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Mumbai

27 de novembro de 2008

Uma série de atentados deixou Mumbai paralisada. A sensação de insegurança na cidade é comparável ao que ocorreu depois do 11 de setembro, comenta Thomas Bärthlein.

De certa forma, as grandes cidades da Índia tiveram, infelizmente, que se acostumar ao terrorismo nos últimos anos. E se durante muito tempo o hábito era apontar para o vizinho Paquistão cada vez que ocorria algum atentado na Índia, hoje já se sabe que há diferentes grupos de terroristas indianos que agem a partir de uma motivação relacionada à política interna: são muçulmanos indianos que se radicalizaram em função da discriminação e da perseguição comandada por políticos hindus contra seu grupo religioso; todo tipo de grupos separatistas, desde a região da Caxemira até o nordeste do país; e, por fim, nas últimas semanas foram detidos no país também supostos terroristas hindus que teriam, por sua vez, atacado alvos muçulmanos. Até mesmo um oficial das Forças Armadas na ativa estava entre eles.

Mas o modelo destes últimos ataques é outro. Ataques coordenados a uma série de "alvos suaves" [soft targets] – isso lembra a Al Qaeda. O simples esforço necessário para atacar de forma coordenada tantos locais e envolvendo tantos terroristas deve ir além da capacidade de grupos que agem em nível local ou nacional. E também a aparente escolha consciente de reféns norte-americanos, britânicos e israelenses combina com os objetivos dos terroristas internacionais.

O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, indicou numa primeira reação aos atentados que o grupo que está por trás desses ataques opera a partir de uma "base no exterior". Mesmo que ele não tenha citado diretamente o Paquistão, é provável que essa série de atentados leve a novas tensões entre a Índia e o Paquistão. E isso deve ter sido o propósito dos mentores dos ataques.

Despertam lembranças de 2001, quando, poucos meses depois do 11 de setembro, terroristas atacaram o Parlamento indiano. A Índia culpou o Paquistão e mobilizou tropas na fronteira. Durante meses a fio, a situação foi se agravando. Em determinado momento, aventava-se até mesmo a possibilidade de uma guerra nuclear entre os dois vizinhos do Sul da Ásia.

Nesse meio-tempo, a Al Qaeda e o Talibã aproveitaram que as Forças Armadas paquistanesas estavam ocupadas nas fronteiras orientais do país e, após terem sido forçados pela invasão norte-americana a deixar o Afeganistão, instalaram-se em territórios paquistaneses próximos à fronteira.

Hoje, a Al Qaeda está sob pressão, exatamente nesta região, porque as forças militares paquistanesas iniciaram operações ao longo da fronteira do país com o Afeganistão e os Estados Unidos iniciaram ataques aéreos a partir de território afegão.

A rede terrorista tem um interesse primordial em que as relações entre a Índia e o Paquistão sejam as piores possíveis e em desviar a atenção das Forças Armadas paquistanesas.

Os efeitos da violência em Mumbai devem, desta forma, ir muito além da Índia. Eles vão afetar toda a região e serão, além disso, o primeiro desafio a ser enfrentado pelo recém-eleito presidente norte-americano, Barack Obama, que já afirmou ter vários propósitos em relação ao Afeganistão e ao Paquistão. Para isso, ele terá que mostrar que tem bastante tato. (sv)

Thomas Bärthlein é editor dos programas da redação Ásia Sul da Deutsche Welle.

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