Nova resolução
23 de janeiro de 2008Anúncio
"Apelamos mais uma vez conjuntamente com toda a veemência à liderança política em Teerã que cumpra sem restrições as exigências do Conselho de Segurança e da AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica]", disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, após o encontro de duas horas em Berlim [na noite de terça-feira, 22/01]. "E digo ainda: está nas mãos de Teerã buscar o caminho da cooperação e do equilíbrio. Aqui ninguém é a favor de uma confrontação; queremos uma solução pacífica." A ameaça dos ministros do Exterior parece o rugido de um leão desdentado. Há muito que se sabe também em Teerã que a harmonia demonstrada em Berlim não tem uma base sólida. Claro que todas as potências envolvidas concordam em que o Irã precisa ser impedido a todo custo de chegar a possuir armas nucleares. "Somos unânimes quanto à avaliação de que o armamento nuclear do Irã teria conseqüências dramáticas", afirmou Steinmeier. Mas, como se sabe, o problema são os detalhes. Primeiramente é preciso constatar que a posição das potências com direito a veto e da Alemanha perante o Irã ficou muito debilitada com o relatório dos serviços secretos norte-americanos publicado em dezembro. Constata-se ali que Teerã já tinha suspendido seu programa de armas nucleares em 2003. Haveria o perigo de uma retomada, mas mesmo assim o país precisaria ainda de anos para poder construir uma bomba atômica. Além disso, Teerã combinou com a Agência Internacional de Energia Atômica esclarecer até meados de março todas as questões ainda em aberto. Numa situação como essa, medidas acirradas parecem ser cada vez menos plausíveis. Assim mesmo, os Estados Unidos, o Reino Unido, e mais recentemente também a França, fazem pressão no sentido de sanções mais severas. Não rejeitam nem mesmo a opção de um ataque militar. A Alemanha tende mais para uma solução do conflito por meio de negociações. O fato de o ministro Steinmeier ter se distanciado dessa posição básica, de umas semanas para cá, e de ter organizado às pressas – talvez até precipitadamente – o encontro em Berlim pode ter outros motivos, à parte do conflito com o Irã por causa de seu programa nuclear. A Rússia e a China pelo menos sempre se pornunciaram até agora contra novas sanções. Não é evidente que haja um motivo conclusivo para uma mudança de rumo. Os dois países têm enormes interesses econômicos no Irã. A Rússia é seu maior fornecedor de armas, está construindo a primeira usina atômica e fornece também o combustível nuclear necessário. A China depende do petróelo e do gás iranianos e está prestes a conquistar o mercado daquele país. A fim de conciliar as posições divergentes das seis potências, chegou-se em Berlim – de acordo com círculos diplomáticos – a um consenso quanto ao conceito do "endurecimento moderado" das sanções existentes. Independentemente do que isso queira dizer, seria ingênuo acreditar que os islamistas do governo em Teerã se deixarão intimidar por isso. Imediatamente antes do encontro dos seis em Berlim o porta-voz do governo iraniano, Gholam-Hossein Elham, declarou que a nação iraniana se manterá firme em relação a suas metas nucleares, movimentando-se neste contexto dentro de um "âmbito legal e legítimo". Mesmo uma nova resolução da ONU não mudaria esses empenhos.
Esta declaração poderia ser interpretada como uma reação de birra, mas também como um sinal de que os islamistas não temem as sanções porque estas não têm um efeito incisivo. É a esta conclusão que chega também o GAO, o Escritório de Supervisão do Governo no Congresso norte-americano. Apesar de todas as medidas repressivas, Teerã assinou, de 2003 para cá, contratos no valor de 20 bilhões de dólares para a exploração de suas matérias-primas, consta do relatório apresentado pelo GAO em meados deste mês. "As relações comerciais globais do Irã e sua posição de liderança na produção de energia tornam difícil aos Estados Unidos isolar o país e exercer pressão sobre ele."
E, mesmo que as sanções afetassem sensivelmente a economia do país e originassem uma crise, todo mundo que conhece o caráter do regime iraniano sabe que as sanções dificultam a vida da população mas não leveriam o regime a ceder. Pelo contrário, o regime vive de crises permanentes e se utiliza delas para desviar a atenção de sua própria incapacidade, para agravar a repressão contra os críticos e para mobilizar seus adeptos contra inimigos e pretensos inimigos. Vistas sob este prisma, medidas mais rigorosas, desde que se chegue a um consenso a esse respeito, poderiam ter um efeito diferente do desejado. (lk) Bahman Nirumand, nascido em Teerã em 1936, vive há décadas na Alemanha, onde trabalha como escritor, jornalista e tradutor.Anúncio