Apesar da participação recorde, o resultado da votação não dá uma saída à crise, como esperava Madri. Mariano Rajoy deve começar a considerar a convocação de novas eleições no país, opina o jornalista Gabriel González.
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É difícil imaginar eleições mais estranhas na União Europeia que estas regionais na Catalunha. Vários candidatos se encontram atualmente sob custódia no exílio, devido a seus esforços inconstitucionais de secessão na Catalunha. Oriol Junqueras, presidente e principal candidato do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), deu entrevistas telefônicas de seu cárcere perto de Madri, e o chefe de governo destituído da Catalunha, Carles Puigdemont, se dirigiu a seus seguidores por uma mensagem em vídeo desde o exílio em Bruxelas.
A essas peculiaridades nunca vistas em eleições na Europa se soma o fato de que as eleições não foram acordadas pelo Parlamento catalão, e sim impostas pelo governo do premiê Mariano Rajoy. A estas alturas, já é possível constatar que o plano de Rajoy não deu certo, e que a Catalunha se encontra praticamente na mesma situação em que estava antes da aplicação do artigo 155 da Constituição, que resultou na destituição do governo independentista catalão.
O presidente do conservador Partido Popular e presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, fracassou de forma retumbante na gestão dessa crise e com seu plano de uma "restauração da democracia e da normalidade", através destas eleições. Os eleitores da Catalunha não castigaram os partidos que apoiam a independência, tal como se esperava em Madri. O êxito do partido Ciudadanos e de sua candidata principal, Inés Arrimadas, é impressionante, mas não esconde que os partidos que rejeitam o movimento independentista não alcançam uma maioria na sociedade catalã.
O governo espanhol declarou que manterá a aplicação do artigo 155 da Constituição até que o novo Parlamento catalão escolha o novo chefe de governo regional. O nome deste novo governante facilmente poderia ser Carles Puigdemont, contra quem existe uma ordem de prisão na Espanha.
A situação é simplesmente grotesca, longe de uma possível solução. Rajoy se encontra em uma situação muito debilitada, ante uma possível aliança independentista fortalecida e legitimada pelas eleições na Catalunha. A Rajoy só resta fortalecer sua própria posição, convocando eleições gerais na Espanha e buscar apoio na sociedade espanhola para seu curso, pouco empático e carente de originalidade e da sensibilidade necessária para enfrentar a maior crise do Estado espanhol pós-franquista.
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Breve história da Catalunha
Desejo de independência da Espanha é acalentado pelos catalães há muito tempo. Ao longo dos séculos, região experimentou vários graus de autonomia e repressão.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/F. Seco
Antiguidade rica
A Catalunha foi habitada por fenícios, etruscos e gregos, que estiveram nas áreas costeiras de Rosas e Ampúrias (acima). Depois vieram os romanos, que construíram mais assentamentos e infraestrutura. A Catalunha foi uma parte do Império Romano até ser conquistada pelos visigodos, no século 5.
Foto: Caos30
Condados e independência
A Catalunha foi conquistada pelos árabes no ano 711. O rei franco Carlos Magno interrompeu o avanço deles em Tours, no rio Loire, e em 759 o norte da Catalunha se tornou novamente cristão. Em 1137, os condados que compunham a Catalunha iniciaram uma aliança com a Coroa de Aragão.
Foto: picture-alliance/Prisma Archiv
Guerra e perda de território
No século 13, as instituições de autoadministração catalã foram criadas sob o nome Generalitat de Catalunya. Depois da unificação da Coroa de Aragão com a de Castela, em 1476, Aragão pôde manter suas instituições autônomas. No entanto, a revolta catalã – de 1640 a 1659 – fez com que partes da Catalunha fossem cedidas à atual França.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Lembrando a derrota
No final da Guerra da Sucessão, Barcelona foi tomada, em 11 de setembro de 1714, pelo rei espanhol Felipe 5°, as instâncias catalãs foram dissolvidas e a autoadministração chegou ao fim. Todos os anos, em 11 de setembro, os catalães fazem uma grande comemoração para lembrar o fim do seu direito à autonomia.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
República passageira
Após a abdicação do rei Amadeo 1°, da Espanha, a primeira república espanhola foi declarada em fevereiro de 1873. Ela durou apenas um ano. Os partidários da república estavam divididos, com um grupo apoiando uma república centralizada e outros, um sistema federal. A foto mostra Francisco Pi y Maragall, um partidário do federalismo e um dos cinco presidentes da república de curta duração.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Tentativa fracassada
A Catalunha tentou estabelecer um novo Estado dentro da república espanhola, mas isso apenas exacerbou as diferenças entre os republicanos e os enfraqueceu. Em 1874, a monarquia e a Casa de Bourbon, liderada pelo rei Afonso 12 (foto), retomaram o poder.
Foto: picture-alliance/Quagga Illustrations
Direitos de autonomia
Entre 1923 e 1930, o general Primo de Rivera liderou uma ditadura – com o apoio da monarquia, do Exército e da Igreja. A Catalunha se tornou um centro de oposição e resistência. Após o fim do regime, o político Francesc Macia (foto) conseguiu impor direitos importantes de autonomia para a Catalunha.
Fim da liberdade
Na Segunda República Espanhola, os legisladores catalães trabalharam no Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol em 1932. Francesc Macia foi eleito presidente da Generalitat de Catalunha pelo Parlamento catalão. No entanto, a vitória de Franco no fim da Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) acabou com tudo isso.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Opressão
O ditador Francisco Franco governou com mão de ferro. Partidos políticos foram proibidos, e a língua e a cultura catalãs, reprimidas.
Foto: picture alliance/AP Photo
Novo estatuto de autonomia
Após as primeiras eleições parlamentares que se seguiram ao fim da ditadura de Franco, a Generalitat da Catalunha foi provisoriamente restaurada. Sob a Constituição democrática espanhola de 1978, a Catalunha recebeu um novo estatuto de autonomia, apenas um ano depois.
O novo estatuto de autonomia reconheceu a autonomia da Catalunha e a importância da língua catalã. Em comparação com o estatuto de 1932, ele apresentou avanços nos campos da cultura e educação, mas restrições no âmbito da Justiça. A foto é de Jordi Pujol, que foi por longo tempo chefe de governo da Catalunha depois da ditadura.
Foto: Jose Gayarre
Anseio por independência
O desejo por independência da Espanha se tornou mais forte nos últimos anos. Em 2006, a Catalunha recebeu um novo estatuto, que ampliou ainda mais os poderes do governo catalão. No entanto, eles são perdidos após uma queixa levada pelo conservador Partido Popular ao Tribunal Constitucional espanhol.
Foto: Reuters/A.Gea
Primeiro referendo
Um referendo sobre a independência estava previsto para 9 de novembro de 2014. A primeira questão era "você quer que a Catalunha se torne um Estado?" No caso de uma resposta afirmativa, a segunda pergunta era "você quer que esse Estado seja independente?" No entanto, o Tribunal Constitucional suspendeu a votação.
Foto: Reuters/G. Nacarino
Luta de titãs
Desde janeiro de 2016, Carles Puigdemont é o presidente do governo catalão. Ele deu continuidade ao curso separatista de seu antecessor, Artur Mas, e convocou um novo referendo para 1° de outubro de 2017. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a consulta é inconstitucional.