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Erro de cálculo do regime na Venezuela

Thofern Uta
Uta Thofern
6 de janeiro de 2020

Farsa eleitoral antidemocrática para impor um presidente pró-Maduro na Assembleia Nacional se volta contra chavistas. Líder da oposição Juan Guaidó sai fortalecido da turbulência política, opina Uta Thofern.

Governo impediu entrada de opositores para eleição de presidente da Assembleia Nacional Foto: picture-alliance/dpa/C. Cabral

Desta vez, os pseudossocialistas em Caracas foram longe demais. Foi absolutamente transparente a tentativa de impedir a reeleição de Juan Guaidó como presidente da Assembleia Nacional, bloqueando simplesmente a entrada de parlamentares da oposição, que detém a maioria no Parlamento venezuelano. Muito claro também ficou o total desprezo dos chavistas pela democracia e sua instituição mais importante: o Parlamento livremente eleito.

Também não é novidade que o regime venezuelano espezinha os direitos humanos, desrespeita consequentemente os princípios do Estado de Direito e mina a separação de poderes. E desta vez, provavelmente, o chefe de Estado Nicolás Maduro também sairá ileso, seu poder ainda parece estável no aparato estatal. Mas ele está enfraquecido internacionalmente e acabou fortalecendo seu adversário mais perigoso até agora.

Há quase um ano, o jovem e então desconhecido deputado Juan Guiadó se autoproclamou presidente interino da Venezuela, conseguindo sua legitimidade por meio de sua primeira eleição como presidente da Assembleia Nacional.

Vale lembrar: com sua esmagadora maioria oposicionista, a representação popular é a única instituição ainda legitimamente democrática na Venezuela, depois que os chavistas colocaram o Supremo Tribunal e a autoridade eleitoral sob seu controle, instalando posteriormente um "parlamento" alternativo e confirmando Maduro como presidente num pleito altamente controverso.

Dependendo da forma de interpretação, a Venezuela não possui mais um chefe de Estado legítimo e, neste caso, a Constituição estabelece que o presidente do Parlamento assuma o poder e restaure a ordem constitucional. Guaidó aproveitou a chance – e fracassou. Sua reeleição como presidente da Assembleia Nacional neste domingo (05/01) poderia não ter dado certo ou ter sido bastante apertada; aparentemente, a conspiração chavista uniu novamente a oposição.

A julgar por suas promessas, o líder da oposição até agora não conseguiu nada. Guaidó assumiu o poder para realizar novas eleições – teoricamente, elas deveriam ter sido convocadas dentro de 30 dias – e restaurar a separação de poderes na Venezuela. Mas embora quase 60 países, incluindo a Alemanha, tenham reconhecido Guaidó sem restrições mesmo após esse prazo, o mantra do "fim da usurpação" não se concretizou.

Os militares continuam a apoiar Maduro, e a confirmação, por meio de relatório da ONU, de quase 7 mil execuções extrajudiciais e outras violações maciças dos direitos humanos não mudaram nada no fato de o chefe de Estado estar seguro em seu cargo.

Recentemente, Maduro conseguiu até mesmo acalmar a desesperada situação econômica do país – não apenas com ajuda russa e chinesa, mas também permitindo negócios com o dinheiro dos odiados americanos e, assim, por fim, explorando o êxodo em massa também a seu favor. Com suas remessas, os refugiados venezuelanos estão agora contribuindo oficialmente para que alguns bens de consumo possam voltar a ser vendidos neste pobre país petrolífero.

Milhares de venezuelanos continuam a deixar o país todos os dias; as Nações Unidas estimam que seis milhões deverão ter fugido até o final do ano, o que levaria Maduro a ter expulsado um quinto da população durante seu mandato. A grande esperança, que Guiadó despertou no início do ano passado, parece ter entrado em colapso. Quando, nas últimas semanas, a oposição tentou organizar novamente protestos maiores na Venezuela, sob a influência das manifestações em massa no Chile e na Colômbia, a resposta foi tímida.

No entanto, o plano dos chavistas de finalmente tirar Guiadó do páreo fracassou. Ele foi reeleito presidente do Parlamento, numa sessão organizada apressadamente em outro lugar e com mais apoio do que o esperado.

Internacionalmente, a condenação da encenação chavista foi bastante unânime. Quando se trata de defender o Parlamento, as democracias do mundo estão unidas. Até a Argentina e o México, os dois pesos-pesados ​​populistas de esquerda da América Latina que não reconhecem Guaidó, condenaram o bloqueio da Assembleia Nacional.

Trata-se de uma derrota sensível para Maduro, e, principalmente, uma derrota completamente desnecessária. Isso poderá enfraquecê-lo em suas próprias fileiras. E talvez os venezuelanos ganhem coragem novamente. Eles precisarão dela, porque somente eles poderão mudar seu país.

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Uta Thofern Chefe do Departamento América Latina. Democracia, Estado de direito e direitos humanos são seu foco.
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