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Ao mudar estilo, Merkel reage às novas circunstâncias

Dagmar Engel (av)15 de janeiro de 2015

Ao adotar publicamente posições claras contra a islamofobia e repetir que o islã é parte da Alemanha, chanceler abandona sua zona de conforto. Uma reação perspicaz, opina Dagmar Engel, chefe da sucursal de Berlim da DW.

Dagmar Engel, chefe da sucursal de Berlim da DWFoto: DW/S. Eichberg

Temerária, combativa, emocional: todas essas são qualidades que não ocorrem de imediato ao se caracterizar aquela que, segundo a revista Forbes, é a "mulher mais poderosa do mundo". De fato, em seu discurso governamental sobre os atentados terroristas em Paris, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, não levantou a voz ou ergueu o punho, nem ficou com os olhos cheios d'água. O que, então, leva tantos comentaristas da Alemanha à avaliação de que a premiê estaria num processo de se reinventar?

Prova nº 1: Esta foto, um instantâneo tirado durante a marcha de luto em Paris. A fria chefe de governo, que sempre evitou a proximidade física de seus colegas, apoia-se no presidente francês, François Hollande, fecha os olhos, aparenta fragilidade, emoção. Segundo se afirma, nada na aparição pública de Merkel é por acaso.

Angela Merkel e François Hollande em ParisFoto: Reuters/Rossignol

Prova nº 2: Ela se coloca demonstrativamente em defesa dos muçulmanos na Alemanha. A chanceler federal e presidente da conservadora União Democrata Cristã (CDU) retoma expressamente a frase do ex-presidente e correligionário Christian Wulff, segundo o qual hoje o islã é parte da Alemanha.

Isso, de fato, é novo. Ainda em 2010 ela se recusava a concordar com Wulff nesse ponto; agora o citou duas vezes em apenas quatro dias. A primeira foi durante a visita a Berlim do primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoğlu, nesta segunda-feira (12/01). Em seguida choveram críticas, da própria CDU, da irmã União Social Cristã (CSU), do American Jewish Congress, e muitos de seus eleitores tampouco estão convencidos. Apesar disso, ela repetiu a citação completa durante seu discurso no parlamento.

Prova nº 3: Sem rodeios, Merkel adota uma posição clara contra as manifestações anti-islâmicas do movimento Pegida (sigla alemã para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente"). Ela escolhe palavras emocionais, fala do ódio e frieza que vê nos corações de alguns. Uma vez que não se sabe até que ponto a maioria silenciosa apoia essas passeatas, também aqui a premiê arrisca perder votos.

Prova em contrário? Diz-se da chefe de governo alemã que ela governa ouvindo as pesquisas de opinião, seguindo o estado de espírito reinante entre a população. Suas aparições públicas, seus discursos, seus gestos dos últimos 14 dias parecem, à primeira vista, falar uma outra linguagem.

Na verdade, porém, Merkel compreende o que começou nas últimas semanas, fora da Chancelaria Federal: a sociedade alemã se despede do consenso aparentemente confortável. Ela se reideologiza, vai às ruas, às dezenas de milhares, toma posições – mesmo que, em parte, grosseiras – e espera o mesmo de seus dirigentes.

Merkel reivindicou uma retomada dos valores democráticos em seu discurso. Democracia, contudo, também significa conflito, travado com argumentos. Para isso, todos, também a chefe de governo, precisam abandonar a própria zona de conforto. O processo começou.

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