Uma incerteza a menos na eleição presidencial brasileira: Haddad é o candidato do PT ao Planalto. Seria bom se agora os candidatos pudessem, enfim, se concentrar nos problemas do país, opina editora-chefe da DW Brasil.
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Depois de um mês de campanha eleitoral tumultuada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu Partido dos Trabalhadores acataram a ordem da Justiça Eleitoral e passaram o bastão da disputa presidencial ao sucessor de Lula, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad.
Já não era sem tempo. Lula está inelegível e sabe disso. É o que prevê a Lei da Ficha Limpa, aprovada com o apoio de milhões de brasileiros e assinada por ele próprio – uma das muitas coisas boas que o ex-presidente fez pelo país. Agora é preciso respeitá-la.
Lula decepcionou aqueles que esperavam dele uma postura de estadista, que pusesse os interesses do país à frente dos próprios. O esperneio do PT para manter a candidatura do ex-presidente colaborou para acirrar os ânimos da população, que chegou a um nível de radicalismo tal que não se pode mais descartar a possibilidade de o país ser empurrado para uma protoditadura voluntária.
O candidato populista de direita Jair Bolsonaro segue como favorito no primeiro turno das eleições, de acordo com a pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Instituto Datafolha nesta segunda-feira (10/09). E o voto no primeiro turno desta eleição será decisivo, pois em segundo lugar vêm quatro candidatos tecnicamente empatados, o que aponta para um segundo turno completamente imprevisível.
Apesar do favoritismo, Bolsonaro também é o campeão de rejeição – 43% dos eleitores não votariam nele de jeito nenhum. Esse dado é importante, visto que, no pleito deste ano, os eleitores parecem mais empenhados em voltar contra alguns candidados do que a favor de outros.
Assim, na simulação de segundo turno, Bolsonaro perde para qualquer adversário – num fenômeno parecido com o de Marine Le Pen na França. Até mesmo Haddad, que nem candidato era quando a pesquisa foi feita, parece bater o capitão reformado do Exército.
Mas essa é a década dos sustos políticos mundo afora, e nenhum cenário está descartado. Mesmo que Haddad herde boa parte dos votos que seriam de Lula – ele já saltou de 1% para 9% das intenções de voto desde junho – e consiga avançar para o segundo turno, ele também herdará o ódio contra o PT. Diante de tantas variáveis, é impossível prever o futuro do Brasil.
Quem sabe com o fim da insegurança sobre o processo eleitoral, os candidatos possam, enfim, se concentrar em propostas para recuperar o país. Pois depois de quatro anos de crise política e econômica, dois anos de um governo ilegítimo e lamentáveis retrocessos nos indicadores sociais, os brasileiros querem virar a página. Eles têm agora pouco mais de um mês para escrever uma nova história. Tomara que não seja de terror.
Os candidatos à Presidência
Treze nomes se lançaram na disputa pelo Planalto, entre eles vários veteranos de disputas presidenciais.
Foto: picture-alliance/Ap Photo/N. Antoine
Jair Bolsonaro (PSL)
Militar reformado e deputado no sétimo mandato, Bolsonaro, de 63 anos, encarna uma candidatura de cunho ultraconservador. Ele fala abertamente contra homossexuais, defende a posse de armas e elogia o regime militar – a ponto de fazer apologia à tortura. Tem sido um fenômeno nas pesquisas e aposta nas redes sociais para reverter a falta de estrutura de sua sigla nanica e a escassez de alianças.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Fernando Haddad (PT)
Por um tempo encarado como plano B do PT, o ex-prefeito de São Paulo, de 55 anos, foi oficializado candidato à Presidência a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de Lula concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, o ex-presidente era líder nas pesquisas. Agora o desafio será transferir votos para Haddad, que foi ministro nos governos petistas.
Foto: picture-alliance/AP/A. Penner
Ciro Gomes (PDT)
Ex-governador e ex-ministro, Ciro, de 60 anos, disputa sua terceira eleição presidencial. Em 2018, diante das dificuldades de Lula, se colocou como alternativa no campo da esquerda. Conhecido pelo estilo explosivo, tem se concentrado em abordar temas econômicos. Apesar dos acenos ao PT, acabou isolado na formação de alianças e teve que se contentar com uma vice do próprio partido.
Foto: Imago/Fotoarena
Marina Silva (Rede)
A ex-ministra disputa sua terceira eleição presidencial, desta vez por um partido próprio. Em 2010 e 2014, terminou em terceiro lugar. Com um discurso que prega a ética na política, ela tenta contornar o pouco tempo de TV e a falta de recursos da sua legenda. Também teve dificuldades em fechar alianças com siglas relevantes e só vai contar com o apoio do pequeno PV.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
Geraldo Alckmin (PSDB)
O ex-governador de SP é outro veterano de disputas presidenciais. Nesta campanha, Alckmin, de 65 anos, conseguiu articular a maior frente de alianças ao atrair várias siglas do "centrão" - partidos conhecidos pelo fisiologismo. Ao longo da pré-campanha, penou nas pesquisas. Seu histórico não é promissor: ao fim do 2° turno presidencial de 2006 terminou com menos votos do que na rodada anterior.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Alvaro Dias (Podemos)
O senador paranaense vem promovendo um discurso moralizador contra a corrupção repleto de elogios à Operação Lava Jato. Aos 73 anos, já foi filiado a oito partidos, inclusive ao PSDB. Sua candidatura tem se mostrado competitiva no Sul do Brasil, o que é visto como um desafio para os tucanos de Alckmin, que sempre tiveram bom desempenho na região.
Foto: Agência Brasil/A. Cruz
Henrique Meirelles (MDB)
Ex-ministro da Fazenda, Meirelles, de 72 anos, é o candidato do presidente Michel Temer. Em sua campanha, tem defendido a política econômica do governo. Sua associação com o impopular Temer tem representando um desafio para sua candidatura. Sem conseguir formar alianças, se contentou em disputar com uma chapa pura. Esta é a primeira candidatura do MDB à Presidência em 24 anos.
Foto: Reuters/A. Machado
Guilherme Boulos (Psol)
Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos, de 36 anos, foi escolhido candidato do Psol em uma disputa que rachou o partido. Adversários apontaram que sua proximidade com Lula transformaria a sigla em um "puxadinho do PT". Tem focado sua campanha na distribuição de renda e em críticas a Temer. Por enquanto tem penado nas pesquisas. Sua vice é uma líder indígena.
Foto: Agência Brasil/R. Riosa
Os nanicos
Seis candidatos disputam a Presidência por siglas nanicas. Entre eles o ex-banqueiro liberal João Amoêdo (Novo) e a ativista sindical Vera Lúcia (PSTU). O folclórico José Maria Eymael (DC), conhecido pelo seu jingle “Ey, Ey, Eymael”, disputa sua quarta eleição. O evangélico Cabo Daciolo é o candidato do Patriota (antigo PEN). Já filho do ex-presidente João Goulart, João Vicente, disputa pelo PPL.