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EsporteAustrália

Comportamento de Djokovic é desrespeitoso

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Sarah Wiertz
5 de janeiro de 2022

Tenista sérvio obteve permissão médica excepcional para disputar o Australian Open, o que gerou indignação. Ele parece estar fazendo piada com quem respeita as regras de combate à pandemia, opina Sarah Wiertz.

Foto: John Minchillo/AP Photo/picture alliance

A Arena Rod Lover é a quase a sala de estar dele: foi nela que Novak Djokovic venceu metade dos seus 20 títulos no Grand Slam. Ele é, de longe, o recordista de vitórias no Australian Open. E mais uma vitória colocaria o tenista sérvio à frente de Rafael Nadal e Roger Federer e o transformaria no recordista isolado do Grand Slam.

Assim fica fácil de entender por que o número um do mundo quer de todas as maneiras jogar em Melbourne. O que não dá para entender é a maneira como ele pretende fazer isso: com um post no Instagram que o mostra sorridente no aeroporto e, ao lado, umas poucas linhas nas quais ele, primeiramente, manifesta o desejo de que todos os seres vivos deste maravilhoso planeta recebam amor e respeito e depois informa que vai viajar para a Austrália com uma permissão excepcional.

Só quem estiver vacinado pode participar do Australian Open, em 17 de janeiro. Essa foi a declaração do diretor do torneio, Craig Tiley, há cerca de dois meses. Justificar a presença de Djokovic com uma permissão médica excepcional, pouco antes do início do torneio, pode ser má estratégia de marketing, mas é legítimo. Mesmo assim, deixa questões em aberto.

Ao todo, 26 profissionais e funcionários solicitaram uma permissão excepcional como essa, uma "meia dúzia" foi aceita, a maior parte por causa de uma infecção com o novo coronavírus nos últimos seis meses. Djokovic pegou covid-19 no Adria Tour, em junho e julho de 2020, do qual ele mesmo foi organizador. Porém, um ano e meio depois, ele não pode mais ser considerado imunizado por contágio.

Ou teria ele se infectado de novo nos últimos seis meses? Isso não é sabido. O tenista não tornou pública sua situação vacinal — ele diz que isso é assunto pessoal — e está dentro do seu direito. Mas o seu pedido para uma permissão médica excepcional faz supor que ele não esteja vacinado. Até porque ele mesmo, numa live no Facebook, declarou-se antivacina.

O diretor do torneio destacou que as condições para uma permissão médica excepcional são ainda mais rígidas do que as exigidas de outros viajantes. E essas já são bem rígidas.

Os únicos motivos para uma permissão médica excepcional, segundo as autoridades de saúde da Austrália, são reações alérgicas anteriores a vacinas que possam colocar em risco a vida, uma imunidade natural a hepatitis, sarampo, caxumba, rubéola ou catapora ou um sistema imunológico debilitado.

Este último pode ser descartado no caso de Djokovic, que vai disputar um torneio de um esporte de alta performance no verão australiano, com mais de 30 graus. Restam os dois primeiros motivos. Pouco provável que ele se encaixe numa dessas duas situações, mas impossível não é.

O que é inadmissível é que Djokovic pareça não considerar necessário esclarecer o público sobre suas razões. Ao contrário: ele parece até achar engraçado deixar essa e outras perguntas em aberto e menosprezar as incertezas, preocupações e medos dos outros. Isso é debochar de todos aqueles que respeitam as regras de combate à pandemia. Isso é desrespeitoso e está muito longe de um fair play.

Assim ele pode até conquistar o seu 21º e mais importante título do Grand Slam — mas não a simpatia da maioria das pessoas.

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Sarah Wiertz é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.