Opinião: Ao escolher Pequim, COI contraria as próprias metas
Andreas Sten-Ziemons31 de julho de 2015
Escolha não é exatamente uma surpresa, mas ela é incompatível com as metas de baixos custos e proteção ambiental definidas pelo Comitê Olímpico Internacional, afirma Andreas Sten-Ziemons, da redação de esportes da DW.
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Não havia um candidato ideal para sediar os Jogos Olímpicos de Inverno – isso já estava claro antes da escolha, em Kuala Lumpur. Tanto no Cazaquistão, que concorreu com Almaty, como na China, que, depois dos Jogos de verão de 2008, queria levar para Pequim também os de inverno, a situação dos direitos humanos deixa a desejar.
Democracia, liberdade de imprensa e liberdade de opinião para valer não há nesses países, mas, com seus sistemas autocráticos, eles oferecem a possibilidade de que tanto os jogos como os preparativos transcorram sem atritos.
A escolha recaiu sobre Pequim, o que foi "espontaneamente" celebrado com uma festa, encenada na melhor tradição comunista, diante do Ninho de Pássaro, o Estádio Olímpico de 2008.
A decisão dos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), a favor de Pequim e contra Almaty, não é uma surpresa, ainda que o resultado de 44 a 40 tenha sido mais apertado do que o esperado. Tudo indicava que a capital chinesa seria a vencedora.
Mas é difícil entender como essa escolha, depois dos caros Jogos de Sochi em 2014, possa significar uma melhora ou uma mudança coerente com a Agenda 2020 do COI.
Os Jogos de Inverno de Sochi, que o presidente Vladimir Putin tentou usar para polir sua imagem, teriam engolido cerca de 50 bilhões de euros. Uma reserva natural foi destruída para a construção das instalações esportivas e da infraestrutura. Graves danos ambientais foram o resultado, e as instalações e hotéis quase não são usados.
A Agenda 2020, iniciada pelo presidente do COI, Thomas Bach, e aprovada por ampla maioria em dezembro de 2014, defende menos gigantismo e mais sustentabilidade e consideração por aspectos regionais. A proteção ambiental também deve estar no topo das prioridades.
A escolha de Pequim para sediar os Jogos de Inverno coloca essas exigências bem para baixo. Nunca neva em Pequim, e por isso a cidade não tem tradição em esportes de inverno nem instalações esportivas apropriadas. Fora os ginásios para as competições no gelo, que deverão acontecer nas instalações construídas para os Jogos de 2008, tudo terá que ser construído para as demais modalidades.
As competições de esqui alpino serão disputadas em Yanqing, uma região montanhosa distante cerca de 90 quilômetros de Pequim e que necessita de uma ampla reconstrução para a prática de esportes olímpicos de inverno. Exatamente apropriada ela não é, pois as diferenças de altura das largadas mal atendem às exigências mínimas da Federação Internacional de Esqui (FIS).
Já os atletas do salto de esqui, biatlo e esqui de fundo vão ficar ainda mais longe – para ser exato, a 190 quilômetros de distância, na região de Zhangjiakou. Lá, assim como em Yanqing, quase nunca neva o suficiente para a realização de competições de esportes de inverno. Os principais fabricantes mundiais de canhões de neve já podem, portanto, se alegrar com a alta demanda que deverá vir da China nos próximos anos.
Almaty, ao contrário, é uma cidade de esportes de inverno. As instalações para a maioria das competições já existem e distam não mais de 40 quilômetros umas das outras.
Oficialmente, os chineses planejam separar um orçamento de 3,08 bilhões de euros, relativamente modesto. Só que a ampliação das conexões com trens de alta velocidade entre Pequim e as áreas de esqui para as competições alpinas e nórdicas deverá engolir bilhões, e também a construção dos locais para a prática dos esportes deverá custar algo.
Por isso pode-se seguramente partir do princípio de que esse orçamento vai explodir, assim como os dois vilarejos que terão que desaparecer para dar lugar a novas pistas. Não é à toa, portanto, que cidades como Saint Moritz, Oslo, Estocolmo e Munique desistiram de suas candidaturas.
Jogos de baixo custo, que privilegiem a sustentabilidade, o meio ambiente e as distâncias curtas, poderiam fazer esses potenciais candidatos mudar de ideia e voltar a se candidatar no futuro. Mas, ao optar por Pequim, o COI deixou escapar essa oportunidade.
Sochi 2014, uma retrospectiva
Os Jogos Olímpicos de Sochi já são passado, mas deixaram momentos memoráveis.
Foto: Reuters
Grande abertura
A cada edição dos Jogos Olímpicos, o país-sede tenta superar seu antecessor em todos os aspectos, o que vale principalmente para a cerimônia de abertura. Em Sochi não foi diferente. A lenda do hóquei Vladislav Tretiak e a ex-patinadora Irina Rodnina tiveram a honra de acender a tocha olímpica. Tretiak, porém, iria se decepcionar muito com o fracasso do time russo de hóquei.
Foto: picture-alliance/dpa
Loch leva o ouro no luge
O alemão Felix Loch repetiu a medalha de ouro conquistada nos Jogos de Vancouver de 2010 na categoria luge (descida de trenó). Depois ele ainda levou outro ouro no revezamento, fazendo a Alemanha ganhar as quatro competições de luge.
Foto: picture-alliance/dpa
Saindo em grande estilo
Antes de ir para Sochi, a esquiadora Maria Höfl-Riesch já havia anunciado que esta seria sua última participação nos Jogos Olímpicos. A alemã de 29 anos deixou a competição levando medalhas de ouro e prata, faltando apenas conquistar uma de bronze para completar sua coleção.
Foto: picture-alliance/dpa
Ouro para um novo país
O patinador de alta velocidade em pista curta Viktor Ahn, nascido na Coreia do Sul, terminou com glória sua performance em Sochi ao liderar a equipe russa na conquista pelo ouro no revezamento de 5 mil metros. "Isso eu jamais esquecerei", disse Ahn que, como Ahn Hyun-soo, havia ganho quatro medalhas de ouro nos jogos de 2006 em Turim para a Coreia do Sul.
Foto: picture-alliance/dpa
Sem medalhas, de novo
No início dos jogos, era claro que, para a equipe de hóquei no gelo da Rússia, só o ouro importava. No entanto, Pavel Datsyuk e o time russo perderam para a Finlândia nas quartas de final. Como país, a Rússia nunca ganhou ouro. A última medalha de ouro foi como uma parte da equipe que participou dos jogos de Albertville, em 1992. A última medalha como país foi de bronze, há 12 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
Velho, mas bom
Em Sochi, Ole Einar Bjoerndalen, de 40 anos, empatou em número de medalhas de ouro com seu colega norueguês, o esquiador aposentado Bjoern Daehlie. Bjoerndalen tornou-se a pessoa mais velha a vencer uma competição dos Jogos de Inverno, a corrida de 10 quilômetros, e bateu o recorde de 12 medalhas de Daehlie ao vencer o revezamento misto com a Noruega.
Foto: picture-alliance/dpa
Feito inédito
Dominique Gisin, da Suíça, e Tina Maze, da Eslovênia, fizeram história ao dividir o ouro no downhill feminino, o que nunca havia acontecido. As esquiadoras percorreram a pista de Rosa Khutor em 1 minuto e 41,57 segundos.
Foto: Reuters
Atletas no chão
Não faltaram acidentes em Sochi. Aqui, por exemplo, o esquiador alemão Severin Freud, especialista em saltos, caiu depois de uma manobra. Freund, porém, iria se recuperar – junto com Andreas Wellinger, Marinus Kraus e Andreas Wank – quando ganhou o ouro para a Alemanha na competição por equipe.
Foto: picture-alliance/dpa
Falta de sorte alemã
Os oito ouros, seis pratas e cinco bronzes da Alemanha colocaram o país em sexto lugar no ranking de medalhas – uma queda brusca em relação ao segundo lugar em Vancouver. Um dos sinais da falta de sorte alemã foi o acidente do esquiador Tim Tscharnke, que perdeu uma medalha considerada ganha na corrida em equipe.
Foto: picture-alliance/EPA
Ouro para uma nação em apuros
O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, qualificou a performance da equipe feminina ucraniana no revezamento de biathlon 4 x 6 como uma das mais notáveis dos jogos. Vita Semerenko, Juliya Dzhyma, Olena Pidhrushna e Valj Semerenko ganharam a medalha de ouro para a Ucrânia, que passa por um período político turbulento.
Foto: Getty Images
O choque de Sachenbacher-Stehle
Evi Sachenbacher-Stehle pareceu tão chocada quanto o restante da equipe olímpica alemã quando foi anunciado que ela testou positivo para um estimulante proibido. Logo após o resultado ser anunciado, a atleta foi desqualificada e mandada de volta para casa.
Foto: Kirill Kudryavtsev/AFP/GettyImages
Participação brasileira
O Brasil inscreveu um recorde de 13 atletas em sete modalidades em Sochi. No início dos jogos, a equipe feminina de bobsled sofreu um acidente com seu trenó durante um treino. As atletas não se machucaram. Já a equipe masculina, liderada por Edson Bindilatti, ficou em penúltimo lugar na competição, que deu à Rússia a medalha de ouro.
Foto: Lionel Bonaventure/AFP/Getty Images
Rússia no topo
Apesar do fracasso na pista de hóquei no gelo, o país-sede ficou em primeiro lugar no pódio das medalhas em Sochi, com 13 ouros, 11 pratas e 9 bronzes. Alexander Zubkov levou a equipe de trenó para a vitória no último dia de competição.
Foto: Reuters
Canadá, de novo
Os fãs de hóquei canadenses tiveram motivo para festejar depois que o time masculino juntou-se ao feminino na conquista da medalha de ouro, defendendo o título conquistado quatro anos antes, em Vancouver. O capitão Sidney Crosby liderou o time na vitória por 3 a 0 sobre a Suécia.
Foto: REUTERS
Adeus, Sochi
Os Jogos Olímpicos de Sochi terminaram com uma cerimônia de encerramento de duas horas de duração, na qual um urso gigante apagou a tocha olímpica. O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, disse que os jogos foram um grande sucesso. "A Rússia entregou o que prometeu", disse ele.