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ConflitosTaiwan

China copia em Taiwan o roteiro da Rússia na Ucrânia

Alexander Görlach
10 de agosto de 2022

A invasão da Ucrânia também começou com supostas manobras militares em suas fronteiras. Como Taiwan é peça decisiva no jogo de expansão imperialista de Xi Jinping, as cartas parecem marcadas, opina Alexander Görlach.

Aconteceu exatamente o que se previa: ao contrário do que anunciara oficialmente, a China não encerrou suas manobras militares em torno de Taiwan na segunda-feira (08/08). Analistas da República Popular indicam, antes, que o Exército, Aeronáutica, Marinha e submarinos chineses permanecerão no Estreito de Taiwan como "novo normal", uma nova condição permanente.

O procedimento de Pequim lembra os preparativos de Vladimir Putin para a guerra de agressão contra a Ucrânia. Ao longo de semanas, o chefe do Kremlin enviou tropas para as fronteiras do país vizinho, igualmente camuflando como manobras militares os seus preparativos de guerra.

As Forças Armadas de Xi Jinping precipitam os militares do pequeno vizinho num estado de alarme e estresse constantes. Por diversas vezes os navios chineses atravessaram a linha que divide as águas de Taiwan das da China. Essa linha funcionava como fronteira não oficial entre os antigos rivais de guerra civil que resultaram nos atuais dois Estados, e no passado era respeitada. Os caças de Pequim tampouco se detêm diante do espaço aéreo taiwanês.

Não há dúvida que a China dispõe de muito mais material, soldados e, portanto, mais resistência do que Taiwan. É como se a guerra iniciada por Putin tivesse demonstrado que uma suposta supremacia não garante automaticamente uma vitória rápida.

Pequim segue os passos neo-imperialistas de Moscou

Taiwan é uma peça decisiva para a estratégia de expansão imperialista de Xi. Porém ele não está de olho apenas na democracia insular. Paralelamente às atuais manobras militares, o Ministério da Guerra chinês anunciou que durante quatro semanas realizará exercícios semelhantes próximo às Filipinas, onde o mandatário também ambiciona territórios.

Desde março de 2021, mercenários chineses ocupam partes das ilhas Spratly, que o governo de Xi diz ser território seu. O Tribunal Internacional de Justiça de Haia determinou que se trata de uma afirmação falsa – sem que o presidente da China rebatesse a decisão.

Os Estados Unidos já declararam seu apoio a Manila, caso Pequim inicie preparativos de guerra contra as Filipinas. Porém o Partido Comunista da China também sinaliza seu descaso por Washington, ao desmarcar encontros e suspender a cooperação nos setores militar e de proteção climática.

O balanço de Xi na política interna é negativo. Assim, com tons nacionalistas, ele tenta ganhar pontos junto a seu povo, que sofre com o fiasco da política para a covid-19 e o colapso da economia. Ao contrário da crise mais recente no Estreito de Taiwan, em 1995-96, Pequim não quer se retirar e dar fim às provocações. Na época, o bloqueio durou oito meses, até os americanos enviarem um porta-aviões ao local, sinalizando sua disposição de defender o pequeno país insular e assim dando fim ao episódio.

A economia tawainesa entrará em apuros, caso Pequim volte a dificultar durante meses o acesso a seus portos, com manobras militares em que emprega munição real. Já nos primeiros dias do bloqueio marítimo, navios-tanques e cargueiros esperavam, fora da zona de perigo, os exercícios acabarem, para poder aportar em segurança em Taiwan.

No momento, Pequim copia o roteiro de Moscou. Assim, não será de espantar se, também aqui, o ensaio geral se transformar em drama amargo, com um ataque à ilha. É do interesse de Xi que isso ocorra antes do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, em outubro. Só desse modo ele se afirmará para um terceiro mandato como comandante-supremo das tropas nacionais, abrindo assim as portas para a liderança vitalícia.

Ninguém deseja mais uma guerra, nem em Taiwan, nem em qualquer outra parte do mundo. Mas seria pouco inteligente, se não até mesmo estúpido, não se preparar agora para uma possível invasão pela China.

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Alexander Görlach é membro sênior do Carnegie Council for Ethics in International Affairs e pesquisador associado do Instituto de Religião e Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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