1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião: Boko Haram estará mesmo perto do fim?

Moesch Thomas Kommentarbild App
Thomas Mösch
30 de abril de 2015

Anúncio da libertação de centenas de reféns na Nigéria é bem-vindo. Mas é também suspeita a coincidência entre supostas vitórias militares do governo e eventos políticos, opina Thomas Mösch, chefe da redação hauçá da DW.

Thomas Mösch, chefe da redação hauçá da DW

No momento, tudo indica que um dos mais sanguinários grupos terroristas do mundo esteja à beira da derrota militar, simplesmente travando as últimas batalhas de retirada com os países atingidos, a Nigéria e seus vizinhos Chade, Camarões e Níger. Na verdade, é algo quase inacreditável, depois de seis anos de manobras basicamente fracassadas das Forças Armadas nigerianas.

Entretanto é preciso encarar com ceticismo as notícias de sucesso por parte dos militares nigerianos. Por demasiadas vezes, porta-vozes já anunciaram a vitória sobre o Boko Haram ou a libertação de reféns, sem que nada acontecesse de concreto.

Os acontecimentos das últimas semanas reforçam a suspeita de que o Boko Haram seja, acima de tudo, um fenômeno local inflacionado por interesses políticos. Duas dinâmicas explicam o sucesso dos terroristas nos últimos anos.

Em primeiro lugar, durante anos tanto o Exército da Nigéria e sua liderança quanto o governo em Abuja não levaram a sério o perigo da matança no empobrecido nordeste. Por isso, desviaram para outros canais as verbas bilionárias destinadas às forças de combate – à custa dos soldados rasos e de centenas de milhares de cidadãos que perderam a vida, a saúde ou o local de morada.

A elite política e militar só passou a agir quando reconheceu que um fracasso diante do Boko Haram colocaria em perigo sua reeleição e, assim, o acesso às riquezas do país. A rigor, já passava da hora para tal iniciativa, e por isso o pleito teve que ser adiado.

Em apenas seis semanas, as Forças Armadas dos países atingidos forçaram os terroristas a recuarem, ao ponto de não conseguirem perturbar seriamente as eleições nem mesmo em sua região de origem. Tarde demais, pois mesmo assim os eleitores optaram pela oposição.

Em segundo lugar, a súbita vulnerabilidade do grupo terrorista – tão temido até há pouco – indica que seus recursos estão se esgotando. O Boko Haram não foi capaz de financiar seus ultramodernos armamentos apenas com o saque de filiais bancárias nos territórios ocupados ou com das quantias de resgate de ocasionais sequestros.

Até o momento, não há provas conclusivas de contribuições financeiras partindo de redes internacionais. A maior parte do apoio ao Boko Haram deve ter vindo da própria Nigéria. No passado, por diversas vezes as elites nigerianas instrumentalizaram e armaram grupos militantes a fim de impor os próprios interesses hegemônicos – tanto no Delta do Níger como em outras áreas do norte do país.

Não foi mero acaso a coincidência cronológica entre a ascensão do Boko Haram a exército terrorista capaz de abalar todo o país, e a posse de Goodluck Jonathan como chefe de Estado, em 2010. Logo após a morte do presidente muçulmano Umaru Musa Yar'Adua, partes da elite norte-nigeriana já haviam ameaçado tornar o país ingovernável, caso o partido governista PDP apresentasse Jonathan como candidato na campanha eleitoral de 2011.

O passado já mostrou repetidamente que os estrategistas políticos da Nigéria não hesitam em passar por cima milhares de cadáveres quando se trata de defender os próprios interesses. Agora Jonathan perdeu a presidência e quase não se ouve mais falar do Boko Haram. Acaso?

Até agora não há indícios de que o presidente eleito Muhammadu Buhari esteja em conluio com os financiadores do Boko Haram. Ele sempre manteve distância dos corruptos por trás da política norte-nigeriana. Mesmo assim, é possível que esses manipuladores acalentem a esperança de voltar a ter mais influência agora, sob o novo presidente muçulmano, do que sob Jonathan.

É de se duvidar que Buhari tenha poder de desativar as redes que controlam o terror, ou mesmo de expô-las. No melhor dos casos, agora elas se acalmarão, retirando seu apoio dos terroristas. E se algo restar do Boko Haram, serão no máximo pequenas gangues de salteadores arruaceiros, como as que também existem em outras partes da Nigéria.

Pular a seção Mais sobre este assunto