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Cada vez menos esperança para a Síria

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
23 de abril de 2016

Na ausência de avanços, oposição síria abandonou negociações de paz. Enquanto isso, Assad busca uma vitória militar, e uma solução para a guerra civil vai ficando mais distante, opina a jornalista Barbara Wesel.

Barbara Wesel é correspondente da DW em Bruxelas

É claro que uma dose de drama faz parte deste tipo de conversações: o enviado especial da ONU para as negociações sobre o conflito sírio, Staffan de Mistura, chamou a debandada da oposição de Genebra de "teatro diplomático". Bom seria se não houvesse nada mais por trás disso. Os representantes de cerca de 40 grupos de oposição não querem mostrar apenas sua ira em relação às fracassadas rodadas de negociações, que não trouxeram resultado algum. Para eles, também é cada vez mais difícil manter unidos os diferentes grupos que representam.

O cessar-fogo, que é a base das conversações, já entrou em vigor sob ameaça. Mesmo assim, o derramamento de sangue diminuiu nas últimas semanas, e as partes envolvidas sentaram à mesa de negociações. Mas isso não pode ser um fim em si mesmo, pois, ao mesmo tempo, o presidente Bashar al-Assad avançou com sua ofensiva para retomada de Aleppo e Latakia.

Ele mostrou que, com a ajuda russa, continua buscando uma vitória militar e não uma paz negociada. Ele quer pelo menos fortalecer sua posição em solo de modo que saia dessa com o mínimo de concessões.

E isso se tornou visível com a atuação de seus enviados em Genebra: com uma atitude arrogante, eles insultaram a oposição e não mostraram em nenhum momento a vontade de se engajar construtivamente. As exigências de libertação de prisioneiros e de assistência a cidades cercadas foram largamente ignoradas. Sobre o futuro de Assad, não há mais conversa. As recentes pseudo-eleições em Damasco foram uma farsa, e a proposta de um "governo de unidade nacional" é um insulto. Afinal, além do próprio Assad, dele devem fazer parte somente representantes escolhidos a dedo e seus aliados políticos.

Em março, quando o presidente russo, Vladimir Putin, retirou, de repente, a maior parte de suas tropas e armamentos pesados da Síria, uma solução parecia estar se aproximando. Será que o líder do Kremlin iria sugerir a seus vassalos em Damasco que finalmente fosse colocado um fim à sangrenta guerra civil? No entanto, poucas semanas depois, a esperança parece ter morrido novamente. Assad se mostra mais irredutível do que nunca, e as mortes continuam.

E para a oposição, uma paz com Assad não é possível. A oposição simplesmente não poderia defender isso diante dos grupos que representa nas negociações. Gente demais já morreu na luta contra o ditador. Duas das maiores milícias proclamaram o regresso às armas em meio ao cessar-fogo, que já não existe mais. Somente uma intervenção de Moscou seria capaz de acabar com o impasse. Mas ninguém sabe o que Putin quer. Uma vitória militar de Assad? A divisão do país? Uma paz negociada segundo seus termos?

Nessas circunstâncias, as negociações em Genebra estão condenadas ao fracasso. De Mistura quer seguir adiante, mas lhe faltam parceiros. Somente uma intervenção conjunta das grandes potências poderia impedir o fim das negociações. Mas, enquanto isso, deve haver um plano B. Imagens de combatentes da oposição com mísseis antiaéreos nutrem rumores de que os EUA estão prontos para estabelecer uma igualdade de oportunidades em termos de armamento, o que abriria o caminho para ainda mais derramamento de sangue.

O país está sendo empurrado ainda mais para o fundo do poço, e mais centenas de milhares são levados a fugir. A culpa é de Assad e de seus partidários, e a chave para a solução está em Moscou. Se agora a terceira rodada de negociações falhar, não resta esperança alguma para a Síria.

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