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Opinião: Bombardeio com duplo efeito psicológico

9 de abril de 2017

Com seu ataque aéreo às forças de Assad, os EUA já visam uma época posterior à derrota do EI. Para Damasco e rebeldes, ofensiva deixa antes de tudo uma mensagem psicológica, opina Rainer Hermann, do jornal "FAZ".

Gás tóxico no reduto rebelde de Khan Cheikhoun também fez vítimas infantis
Gás tóxico no reduto rebelde de Khan Cheikhoun também fez vítimas infantisFoto: picture-alliance/ZUMA Wire/Syria Civil Defence

A resposta do regime sírio ao ataque aéreo dos Estados Unidos contra a base de Al-Shairat não se fez esperar: já no sábado (08/04) voltaram a decolar de lá aeronaves militares, para mais uma vez bombardear o reduto rebelde Khan Cheikhoun.

Só que não se tratou de um ataque com gás tóxico, como na última terça-feira. Isso mostra que a operação com mísseis de cruzeiro teve um significado militar apenas mínimo. E é assim que devia ser – afinal Al-Shairat também é uma unidade aérea russa. O ataque americano foi uma medida simbólica a fim de mostrar que os EUA não vão ficar observando inertes todo tipo de atrocidade.

Os 59 artefatos bélicos que atingiram sobretudo a defesa aérea da base não alteram em nada o equilíbrio militar na Síria, nem precipitam o fim da guerra. Mas agora o presidente Bashar al-Assad sabe que o emprego de gases tóxicos, assim como o de bombas de barril, não permanecerá mais impune, e, espera-se, no futuro ele renunciará a utilizá-los. O ataque teve, acima de tudo, efeito psicológico, pois o ditador sírio não deverá se sentir mais tão seguro em sua conduta de guerra e em seu empedernimento político.

Rainer Hermann é redator do jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung"

Nos últimos meses, vinham se acumulando os sinais de que Moscou não tinha seu protegido tão sob controle quanto desejaria. Após o ataque químico em Khan Cheikhoun, percebia-se nas declarações russas até mesmo um certo distanciamento. No meio tempo, a postura russa para fora voltou a ser robusta, como sempre, e internamente Assad compreendeu quanto o seu regime depende da Rússia.

Uma meta comum une por enquanto Moscou e Washington: vencer militarmente os jihadistas do "Estado Islâmico" (EI). A ofensiva aérea americana já lança o olhar para uma época posterior à vitória sobre o EI, pois aí os EUA também querem ter voz ativa na Síria, e vão observando como crescem os conflitos de interesses entre as potências protetoras de Assad.

A Rússia quer atuar no Oriente Médio a partir de uma Síria que também possa ser parceira para os árabes sunitas. O Irã precisa da Síria como elemento importante de seu eixo xiita entre Teerã e Beirute. O Hisbolá libanês quer igualmente travar sua guerra com Israel a partir da Síria – o que não agrada nem a Moscou, nem a Washington.

Para os rebeldes sírios, contudo, as tensões entre os protetores de Assad não implicam uma redução da pressão militar sobre eles, como mostram os repetidos bombardeios sobre Khan Cheikhoun. Eles tampouco devem cultivar esperanças de que os EUA vão se transformar em "sua" Força Aérea.

Ainda assim, a ofensiva militar isolada americana voltou a dar um pouco de alento aos grupos menos radicais entre os rebeldes. Pois, no fim das contas, foram os grupos mais extremistas que se beneficiaram da expulsão dos revoltosos da zona leste da cidade de Aleppo.

No tocante à guerra de desgaste na Síria, nada mudou. No momento, ela prossegue na província de Idlib – por exemplo em Khan Cheikhoun, que esteve entre as primeiras cidades a se levantarem contra o regime Assad. Lá, no entanto, o reforço psicológico não vai durar muito.

 

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