1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Chega de aceitar dinheiro dos oligarcas ligados a Putin!

Eugen Theise
Eugen Theise
1 de março de 2022

A Alemanha não vinha sendo seletiva com o dinheiro dos oligarcas russos gasto em objetos e serviços de luxo. Mas, após o ataque de Putin à Ucrânia, essas pessoas também devem ser proscritas, opina Eugen Theise.

Iate Dilbar, do bilionário russo Alischer Usmanov, construído em 2016 em BremenFoto: Imago/M. Segerer

Equipado com piscinas jacuzzi, cinema a bordo, luxuosas salas de jantar, grandes pistas de dança e, claro, o heliponto obrigatório, um iate majestoso é o símbolo de status máximo para cada oligarca. Com o gosto dos bilionários russos pelo luxo decadente, os fabricantes destes palácios flutuantes ganham bom dinheiro.

O preço de compra dos dois navios de lazer mais caros de oligarcas russos – o Eclipse, de Roman Abramovich, e o Dilbar, de Alischer Usmanov − é estimado em cerca de 1,5 bilhão de dólares. Luxo Made in Germany construído em estaleiros navais tradicionais em Hamburgo e Bremen, na Alemanha. Já em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia, foi questionado na imprensa alemã e europeia se a Europa democrática não estava aceitando estes questionáveis bilhões da Rússia de forma muito fácil. Houve vozes semelhantes após o envenenamento do crítico do Kremlin Alexei Navalny. Mas nada aconteceu.

Frear os novos-ricos ligados ao Kremlin

Há duas décadas, os novos-ricos russos vêm investindo fortemente em imóveis de luxo na Europa Ocidental, fazendo compras nas butiques mais caras de Paris, Milão ou Roma. Eles gostam particularmente de desfrutar de sua riqueza no Ocidente. Não em Norilsk ou no Okrug Autônomo de Chukchi, no interior da Rússia, onde metais preciosos, petróleo e gás são extraídos em seu nome sob as condições mais adversas pelos humildes russos.

Os novos-ricos russos enviam seus filhos para escolas de elite pecaminosamente caras no Ocidente, inclusive na Alemanha. E ainda assim desprezam o ideal europeu de uma sociedade livre e democrática. Em vez disso, eles apoiam o regime cleptocrático de um ditador que está se tornando cada vez mais agressivo em seus desejos revisionistas.

O fato de não haver acesso às matérias-primas da Rússia quando não se é leal ao Kremlin deveria ter se tornado claro para todos pelo menos desde a prisão e expropriação do antigo magnata do petróleo Michail Chodorkowski, há quase 20 anos. A lealdade absoluta é recompensada com licenças de extração, grandes contratos estatais e subsídios. Na privatização das grandes indústrias e na distribuição dos cargos mais importantes − em parte apenas formalmente − nas estatais de matérias-primas ninguém da oligarquia mais dedicada de Putin foi deixado de fora.

Sanções por si só não são suficientes

Eles arrecadam bilhões de dólares e são decorados com medalhas por isso. E eles apoiam toda anexação do governante do Kremlin, aceitam todo assassinato ordenado pelo regime, todo envenenamento traiçoeiro dos críticos do regime. E agora também a sangrenta guerra contra a Ucrânia, a primeira nesta escala na Europa desde Adolf Hitler. O sangue dos ucranianos está agora também em suas mãos. O dinheiro deles é dinheiro sangrento. Mas poucos deles até agora estão na lista de sanções da União Europeia.

Mas, mesmo que constem da lista de sanções, as medidas correspondentes serão difíceis de serem aplicadas. Mesmo as contra Vladimir Putin, que também foi sancionado pessoalmente. Os cleptocratas russos, os aproveitadores cínicos do regime e provavelmente também o próprio ditador aperfeiçoaram a arte da ocultação durante as décadas no poder.

Ambições absolutistas como Luís 14

O "Palácio de Putin" na cidade de Gelendzhik, no sul da Rússia, revelado pelo crítico do regime, agora preso, Alexei Navalny, mostra uma reivindicação absolutista como a do Rei Sol, Luis 14. Mas, no papel, o prédio não pertence nem ao próprio monarca nem ao Estado, mas a empresas discretas de cujas contas bilhões fluem para o magnífico edifício. E também de forma indireta: de contas pertencentes a uma rede de empresas de propriedade de pessoas que devem sua riqueza somente ao governante no Kremlin.

Residência de luxo de Putin na costa do Mar Negro Foto: Navalny Life/dpa/picture alliance

Os bilhões de dólares em ativos da empresa de um violoncelista discreto e amigo de infância de Putin, Sergei Roldugin, revelados pelo Panama Papers, são outro excelente exemplo da arte russa de ocultação. Seja o próprio ditador, seus amigos de infância ou os oligarcas, todos eles conseguem permanecer absolutamente anônimos com a ajuda de empresas de fachada e testas de ferro. Que, se necessário, também contornam sanções.

Chega de luxo oligárquico na Europa Ocidental

Em resposta à guerra de Putin contra a Ucrânia, mas também para proteger a democracia na Alemanha e no continente, a Europa deve finalmente renunciar ao doce veneno do volumoso dinheiro dos bilionários leais ao Kremlin. Todos eles, sem exceção, pertencem à lista de sanções da UE.  E mais: a fim de identificar dinheiro russo questionável de todos os capangas do governante do Kremlin, a Unidade de Inteligência Financeira na Alemanha, que tem sido negligenciada até agora, deve ser reforçada.

Além de todas as medidas políticas, é crucial que não apenas Putin, mas também seus oligarcas, sejam banidos no Ocidente, sem exceção. Já a decência exige que nos abstenhamos de fazer negócios que permitam aos cúmplices de um ditador sangrento viver a vida de forma agradável. Um começo seria deixar de manter ou reparar os iates de luxo dos russos construídos na Alemanha. Semelhante ao que já aconteceu na aviação civil com as últimas sanções. Se punimos os passageiros aéreos da Rússia desta forma, por que poupamos os paus-mandados de Putin?

___________________________________________________

O jornalista Eugen Theise é natural de Kiev e faz parte da redação em ucraniano da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, e não necessariamente da DW.

Pular a seção Mais sobre este assunto

Mais sobre este assunto

Mostrar mais conteúdo