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Apagão na Liga das Nações abala fama do futebol alemão

Michael da Silva
18 de novembro de 2020

Com a derrota de 6 a 0 para a Espanha, Löw chega ao fundo do poço. Mas ele continuará técnico da Alemanha até a Eurocopa de 2021, embora todos, exceto ele, saibam que sua época já passou, opina Michael da Silva.

Joachim Löw
Joachim Löw: de herói da Copa de 2014 a técnico que vive de memórias Foto: Fran Santiago/Getty Images

É difícil dizer quem é a figura mais trágica neste momento. Por um lado, você tem Joachim Löw, o outrora reverenciado treinador que certa vez levou a Alemanha ao prêmio máximo do futebol mas perdeu totalmente o controle dos problemas no gramado. Do outro, está a Federação Alemã de Futebol (DFB), que teve chance de demitir Löw em 2018, mas não o fez.

Os dois protagonistas da DFB são Oliver Bierhoff e Fritz Keller, este presidente desde 2019 e que agora enfrenta a maior crise de sua gestão provocada por Löw, seu amigo de longa data. Bierhoff, em seu cargo de diretor da seleção nacional por quase três anos e parte integrante da decadência da equipe, adora falar sobre um novo acordo de patrocínio ou o próximo centro de treinamento da seleção alemã em Frankfurt – "o Vale do Silício dos técnicos de futebol", segundo suas palavras.

Infelizmente para a nação que ele representou com tanta distinção em campo, Bierhoff agora não tem a coragem ou a compreensão de sua própria responsabilidade frente ao futebol alemão para lidar com a grande crise existente bem debaixo de seu nariz.

Löw, Bierhoff e Keller estão dilacerando a seleção alemã e transformando uma outrora orgulhosa equipe em um embaraço nacional, comparado apenas com o novo aeroporto de Berlim.

A derrota covarde por 6 a 0 de terça-feira não foi infligida por uma seleção espanhola de classe. A equipe de Luis Enrique tinha marcado apenas três gols nos últimos cinco jogos. Para Löw e a Alemanha, porém, nunca deveria ter chegado a esse ponto. O auge de Löw como técnico da Alemanha veio em uma noite brilhante no Rio em 2014, mas o brilho vem sendo removido a cada dia que passa.

Com Hansi Flick, o agora bem-sucedido treinador do Bayern de Munique, ao seu lado, a Alemanha de Löw conquistou tudo que veio pela frente. Uma vitória icônica por 7 a 1 sobre o Brasil e aquele gol de Mario Götze vão viver por muito tempo na memória – mas as memórias são tudo que Löw deixou. Elas são tudo o que ele teve por muito tempo.

Grande contrato, grande fracasso

Havia sinais de que as rodas estavam se soltando já em 2016. Mas se Löw não queria partir no auge, ele deveria ter tido a decência de sair no seu ocaso. A Copa do Mundo de 2018 foi um desastre absoluto para a Alemanha. Estimulado por um enorme contrato concedido a ele pouco antes da Copa pelo então presidente da DFB, Reinhard Grindel, Löw decidiu deixar Leroy Sane de fora de sua seleção para o Mundial. Decisão que na época era questionável, mas logo se revelou louca.

Não foi apenas a natureza insípida da campanha da Alemanha na Copa de 2018, mas as consequências subsequentes que mostraram que Löw havia perdido o controle. Mesut Özil deixou a seleção nacional após alegações de racismo e acabou se tornando bode expiatório para o desastre na Rússia, antes que Thomas Müller, Jerome Boateng e Mats Hummels fossem eliminados da seleção sem motivo aparente. Pelo menos dois dos três passaram a jogar o melhor futebol de suas carreiras nos últimos dois anos.

Morte lenta da Alemanha

O que se seguiu nos dois anos desde a Rússia 2018 foi a morte lenta de qualquer orgulho ou esperança que os alemães tenham em sua seleção. Em campo, falta-lhes a imaginação e as qualidades ofensivas de um Müller, e há uma sangria de gols que poderia ser estancada por um Boateng ou um Hummels. Löw não está apenas enchendo os bolsos com 5 milhões de dólares por ano, mas também carece de humildade para reconhecer seus próprios erros – e tem havido muitos – ou da decência para demitir-se de um emprego ao qual não mais se adequa.

Se Löw não tiver a decência necessária, então certamente Keller e Bierhoff intervirão e farão a coisa certa? Sem chance. Löw continuará sendo o técnico da Alemanha até o Campeonato Europeu de 2021, embora todos, exceto ele, saibam que sua época já passou. Seus jogadores sabem, o público alemão sabe, Michael Ballack sabe, os jornalistas sabem, a DFB sabe.

Keller e Bierhoff ainda podem puxar o gatilho, mesmo que Löw não faça isso ele mesmo. Mas não prenda a respiração – Löw não vai a lugar nenhum. A única pergunta que falta responder é: qual o tamanho da vergonha que o outrora grande "Jogi" ainda trará para a reputação futebolística da Alemanha daqui para frente?

Michael da Silva é jornalista de esporte da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.

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