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ReligiãoVaticano

Aos 85, Francisco representa uma imagem diferente da Igreja

17 de dezembro de 2021

Papa, que faz aniversário hoje, gostaria de transformar a Igreja Católica mais do que ela pode ser transformada. Seu pontificado é grandioso, mas difícil. E o tempo dele está se esgotando, opina Christoph Strack.

Papa Francisco representa um pontificado grandioso, difícil e estranho, em uma Igreja estruturalmente adoentadaFoto: Reuters/Y. Nardi

Ele já chegou a uma idade que a maioria dos papas não conseguiu atingir. Francisco, que dirige a Igreja Católica desde março de 2013, completa 85 anos nesta sexta-feira (17/12).

Ainda assim, continua a elaborar planos de viagens e tenta colocar a Igreja no caminho da reforma interna e renovação, algo que poderá levar anos ou até décadas. Tudo ainda em estágio inicial.

Mas o que isso significa? O tema prevalecente neste pontificado continua sendo o combate ao escândalo global de violência sexual contra menores cometida por membros do clero. Isso caminha lado a lado com a perda de credibilidade em uma instituição construída sobre os alicerces da fé e da confiança.

Logo de início, Francisco pregou um iluminismo impiedoso e prometeu "tolerância zero". Mas não é incomum que suas palavras sejam mais fortes que seus atos. Isso é parte de um sistema onde o papa, como principal acusador e juiz, pode ser um controlador, um exemplo a ser seguido, um chefe e um confidente, tudo ao mesmo tempo. E, por vezes, pode se ver também como um gestor da insolvência clerical.

Ocasionalmente subversivo

Francisco, na verdade, sempre criticou a arrogância patriarcal e a presunção de poder do clero. Suas ações, às vezes, parecem uma caricatura da própria Igreja. Um papa, se a Igreja tiver sorte, deve ser uma figura profética. Mas esse papa pode ser muito mais que isso.

Em muitos de seus discursos, pode-se pensar: "Agora sim ele está agindo". Mas depois que se percebe sua intenção: "Espera um pouco". Isso não é suficiente. É muito pouco.

Em meio a isso tudo, Francisco está na linha de frente e nos meandros de uma estrutura que se encontra imersa em crise. Isso se aplica, inclusive, ao conselho de cardeais que escolherá seu sucessor em um dado momento. Uma olhada nos três cardeais alemães, que estão entre os 120 membros do conselho, diz muita coisa.

O primeiro, o cardeal Marx (68 anos) de Munique, surpreendeu ao oferecer ao papa em maio um pedido de renúncia, e vem acumulando problemas desde então. Outro, o cardeal Woelki (65), é tão controverso que em sua arquidiocese em Colônia os católicos fogem em bandos, e o papa ordenou que ele se afastasse. O terceiro, o cardeal Müller (73), se perdeu em conspirações de estilo americano, no populismo e no ódio ao papa. Em certos círculos, alguns falam na volta do sistema feudal e desprezam questões em torno dos direitos fundamentais.

É claro que Francisco soa diferente disso tudo em seus discursos – quase o oposto e, às vezes, subversivo. Ele praticamente encoraja as católicas e católicos a avançarem em direção aos fundamentos da Igreja. E, ao mesmo tempo, ele sempre nos lembra que a Igreja não é uma democracia.

O pastor do mundo

Francisco tem seus momentos mais fortes em sua atenção direta às pessoas, especialmente aos mais vulneráveis. Ele busca lhes dar um rosto e dignidade – migrantes, refugiados, sem-teto, marginalizados e pessoas com deficiência física ou mental. Ninguém consegue ser indiferente a esse homem, que denuncia repetidamente a "globalização da indiferença".

Isso é mais do que um protesto contra falsos valores. Francisco representa uma imagem diferente da Igreja.

Uma imagem icônica do papa continua sendo a de sua súplica contra a pandemia de covid-19. Em março de 2020, Francisco, na praça São Pedro vazia, à noite – essa era a luta de suas preces junto a seu Deus, uma imagem de Jó em sua angústia e solidão. Francisco, o pastor do mundo.

Nada disso, porém, pode esconder o fato de que o tempo se esgota para o papa. Seu antecessor, o papa Bento 16, agora com 94 anos, se aposentou aos 85 anos de idade.

E Francisco? Em meados de 2021, ele teve que ser submetido a uma cirurgia. Somente semanas mais tarde mencionou o quão grave tinha sido a operação. O argentino até usou seu típico tom sério mas, ao mesmo tempo, sereno, ao contar o ocorrido.

Francisco representa um pontificado grandioso, difícil e estranho, em uma Igreja estruturalmente adoentada.

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O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.