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Cristão-democratas e uma política de autodestruição

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Felix Steiner
4 de julho de 2018

Desentendimento entre CDU e CSU por detalhe da política migratória ganhou contornos cada vez mais absurdos. E quando membros da coalizão brigam, um partido de fora pode sair ganhando, opina o articulista Felix Steiner.

Merkel e ministro do Interior e líder da CSU, Horst SeehoferFoto: picture-alliance/dpa/T. Hase

Diante do teatro encenado em Berlim e Munique, só restou aos cidadãos alemães sacudir a cabeça mostrando desaprovação. "Já chega! Comecem logo a trabalhar!" é o que a maioria gostaria de gritar na direção da chancelaria federal e das sedes partidárias.

É o que, aliás, todos nós, contribuintes desta República, fazemos todos os dias, e também nós temos que aturar colegas difíceis de aguentar e seguir ordens de cima que nem sempre achamos sábias.

Uma coisa é verdade: nós, os cidadãos, não estamos tornando a vida dos políticos mais fácil. Afinal, todas as pesquisas de opinião mostram que as propostas defendidas pelo líder da CSU, Horst Seehofer, têm ampla aceitação entre a população. E foram justamente essas pesquisas que deram coragem ao rebelde bávaro.

Porém, se o preço da implementação dessa política for uma crise de governo e o fracasso da coalizão, então também a maioria de nós não está disposta a pagá-lo – muito menos os eleitores da CDU/CSU, sempre tão apegados à ordem. Afinal, perguntam-se alguns: o que é hoje tão diferente de três meses atrás, quando este governo de CDU, CSU e SPD, depois de muitas idas e vindas, finalmente foi formado?

E o cidadão se pergunta também: esse conflito ainda tem que ver com questões políticas? Ele não se tornou, já há muito tempo, um duelo entre Seehofer e a chanceler federal, por motivos puramente pessoais? "Eu não consigo mais trabalhar com essa mulher": se essa citação de Seehofer, que ele hoje desmente, de fato foi dita por ele, então ele arruinou sua reputação. Isso não combina com profissionalismo.

Mas também é verdade que Angela Merkel anda cometendo erros dramáticos por estes dias. Sim, é verdade que ela obteve resultados positivos na cúpula da União Europeia – resultados que quase ninguém mais esperava que ela conseguisse. Mas fica difícil ter confiança quando a chancelaria federal lista os Estados europeus com que se fechou acordos e, pouco depois, três desses Estados desmentem essa informação de forma categórica. E agora, em quem devemos acreditar? Confiança – qualquer prefeito de cidade pequena sabe disso – é a moeda per se da política. Quem não goza de confiança está politicamente morto.

Esta crise não é uma crise de Estado. Pois mesmo que a CSU deixe o governo, os verdes já se ofereceram como novo parceiro de coalizão. Por isso é que dificilmente haverá novas eleições, pouco importa como isso tudo vai acabar. Esta crise é, sobretudo, uma crise dos partidos CDU e CSU, os mesmos que, ao longo de anos, sempre gostaram de repetir que, sem eles, não há como formar um governo na Alemanha.

"Deem uma olhada para o outro lado dos Alpes" é o que muitos gostariam de dizer para a CDU e a CSU. Na Itália, os cristão-democratas, que ninguém conseguiria imaginar fora do sistema político, destruíram a si mesmos, deliberadamente. E aí se extinguiram, sem que alguém tivesse reclamado.

E quem governa hoje na Itália? Exato. Os populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) já estão abrindo a champanhe.

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