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Opinião: Brexit – só resta a esperança

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
17 de junho de 2016

Agora sob o peso da morte de Jo Cox, referendo pró ou contra UE no Reino Unido se confirma como jogo de emoções irrefletidas. E isso pode resultar no maior erro da história recente, opina a jornalista Barbara Wesel.

Barbara Wesel é jornalista da Deutsche Welle

O assassinato da deputada britânica Jo Cox representa um novo nadir na batalha do "Brexit", como ficou conhecida a eventual saída do Reino Unido da União Europeia, a ser decidida no referendo de 23 de junho.

Mesmo que a conexão entre a morte da jovem parlamentar do Partido Trabalhista e sua luta em prol da permanência de Londres na UE pareça apenas tênue: é o constante gotejamento de ódio contra os políticos, por parte dos defensores do "Leave" – a campanha pela saída do bloco europeu –, que parece dar a indivíduos desequilibrados a licença para matar quem eles são ensinados a desprezar.

Esse homicídio cria mais um extrato na complexa teia de argumentos e emoções que obscurecem a real questão em jogo: a decisão do Reino Unido de ir ou ficar na UE afeta todos os europeus. Um Brexit poderia impulsionar uma derrocada rumo ao nacionalismo e autoritarismo, abalando os nossos fundamentos políticos. Isso poderia ser o maior erro na história recente.

Ativistas da campanha "Leave", como o líder do partido nacionalista Ukip, Nigel Farage, são a resposta britânica à direita populista em outros países europeus. Ele é o que Marine Le Pen é para a França: um político que se aproveita do sistema que denuncia com o único propósito de ganhar poder para si.

Mas esse quadro é mais complexo: ele envolve carreiristas desavergonhados, como Boris Johnson, que espera herdar o cargo de primeiro-ministro do desafortunado David Cameron, e que também poderá causar a ruína de seu próprio Partido Conservador nesse processo. E há também Michael Gove, que, a partir de sua ala antieuropeia, promove o Brexit como um escoteiro embarcando numa valente nova aventura.

No entanto o que une esses improváveis aliados é uma mensagem comum: dê um salto no desconhecido e ganhe um futuro melhor. "Tomar o controle" é o slogan central com que se está vendendo uma ilusão para gente que se vê como os perdedores da globalização.

São eleitores do norte do Reino Unido economicamente empobrecido e de suas desfavorecidas cidades litorâneas. Gente que perdeu o emprego, que foi esmagada pela mudança social e que sente a necessidade de contra-atacar. É fácil virá-los contra a União Europeia, pois há décadas uma mídia hostil vem pintando Bruxelas como a fonte de todos os males.

A campanha do "Leave" tem operado com um fluxo constante de mentiras, estatísticas e números falsos. Michael Gove chegou a mentir sobre a história econômica da própria família, só para fazer valer seu ponto de vista contra a Europa. Mas isso não tem a menor importância, pois o que está em jogo nessa briga não são fatos, mas sentimentos: as pessoas querem ver suas crenças confirmadas, sem ouvir o outro lado. Os debates na TV parecem ter comprovado isso, ao descambar para o nível de luta de lama política.

Por isso, qualquer argumento racional em prol da UE acaba basicamente se perdendo. O presidente do Bank of England, o banco central do Reino Unido, acadêmicos respeitados, líderes europeus de governo, CEOs de grandes corporações, todos eles têm alertado, pedido e adulado os eleitores britânicos para que votem pela permanência na UE.

Mas a campanha do "Leave" os pinta como membros da mesma elite que está supostamente privando os cidadãos do direito de determinar o próprio destino. Depois do Brexit, a vida vai ficar mais difícil e mais insegura. Mas nada disso parece superar a inebriante sensação de bater de frente contra um sistema taxado como inimigo do povo britânico.

Nesse ponto, nada pode ser dito ou feito para mudar o curso dos acontecimentos. Alguns acreditam que a morte de Jo Cox pode dar aos eleitores uma pausa para reconsiderar suas decisões. Se os britânicos decidirem deixar a UE, isso afetará não somente o futuro deles, mas o de todos nós, europeus. Desde que foi fundada, a UE tem sido em grande parte uma força em prol do bem. No entanto, isso se tornou uma crença profundamente impopular.

Agora só resta a esperança. Esperança de que, no último momento na cabine de votação, os eleitores vão se esquiva da catástrofe. Esperança de que o bom senso inato do povo britânico triunfe sobre as melodias dos modernos flautistas de Hamelin e suas promessas de arco-íris dourados. Ninguém pode ainda prever plenamente as consequências de um voto pelo Brexit – vamos esperar que não tenhamos que descobrir.

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