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As mentiras do ex-chefão da Volks

16 de abril de 2019

Denúncia contra Martin Winterkorn é mais um passo no processo legal das fraudes nas emissões de motores a diesel da montadora. É hora de ele finalmente começar a falar a verdade, opina Henrik Böhme.

Até agora, tática de "eu não sabia de nada" ajudou Winterkorn a se livrar de processosFoto: Getty Images/S. Gallup

Era só uma questão de tempo. Na Volkswagen, eles podem falar o quanto quiserem sobre o futuro elétrico e que agora tudo vai melhorar: tão cedo eles não vão se livrar do seu passado.

Devido às proporções gigantescas da fraude com os carros a diesel, os promotores de Braunschweig, com seu escasso quadro de pessoal, precisaram de muito tempo para processar as enormes pilhas de arquivos.

Mas agora a promotoria pública apresentou a denúncia contra Martin Winterkorn, que era o presidente da Volkswagen até a eclosão do escândalo de fraude nas emissões de motores a diesel, em setembro 2015. E contra outras quatro pessoas, presumivelmente do entorno imediato do ex-chefe da montadora – os nomes ainda não foram divulgados.

As acusações contra Winterkorn são pesadas: fraude em caso de particular gravidade, violação da lei contra a concorrência desleal, abuso de confiança, evasão fiscal e falsa certificação.

Para os advogados de Winterkorn, não vai faltar trabalho, e eles terão que lutar simultaneamente em várias frentes: pois nos EUA, ele já é procurado sob ordem de prisão há um ano, e também a SEC, agência reguladora do mercado de capitais nos Estados Unidos, apresentou queixa contra Winterkorn e a Volks um mês atrás, por acreditar que eles teriam enganado os investidores.

Com isso, os longos braços da Justiça finalmente alcançam a Volkswagen na Alemanha. Embora não se esperem penalidades como as dos EUA (onde a empresa já pagou 30 bilhões de dólares), o processo judicial é um fardo pesado para a reputação da empresa. Pois sempre que as horríveis manchetes aparecerem, os potenciais compradores de carros dirão: é verdade, eles foram os fraudadores!

E não se trata apenas do caso Winterkorn. Há ainda os outros quatro acusados. E isso é só o começo. No total, 36 pessoas estão sendo investigadas em Braunschweig, por várias acusações, inclusive o ex-diretor financeiro do grupo Hans Dieter Pötsch (que hoje é chefe do conselho de administração!). E o atual presidente da Volkswagen, Herbert Diess, também está na mira dos investigadores.

Além disso, investidores estão reivindicando bilhões em reparações numa queixa conjunta, e milhares de proprietários de carros a diesel também querem rever seu dinheiro.

Assim é, portanto, a largada da Volks na corrida pelo futuro do automóvel: interrompida por irritantes audiências judiciais! Será interessante ver como o aposentado mais bem pago da Alemanha (Winterkorn tem uma aposentadoria de 3.100 euros – por dia) vai se comportar no tribunal. Será que ele vai ser sensato e admitir a sua culpa, ou usar a estratégia do "eu não sabia de nada"? Pelo menos até agora ele conseguiu se safar com essa tática.

Logo ele, que em cada salão do automóvel resmungava quando os carros da concorrência não tinham defeitos. Logo ele, que conhecia o espaçamento de cada folga nos veículos. Logo ele, que dizia entender de correlações físicas – e mesmo assim não ficava surpreso por seus motores a diesel poluírem tão pouco. 

Se Martin Winterkorn ainda quiser salvar algo na sua biografia, que comece finalmente a falar a verdade.

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