércio externo e a circulação de divisas de restrições absurdas e deu fim à prática de comprar boa vontade política com cargos estatais.

Mas o outro lado da medalha dessas reformas é doloroso: a inflação sobe continuamente e, com ela, os preços, enquanto os investimentos internacionais não entram e cada vez mais postos de trabalho se perdem. A pobreza entre a população – uma estatística que o próprio presidente reinstituiu – cresceu de 29% para 32% na legislatura de Macri.

Nesta situação, a oposição – em si, internamente dividida – usa sua maioria parlamentar para exigir cada vez mais concessões que colocam em risco o curso da recuperação econômica. O presidente argentino está adicionalmente enfraquecido devido ao envolvimento de sua família em negócios duvidosos, expostos com a revelação dos Panama Papers. Macri não tem muito mais tempo: se a conjuntura não melhorar, a eleição legislativa em outubro próximo fortalecerá ainda mais seus adversários.

O chefe de Estado da Venezuela, Nicolás Maduro,por sua vez, não tem esse tipo de preocupação: para ele tanto faz o que a Assembleia Nacional decida. Com inacreditável desfaçatez, o regime chavista ignora a representação popular desde que a oposição obteve uma maioria de dois terços no pleito democrático de dezembro de 2015. Os chavistas colocaram sob o próprio controle todas as instituições do país, assim neutralizando impiedosamente a maioria democrática.

Sob as vistas do mundo, a democracia é pisoteada dia após dia na Venezuela, enquanto a população sofre cada vez mais as consequências do socialismo de extração chavista. Os mais afetados são os pobres, sem medicamentos, sem papel higiênico, sem preservativos, nos supermercados, por vezes não há nem mesmo farinha de milho.

Em compensação, há novas cédulas, para disfarçar a inflação galopante. E um "presidente" sem qualquer decência, que a cada dia imagina novas teorias de conspiração abstrusas para acobertar o próprio fracasso. Assim é a vida da maior parte dos venezuelanos, um ano depois de haverem deposto esse regime nas urnas.

E Cuba? Quase dois anos após o início da aproximação entre os Estados Unidos e os comunistas veteranos em Havana, quase nada mudou – fora os voos diretos para os EUA e melhores conexões de internet. E naturalmente agora se sente a falta do onipresente grande ausente: a morte de Fidel Castro privou de um rosto o modelo político cubano, que afinal há muito não passava de uma máscara.

Em Cuba, o que rege não é comunismo nem socialismo, mas sim um capitalismo estatal em mau funcionamento, com uma impiedosa sociedade de duas classes. Quem, de alguma forma, tem a ver com turistas e embolsa divisas, pode tudo. Quem, infelizmente, só está fazendo o curso universitário ou atua na economia normal, ganha tanto por mês quanto um taxista em um dia.

A censura da imprensa segue funcionando bem, oposicionistas continuam sendo presos regularmente, só na internet há um pouco de liberdade. Mas a última esperança de uma mudança em breve, através da aproximação aos americanos, possivelmente morreu com a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA.

No fim das contas, este não foi um bom ano para a América Latina.

Uta Thofern Chefe do Departamento América Latina. Democracia, Estado de direito e direitos humanos são seu foco.
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