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Opinião: Caixeiro viajante perigoso em giro internacional

28 de maio de 2017

Primeira viagem do presidente Trump ao exterior prometia. O saldo concreto, contudo, são autocratas reassegurados, aliados ofendidos, anúncios vazios e promessas quebradas, opina a jornalista Alexandra von Nahmen.

Alexandra von Nahmen é jornalista da DW
Alexandra von Nahmen é jornalista da DW

Com seu primeiro giro internacional, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, queria provar que sua agenda "America first" era compatível com o papel americano de liderança mundial.

A coreografia dessa viagem foi concebida com inteligência, os preparativos levaram semanas. Da capital da Arábia Saudita, Riad, ele partiu – pela primeira vez na história – direto para Jerusalém. Da Terra Sagrada a rota levou até o Vaticano, para se concluir em Bruxelas e Taormina, entre amigos e parceiros.

Uma viagem que proporcionava ao presidente americano a oportunidade de brilhar no palco mundial como homem de Estado que impressiona, inspira e é respeitado, aonde quer que vá. Mas que, acima de tudo, persegue uma meta: preservar e defender os interesses dos americanos.

Essa era a narrativa da viagem. Os assessores de imprensa de Trump se atropelaram em superlativos para descrever os próprios êxitos.

A amarga verdade é que pouca substância há por trás das belas fotos e dos grandes anúncios. Até agora, a Casa Branca não fundamentou com detalhes palpáveis as promessas e iniciativas do presidente. Como se pretende implementar a decisão, anunciada em Riad, de secar as fontes financeiras dos extremistas e de seus patrocinadores? Quão concreto é o plano para a paz no Oriente Médio?

Pior ainda: a viagem comprovou mais uma vez o quanto Trump aposta numa política das transações, uma política marcada pela competição de interesses que são renegociados a cada vez. Com efeitos perigosos: para motivar os dirigentes e governos dos países fundamentalmente islâmicos a participar de sua aliança contra o extremismo, ele praticamente lhes deu carta branca para regerem como quiserem. Direitos humanos, das mulheres e o fortalecimento da sociedade civil ficaram relegados a último plano.

Para angariar simpatias na Arábia Saudita e em Israel, Trump esbravejou repetidas vezes contra o Irã. Suas ameaças estão longe de significar que os EUA vão rescindir o acordo nuclear com Teerã, firmado por diversos parceiros. Mas a retórica trumpista de confrontação poderá atiçar novos choques violentos entre xiitas e sunitas na região. O presidente americano acende o pavio; as consequências, ao que tudo indica, lhe são indiferentes.

Perplexos e apavorados, os aliados dos EUA na Europa observaram esse espetáculo. Esvaiu-se a esperança de convencer Trump a conversas pessoais sobre valores comuns e sobre as iniciativas aprovadas junto a seu antecessor, Barack Obama.

Em Bruxelas, além disso, o novo presidente americano melindrou numerosos parceiros da Otan com sua rude crítica ao gastos deles com defesa, justamente numa cerimônia destinada a celebrar a organização como aliança histórica e voltada para o futuro.

E a tragédia e o perigo dessa administração americana ficaram definitivamente demonstrados na cúpula do G7 em Taormina, onde Trump sabotou de facto  as conversas conjuntas e permaneceu inflexível em diversas questões. "America first" pode significar que se criam novas coalizões ad hoc, ao mesmo tempo em que se desacatam os parceiros de longa data e fiéis.

Assim a confiabilidade dos Estados Unidos está na berlinda. É esse o saldo do primeiro giro internacional de Donald Trump.

 

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