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Ampliação da Otan

3 de abril de 2008

O não ao ingresso da Geórgia e da Ucrânia na Otan foi uma derrota para Bush. Mas a decisão dos países-membros foi acertada, na opinião de Anke Hagedorn, enviada da DW a Bucareste.

Esta é a última conferência de cúpula da Otan com a participação do presidente norte-americano George W. Bush. Mas, em vez de receber um presente de despedida, ele foi confrontado com uma derrota amarga.

Bush fracassou com sua tentativa de incluir a Geórgia e a Ucrânia imediatamente no Plano de Ação para Adesão (MAP, do nome em inglês), o primeiro passo para o ingresso de um país na Otan.

Anke HagedornFoto: DW

Não se pode afirmar que sua proposta tenha sido uma surpresa. Um dia antes da cúpula em Bucareste, Bush havia deliberado em Kiev sobre a possível filiação do país à aliança militar transtlântica. Em Bucareste, ainda antes da abertura do evento, ele se manifestou mais uma vez a respeito do assunto e reforçou seu intento.

No entanto, estava claro também que ele contaria com forte resistência. A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, vinha afirmando a Bush há um ano, em inúmeras videoconferências, não poder partilhar do tratamento preferencial à Geórgia e à Ucrânia.

França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo haviam manifestado opinião semelhante, ainda que não com a mesma ênfase. O argumento dos céticos é que a Ucrânia e a Geórgia ainda não estão maduras para o passo.

O governo ucraniano é instável, a maioria da população simpatiza com a Rússia e não deseja nenhuma aproximação com a Otan. Ainda no fim de semana passado, milhares de manifestantes protestaram na Ucrânia contra a aliança transatlântica. Caso se apresentasse ao país um plano de ação para seu ingresso, a pressão dos opositores da Otan poderia fazer com que o governo vacilasse.

E então? A porta que a Otan tinha aberto seria batida de volta em sua cara? Esse não seria bem um cenário desejável. De fato não faz muito sentido querer que um país ingresse na Otan, se a maioria da população é contra.

São outros os motivos contra o ingresso imediato da Geórgia. A maioria da população bem que gostaria de uma aproximação. Mas o próprio país tem seus problemas com as ambições separatistas das regiões Ossétia e Abkházia.

Além disso, o presidente Mikhail Saakashvili se comporta de maneira cada vez mais autoritária. Nas eleições parlamentares de janeiro, ele dificultou a vida de seus opositores e mostrou abertamente seu lado não democrático.

Também neste caso é mais que questionável por que a Otan deveria se abrir para um país que no momento está longe de ser um parceiro democrático estável.

No caso da Alemanha, há ainda um terceiro motivo de preocupação: a Rússia. Merkel quer aproveitar a saída de Vladimir Putin da presidência para promover uma distensão nas relações da Alemanha, e também da Otan, com a Rússia.

Só que esse argumento torna a Alemanha vulnerável: muitos europeus no Leste do continente presumem que Merkel esteja fazendo concessões demais à Rússia, proporcionado ao país, assim, um direito de veto no tocante à política da Otan.

Ainda que Merkel sempre tenha rechaçado essa acusação, fica um gosto amargo e o temor de que essa defesa – ainda que indireta – dos interesses russos possa criar uma precedência para o futuro. (lk)

Anke Hagedorn é redatora de assuntos atuais da programação da DW-RADIO em alemão.