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Biden só é boa opção como antídoto a Trump

Ines Pohl
Ines Pohl
25 de abril de 2023

Por seus diversos êxitos, em parte surpreendentes, o democrata fez por merecer a presidência dos EUA. Mas a questão é se conseguirá se impor na eleição contra os candidatos da nova geração republicana, opina Ines Pohl.

Apoio generoso à Ucrânia confirma Joe Biden como último dos "grandes transatlânticos"Foto: Leon Neal/Getty Images

Os presidentes americanos gostam de se ver como "os homens mais poderosos do mundo" (até o momento não houve nenhuma mulher). Mas – para além da questão de se, na competição com a China, os Estados Unidos ainda são realmente a nação mais influente do planeta – o poder do chefe da Casa Branca dentro de seu próprio país é bastante restrito.

No sistema bipartidário, para alcançar êxitos políticos duradouros, o chefe de Estado precisa encontrar meios de negociar consensos com a oposição. Só assim se consegue aprovar leis: caso contrário, ele até pode assinar um monte decretos, mas seu sucessor também poderá anulá-los com uma canetada só. Como aconteceu com Acordo do Clima de Paris sob o antecessor de Joe Biden, Donald Trump.

No contexto destrutivo do clima básico atual, o primeiro mandato de Joe Biden foi uma história de sucesso do ponto de vista político. Embora para a ala de esquerda progressista do Partido Democrata, haja muito que não foi longe o suficiente, ele fez passar projetos importantes de infraestrutura, de que o país ainda se beneficiará por décadas.

Sob o rótulo do combate à inflação, Biden fez aprovar um incentivo à economia com traços protecionistas, não muito diferente da doutrina "America first" de Trump. Os medicamentos também ficaram mais baratos para milhões de americanas e americanos.

Ele também conseguiu impor sua linha na política externa: o volumoso apoio financeiro à Ucrânia, dos cofres americanos, é também mérito do democrata. Desde o começo da guerra, os EUA investiram 71 bilhões de dólares na luta contra a agressora Rússia.

Como demonstra seu decidido engajamento pelo país sob ataque e pela Otan, Joe Biden é um dos últimos "grandes transatlânticos". Portanto sua eleição seria uma boa notícia para a Alemanha, a Europa e toda a aliança ocidental, ainda mais em tempos de guerra em solo europeu.

Kamala Harris, uma vice fraca

Mas, aos 80 anos de idade, já sendo o chefe de Estado mais idoso da história americana, ele conseguirá mais uma vez, ainda mais tendo a seu lado a vice Kamala Harris? Caso Biden falte, a pouco apreciada democrata teria que assumir no lugar dele. Nas próximas presidenciais, portanto, a decisão é também sobre ela como eventual presidente substituta.

A crer nas pesquisas de opinião mais recentes, Biden só tem uma chance real se Donald Trump vencer as primárias republicanas e for seu oponente em novembro de 2024. Como no pleito anterior, para grande parte do eleitorado americano, o democrata, com sua confiabilidade e experiência, representa o menor dos males.

Embora no momento Trump lidere diversas consultas da ala republicana, sua candidatura está longe de assegurada. Correm contra ele acusações formais e ameaças de processo por fraude, sonegação de impostos e incitação popular. E, em especial nos meios econômicos, há reticência em confiar no homem que, como nenhum outro presidente americano antes dele, levou o país à beira do golpe de Estado.

Outras/os candidatas/os republicanas/os vão se aquecendo para a disputa. A ex-embaixadora nas Nações Unidas Nikki Haley já anunciou sua candidatura. Há o ultraconservador governador da Flórida, Ron DeSantis. E o senador da Carolina do Sul Tim Scott, que me parece ter grandes chances, pelo menos no momento.

É altamente questionável se, numa campanha estafante e em formatos de debate altamente exigentes, o velho, "obsoleto" Biden conseguirá se impor contra essa nova geração.

Tudo, menos Trump

Do ponto de vista dos democratas, é um jogo arriscado apostar no antagonismo de Trump. É bem possível que desta vez o partido perca a Casa Branca por superestimar o republicano.

Não se discute: Joe Biden fez por merecer o cargo. Não só por ter evitado mais um mandato de Trump, mas por, graças a sua experiência, implementar projetos que poderão realmente contribuir para melhorias nos EUA. Sobretudo com seus pacotes de investimentos, ele alcançou mais mudanças do que contavam até mesmo seus próprios correligionários.

Mas a política não é justa. E Biden não seria o primeiro líder de cujos êxitos quem vai tirar proveito político é o seu sucessor. O fato de os democratas apostarem nele para evitar de todo modo a volta de Trump mostra quão grande é o medo que este inspira. Do ponto de vista internacional, é quase de um gesto nobre.

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Ines Pohl é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.