Escândalo na Bundeswehr
26 de outubro de 2006Tais termos normalmente não fazem parte do vocabulário de um ministro alemão. Por isso, torna-se mais evidente a irritação do ministro da Defesa, Franz Josef Jung, quando em uma entrevista à televisão ele falou de "idiotas", que através de seus atos prejudicaram a imagem da Bundeswehr [Forças Armadas Alemãs].
Após a divulgação de que soldados da Bundeswehr deixaram-se fotografar há três anos no Afeganistão de forma repugnante com caveiras – até agora não identificadas –, muitos alemães pensam como o ministro.
Não se trata apenas da preocupação em relação à própria imagem, nem a preocupação sobre um eventual aumento do perigo a que estão expostos soldados alemães no Afeganistão, que ocupa políticos ou cidadãos alemães. Em primeiro lugar, é consensual a repulsa coletiva a tal comportamento.
O que o maior jornal alemão documentou com fotos chocantes na quarta-feira está em clara oposição a tudo o que na Alemanha é considerado parte de um sistema moral de valores. Tais atos também são passíveis de punição como crime. A "profanação de cadáver" ou "perturbação da paz dos mortos" pode dar até três anos de prisão.
Por isso, foi importante que a Bundeswehr e a Promotoria Pública, ainda antes da divulgação das fotos, tenham iniciado investigações e identificado os responsáveis em questão de horas.
Isto é fundamental não só porque eles precisam ser punidos e outros, desencorajados. Mais importante ainda é que, com isso, mostra-se que tal incidente não é sintomático para a Bundeswehr, mas uma exceção. Os números das missões da Bundeswehr no exterior comprovam isso: nos últimos anos, 200 mil soldados participaram delas – sem que houvesse algum tipo de problema.
Podemos estar orgulhosos de que nosso sistema do "cidadão de uniforme" parece funcionar. Mas, sem falsa arrogância: este sistema também tem como conseqüência que as Forças Armadas espelham a sociedade. E esta não é constituída apenas por pessoas de integridade moral. Existem ovelhas negras na Bundeswehr porque elas também existem na sociedade.
O importante é como nós as tratamos e quão rápida e decididamente tomamos medidas contra elas. Até agora, os políticos e a Bundeswehr reagiram de forma correta. E não precisamos de advertências de Washington: quem está sob telhado de vidro não deve atirar pedras.
Esperemos que também as autoridades do Afeganistão dêem sua contribuição para prevenir uma escalada da situação: sabe-se perfeitamente em Cabul que os alemães vieram para ajudar – foi justamente pedido a eles que viessem.
E em Cabul naturalmente sabe-se também que tal incidente não é uma regra, mas que os radicais estão à espreita para instrumentalizá-lo.
Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.