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PolíticaBelarus

Belarus, é agora ou nunca

Kommentarbild Olga Kapustina PROVISORISCH
Olga Kapustina
14 de agosto de 2020

Não é a primeira vez que há protestos em Belarus contra o autoritário presidente Alexander Lukashenko, mas pela primeira vez a maioria está contra ele. Do sangue, da dor e da solidariedade, surge uma nova nação.

Protesto em Minsk contra vitória de Lukashenko na eleição presidencialFoto: Reuters/V. Fedosenko

Sim, eu votei em Alexander Lukashenko. Era o ano de 1994, eu tinha nove anos. Minha avó me deu uma caneta e me mostrou onde eu deveria assinalar. Foi uma honra para mim. Ela acreditava fortemente que esse homem – que, em comparação com os velhos governantes soviéticos, parecia tão vivo e próximo do povo – faria avançar nossa jovem República de Belarus. O que minha avó diria se visse no que Belarus se transformou 26 anos depois?

Policiais fortemente armados espancam um homem deitado no chão com bastões. "Vida longa...", grita ele. Um policial chuta seu rosto, barriga, costas. O homem no chão se contorce de dor e chora. Eu choro junto.

Ao mesmo tempo, fico entusiasmada e orgulhosa quando vejo cidadãos formando quilômetros de correntes humanas. Músicos cantando contra a fraude eleitoral. Médicos segurando cartazes com as palavras: "Parem com a violência." Todos eles arriscam ser presos, assim como foram mais de 6 mil pessoas desde o início dos protestos na noite das eleições, em 9 de agosto. Desde que a internet voltou a ficar disponível na quarta-feira, todos em Belarus podem ver online as imagens de tortura e violência.

As pessoas se deitam juntas no chão de concreto do pátio de uma prisão em Minsk. "Eles estão sendo espancados e torturados", diz a mulher por trás da câmera. Ela filma a partir da sua casa, em frente à prisão. A mão que segura o smartphone treme, assim como sua voz. Alguém por favor pode me acordar e dizer que tudo isso não passa de um pesadelo?

A eleição em Belarus lembra um thriller político: uma dona de casa chamada Svetlana Tikhanovskaya surpreendentemente passa a ser a oponente do longevo presidente autoritário. Na verdade, isso não está nos planos dela. Mas seu marido, um blogueiro que quer se candidatar à eleição, é preso. Ela se candidata porque quer libertá-lo. E de repente se torna um símbolo de protesto. Ela se supera, reúne milhares de pessoas em todo o país, encontra as palavras certas: "Se você nos ama, deixe-nos ir!"

O povo de Belarus sabe: é agora ou nunca! Do sangue, da dor e da solidariedade, surge uma nova nação. As pessoas superaram o medo e reconquistaram sua dignidade. Ou o povo consegue se livrar da ditadura ou os protestos são esmagados – como ocorreu em 2001, 2006 e 2010. Só que desta vez haveria mais derramamento de sangue, mais vítimas. Porque agora a maioria no país está de fato contra Lukashenko. Para mantê-la sob controle, Belarus teria que ser transformada num campo de prisioneiros no meio da Europa.

Todos os dias recebo mensagens de amigos em casa: "A sensação é a mesma de um estupro", "Estou com um nó na garganta", "Nunca mais será como antes" e "Onde está a União Europeia?" .

Berlim fica a apenas cerca de 1.000 quilômetros de Minsk. Não é suficiente expressar profunda preocupação ou mostrar disposição para avaliar sanções. A Alemanha e a UE precisam urgentemente fazer mais para parar o derramamento de sangue em Belarus.

Numa entrevista publicada três dias antes das eleições, Lukashenko expressou seu respeito por Angela Merkel. Ele disse que a chanceler federal alemã é "determinada e trabalhadora", além de ser a única política do Ocidente que lhe havia pedido que libertasse prisioneiros políticos. De fato, todos os presos políticos foram libertados em 2015 – e pouco depois as sanções contra Lukashenko foram retiradas.

Outro dia falei com meu filho de seis anos sobre as eleições em Belarus. Ele perguntou se o homem de bigode ou a mulher de cabelos escuros havia ganhado. "O homem com bigode, mas ele trapaceou", disse eu. "Ele não pode fazer isso, temos que dizer isso para ele. Podemos telefonar para ele? Você tem o número dele, mãe?", perguntou. "Não, eu não o tenho", respondi. Sra. Merkel, você ainda tem o número dele?
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Olga Kapustina nasceu em Belarus em 1985 e vide desde 2008 na Alemanha. Ela trabalha como jornalista para a redação russa da DW.

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