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Escola barrar filha de deputado da AfD é falência moral

29 de março de 2019

Juridicamente não há o que objetar se uma escola antroposófica rejeita a matrícula de uma menina por seu pai ser deputado do partido populista. Mas se trata de um atestado de falência moral, opina Marcel Fürstenau.

Foto: picture-alliance/M. Scholz

"As escolas Waldorf estão, em princípio, abertas para todas as crianças, independentemente de religião, origem étnica, ideologia e renda paterna" – é o que consta do site da Federação das Escolas Waldorf Livres. Para a filha de um deputado berlinense do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), contudo, valem outras regras.

Em dezembro de 2018 veio a público que uma escola antroposófica do bairro Treptow-Köpenick recusara-se a aceitar a filha do populista de direita. Aparentemente os responsáveis estavam preocupados com o ambiente escolar.

A secretária de Educação de Berlim, Sandra Scheeres, felizmente encontrou palavras veementes: "Considero muito problemático uma criança ser responsabilizada pelo engajamento político de seus pais." Assim, a política social-democrata deliberou que sua repartição examinasse o caso do ponto de vista jurídico.

O resultado provavelmente não foi de seu agrado: embora a lei de ensino da capital alemã garanta uma educação "livre de discriminação", independentemente de "concepções religiosas ou políticas", essa prescrição não vale para escolas particulares.

E a coisa não para por aí: num caso concreto, a lei geral de tratamento igualitário AGG, vigente em todo o país, só interferiria se houvesse "discriminação por motivos de raça ou origem étnica". Portanto, a escola Waldorf agiu dentro da lei. Para os responsáveis trata-se de uma confirmação.

Mas eles também barrariam o filho de uma mulher que porta véu muçulmano? Certo, trata-se de uma pergunta hipotética. Mas ela revela o cerne do problema – ou melhor, do escândalo.

Uma instituição particular financiada basicamente com dinheiro dos contribuintes se arvora em juíza da orientação política dos pais e castiga por associação uma criança que antes frequentara um jardim-de-infância antroposófico.

Normalmente essas crianças têm preferência nas escolas antroposóficas. Mas, ao que tudo indica, uma garota cujos pais pertencem à AfD não combina com a visão de uma instituição que há cem anos se orienta pela pedagogia do antropósofo Rudolf Steiner.

"A aula é, desde o início da escola, direcionada à meta da liberdade interior humana." Também essa frase consta da página de abertura da Federação das Escolas Waldorf Livres. Uma meta nobre, motivo por que muitos pais preferem enviar seus filhos para essas instituições de ensino. Só que há bastante tempo a demanda é muito maior do que a oferta.

No caso do político da AfD, porém, não é que a criança tenha dado azar: ela foi excluída por o seu pai ter uma atitude ideológica supostamente errada. A decisão da escola Waldorf, pelo menos a de Treptow-Köpenick, é um atestado de falência moral.

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Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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