Opinião: Espanhóis sofrem de problema de comunicação
12 de outubro de 2017Wulf Bernotat, falecido presidente da empresa espanhola de energia Eon, experimentou na própria pele a comunicação muitas vezes confusa dos espanhóis. O jogo duplo na vida privada e na vida profissional é uma ocorrência diária para muitos e absolutamente "livre de punição". "Não mentirás" não é parte integrante da criação das crianças. E ser "hipócrita" não é realmente algo considerado ruim na Espanha.
Bernotat chegou à Espanha em 2006 e quis adquirir a concorrente Endesa, que já tinha sobre a mesa uma oferta da empresa catalã Gas Natural. Nas negociações com a Endesa, o alemão colocou as cartas abertamente na mesa. Mas, por outro lado, houve algo como um pôquer, em parte consciente, e em parte também os negociadores deixaram o tempo ir passando, simplesmente porque ninguém tinha um plano ou não queria tomar decisão alguma. Bernotat desistiu, depois de uma batalha muito dura e depois que, de repente, outros jogadores apareceram. Um dos principais motivos: ele simplesmente não entendia os espanhóis.
Mas este não é um problema que aflige apenas estrangeiros. Os espanhóis muitas vezes também não se entendem entre si. O que se fala e o que se quer realmente dizer muitas vezes são coisas bastante diferentes. Exatamente a crise da Catalunha, que claramente assumiu traços surreais, mostra como este tipo de comunicação pode ser ineficiente. O presidente do governo catalão, Carles Puigdemont, anunciou a independência da Catalunha no Parlamento regional de Barcelona, para suspendê-la logo depois.
Madri respondeu ao confuso discurso com um discurso do primeiro-ministro espanhol que, da mesma forma, não poderia ter sido mais opaco. Também o discurso de Rajoy no Parlamento, sua primeira aparição após o dia 1º de outubro, data do referendo anticonstitucional dos catalães, deixa muitas questões abertas.
Rajoy enfatiza repetidamente uma coisa: o referendo foi ilegal, fizemos tudo certo e não haverá independência. Algumas mídias espanholas interpretam o presidente do governo espanhol da seguinte forma: "o artigo 155 da Constituição espanhola, que prevê a suspensão da autonomia na sua plena aplicação, será ativado, mas não totalmente aplicado". Outros acreditam que Rajoy está à espera de que o outro lado responda. O chefe de governo espanhol anuncia de Madri: "Puigdemont deve primeiro explicar se declarou independência ou não".
A falta de franqueza e transparência na cultura espanhola, assim como a falta de autonomia individual e da capacidade para se fazer críticas, coisas que não integram a educação elementar genérica, levam a que também políticos não sejam capazes de discutir objetivamente. Ignorar é o caminho usual.
No conflito da Catalunha, isso leva a uma incerteza geral, que levou empresas a uma grande fuga da região e, em alguns casos, também do país. Depois de numerosas empresas regionais e bancos, a companhia de seguros francesa Axa anunciou sua mudança para Bilbao. Círculos próximos a instituições de crédito catalãs como Caixabank e Sabadell, que já mudaram sua sede, dizem que uma fuga de capital já está em pleno andamento. O boicote a produtos catalães também.
Durante anos, o galego Mariano Rajoy preferiu ignorar o que acontecia, enquanto o céu se movia na Catalunha. Agora é quase tarde demais para o diálogo, mas Rajoy tem que procurá-lo se não quiser cavar seu próprio túmulo político. A oposição no Parlamento exige isso dele e também a comunidade internacional, que também viu as imagens da ação policial em 1° de outubro em Barcelona.
Rajoy sabe que não pode mais seguir o caminho galego, como fez até agora – os galegos têm a reputação de não conseguirem se decidir. O presidente do governo espanhol deve sair de sua trincheira e finalmente mostrar a cara. Não basta apenas levantar a cabeça brevemente, como faz. Ele tem que lidar de frente com os conflitos em seu próprio país e não se esconder, como fez covardemente até agora, atrás da Constituição espanhola. Agora ele deve reformar esta Constituição, se quiser permanecer no governo.