Cofundador do grupo minimizou o genocídio de judeus na 2ª Guerra. Assim, o ativista não só se desqualifica como também prestou um desserviço para o movimento ambientalista, opina o jornalista Martin Muno.
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"Apenas mais uma 'putaria' na história da humanidade", disse o britânico Roger Hallam sobre o Holocausto, em entrevista ao jornal semanal alemão Die Zeit. Afinal, segundo ele, genocídios têm se repetido nos últimos 500 anos. A retórica desrespeitosa e grosseira de Hallam, um dos fundadores do movimento ambientalista Extinction Rebellion, lembra as palavras do copresidente do partido populista de direita AfD, Alexander Gauland, segundo o qual os doze anos do nazismo foram apenas um "cocô de passarinho em mais de mil anos da história alemã".
A afirmação de Hallam é, portanto, claramente classificável como populista de direita. E ela se encaixa com perfeição no cenário: Hallam se disse em setembro a favor de que extremistas de direita e sexistas possam participar do Extinction Rebellion (XR). E o logotipo da organização tem clara semelhança com runas – uma linguagem visual usada por extremistas de direita.
Muito já foi debatido sobre se o Holocausto foi algo único. Em 1986, o historiador Ernst Nolte escreveu que o extermínio dos judeus fora apenas uma reação aos gigantescos crimes stalinistas; sendo, portanto, um "ato asiático". Nolte desencadeou dessa forma a chamada historikerstreit (disputa de historiadores). Foi Jürgen Habermas quem defendeu de forma resoluta a tese da singularidade do Holocausto e alertou contra uma "normalização" do passado nazista – uma normalização como a que atualmente está sendo implementada por muitos representantes da direitista AfD.
Na República Federal da Alemanha no ano de 2019, o significado do Holocausto é uma das questões que marcam a linha divisória entre conservadores e radicais de direita. Quem relativiza ou mesmo nega o extermínio dos judeus deixa o terreno do discurso democrático. E é exatamente isso que Roger Hallam faz.
Do ponto de vista de Hallam e de seus seguidores, isso é consistente. Pois se todas as plantas, animais e toda a humanidade morrerem devido ao calor causado pela crise climática, todo o resto perde seu significado. Em face do apocalipse, pelo menos deste lado das religiões, tudo se torna sem sentido. Então, pouco importará se o Holocausto foi único.
Segundo esse pensamento, é irrelevante se eu pago meus impostos, se sou amigável com meus companheiros seres humanos ou se estou comprometido com um mundo melhor. Diante da morte iminente, também não importa se eu tento viver de forma climaticamente consciente ou se eu faço nos meus últimos dias uma viagem de longa distância após outra, vou à padaria mais próxima com o maior SUV possível ou jogo meu lixo plástico diretamente no rio mais próximo.
Mesmo que a seção alemã da XR se distancie dos comentários de Hallam: o Extinction Rebellion – e isso deve ser dito claramente – é uma seita apocalíptica. Uma que aposta em emoções e incita medos. Uma que foge à discussão necessária sobre como podemos reduzir as emissões de CO2 de forma rápida e visível e sobre como podemos viver em longo prazo de maneira climaticamente neutra. Assim, Hallam e seus aliados prestam um desserviço a todo o movimento climático.
Grandes e pequenos memoriais em toda a capital alemã relembram seu passado judaico e os crimes do regime nazista.
Foto: Renate Pelzl
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
Esse enorme campo de monólitos no centro da capital alemã foi inaugurado em 2005. O projeto é do arquiteto nova-iorquino Peter Eisenmann. Os quase três mil blocos de pedra evocam a lembrança dos seis milhões de judeus de toda a Europa que foram assassinados pelos nazistas.
Foto: picture-alliance/Schoening
Stolpersteine ("pedras de tropeço")
Estes pequenos blocos podem ser encontrados em centenas de calçadas de Berlim, em frente a imóveis que eram ocupados por famílias judias. Nelas, constam os nomes dos antigos moradores judeus e informações sobre seu destino final, como o campo de concentração para onde foram enviados. No total, existem mais de 7 mil desses pequenos memoriais só em Berlim.
Foto: DW/T.Walker
A casa da Conferência de Wannsee
Quinze autoridades nazistas de alto escalão se reuniram nesta mansão às margens do lago Wannsee, no subúrbio berlinense de mesmo nome, em 20 de janeiro de 1942. O tema da conferência: discutir o assassinato sistemático de judeus europeus, que foi batizado de "solução final para a questão judaica". Hoje o local é um memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial Plataforma 17
Rosas brancas na plataforma 17 da estação Grunewald, no oeste da capital, lembram os mais de 50 mil judeus de Berlim que foram enviados para a morte a partir desse local. Em exibição estão 186 placas que mostram a data, o destino e o número de deportados.
Foto: imago/IPON
Museu Otto Weidt
O complexo de prédios Hackesche Höfe no centro de Berlim é mencionado em vários guias de viagem. Em um dos edifícios, ficava a fábrica de escovas e vassouras do empresário alemão Otto Weidt (1883-1947). Durante a era nazista, ele empregou muitos judeus cegos e surdos, salvando-os da deportação e da morte. Hoje o local é um museu.
Foto: picture-alliance/Arco Images
Centro de moda na Hausvogteiplatz
O coração da moda de Berlim uma vez bateu aqui. Uma placa comemorativa feita de espelhos lembra os estilistas e fashionistas judeus que fizeram roupas para toda a Europa na praça Hausvogtei. Os nazistas expropriaram os donos judeus e entregaram os ateliês para funcionários e empresários arianos. Esse centro de moda acabou sendo irremediavelmente destruído durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
Memorial na Koppenplatz
Antes do Holocausto, 173 mil judeus viviam em Berlim. Em 1945 havia apenas 9 mil. O monumento "Der verlassene Raum" (a sala abandonada) está localizado no meio da área residencial da praça Koppen. É uma forma de relembrar os cidadãos judeus que foram tirados de suas casas e nunca retornaram.
Foto: DW
O Museu Judaico
O arquiteto Daniel Libeskind escolheu um design dramático: visto de cima, o edifício parece uma estrela de David quebrada. O Museu Judaico é um dos prédios mais visitados em Berlim, oferecendo uma visão geral da turbulenta história teuto-judaica.
Foto: AP
Cemitério Judaico Weissensee
Ainda há oito cemitérios judaicos em Berlim. O maior deles fica no distrito de Weissensee. Com cerca de 115 mil túmulos, é o maior cemitério judaico da Europa. Muitos judeus perseguidos se esconderam no emaranhado de construções dos cemitérios durante o regime nazista. Em 11 de maio de 1945, três dias após o fim da Segunda Guerra, o primeiro funeral judaico público foi realizado aqui.
Foto: Renate Pelzl
A Nova Sinagoga
Quando a sinagoga da rua Oranienburger foi consagrada em 1866, o prédio foi considerado o mais magnifico templo judaico da Alemanha. O edifício foi danificado na Noite dos Cristais em 1938 e depois foi duramente bombardeado na Segunda Guerra. No início dos anos 1990, foi parcialmente reconstruído. Desde então, sua cúpula dourada voltou a ser facilmente inidentificável no horizonte de Berlim.