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Faltam mudanças radicais no Oscar

Jochen Kürten
10 de fevereiro de 2020

Eleger "Parasita" como melhor filme poderia ser um sinal de mudança na premiação mais famosa do cinema. Mas talvez a Academia esteja apenas tentando encobrir problemas antigos com tal escolha, opina Jochen Kürten.

O cineasta sul-coreano Bong Joon-ho mostra estatueta de melhor filme para 'Parasita' em coletiva de imprensa
O cineasta sul-coreano Bong Joon-ho mostra uma das estatuetas conquistadas pelo filme "Parasita"Foto: picture-alliance/dpa/Yonhap

Branco demais, masculino demais: essa foi a principal acusação antes da cerimônia do Oscar neste ano. A premiação distingue muito poucas diretoras e roteiristas mulheres e cineastas negros, afirmam os críticos. Há de se concordar – bem como provar a afirmação com dados e números. Mas não seria o caso de ir mais a fundo para encontrar o verdadeiro problema do Oscar?

Vamos voltar no tempo: o Oscar existe desde 1929. O prêmio foi criado quando o cinema ainda era, em grande parte, mudo. Eram outros tempos, em que poderosos donos de estúdios dominavam Hollywood. Mas, já naquela época, o meio ainda jovem derrapava em sua primeira crise: os espectadores não iam ao cinema.

Era preciso criar um prêmio. Um prêmio que voltasse a colocar o cinema sob os holofotes. Com muito marketing, relações públicas e um evento de gala. O conceito funcionou. O Oscar, entregue pela primeira vez em 1929, mostrou-se uma história de sucesso. Não imediatamente em seu primeiro ano, mas em pouco tempo a premiação, com tudo o que há em volta, se transformou num poderoso motor para toda a indústria.

Premiavam-se os filmes que, antes da cerimônia, podiam ser vistos nos cinemas, ou seja, filmes dos Estados Unidos. À época, o cinema europeu, sem falar de outros locais do planeta, enfrentava muita dificuldade no continente norte-americano. O Oscar era um prêmio nacional de cinema, que deveria fortalecer a indústria local. Funcionou – e basicamente nada mudou até hoje.

Jochen Kürten é jornalista da DW

Exceto pelo fato de que o mundo mudou desde então. Em certo momento a Academia também percebeu isso. Em 1948, foi introduzido um prêmio especial para filmes do exterior, ou seja, filmes de países de língua não inglesa. Em 1957, a distinção única passou a ser chamada, de maneira consequente, de "Oscar de melhor filme em língua estrangeira".

Em 2020, a categoria foi rebatizada de "melhor filme internacional". Via de regra, cinco filmes são indicados – o que quer dizer que todo o mundo do cinema pode ser encontrado nessa única categoria. Por outro lado, isso também quer dizer que o Oscar continua sendo um prêmio nacional de cinema. Nada contra. Outros países também fazem assim.

A única diferença é que, com seu poder financeiro, a aura do tapete vermelho e a posição dominante dos filmes de Hollywood no mundo todo, o Oscar tem um enorme poder de atração. Entre muitos amantes da sétima arte, vale como o "prêmio cinematográfico mais importante do mundo".

Ainda assim, é uma premiação "American First" (América em primeiro lugar). Não reflete, de maneira nenhuma, o cinema mundial – diferentemente da Palma de Ouro de Cannes ou do Leão de Ouro de Veneza.

O Oscar é ainda mal-interpretado do ponto de vista artístico e irremediavelmente superestimado. Por isso, também não faz sentido sobrecarregá-lo com toda sorte de objetivos nobres: a indicação de mais mulheres, a valorização de produções afro-americanas, a premiação de todos os grupos populacionais dos Estados Unidos. Essas são algumas das demandas.

Os europeus – para mencionar apenas esse continente – deveriam ter autoconfiança suficiente para refletir em seu próprio prêmio a diversidade de suas línguas e povos. Com o Prêmio do Cinema Europeu (European Film Awards), criado em 1988, isso é possível e está sendo feito.

Mas a mídia europeia, mesmo a mais esclarecida e crítica, costuma olhar de maneira estrábica e fascinada apenas para Hollywood. Quem vai ganhar neste ano? Quem usará o que no tapete vermelho? Que comentário crítico sobre o noticiário mundial será pronunciado durante o evento? Vão falar das mudanças climáticas? E assim por diante.

Minha gente, o Oscar é um evento perfeitamente estilizado. É bonito de se ver, um encontro de grandes estrelas e estrelas menores. Também premia bons filmes americanos. Mas não é uma festa internacional do cinema. Não oferece um fórum para debates socialmente relevantes. Também não deveria ser levado muito a sério quando se trata de direitos das mulheres e de minorias. Para isso, existem outras plataformas importantes.

O Oscar é show, glamour e um palco para moda, fofocas e imprensa sensacionalista. O fato de "Parasita" ter sido o primeiro filme de língua não inglesa a receber a estatueta de melhor filme não muda nada nisso. Se o Oscar realmente quiser se tornar um prêmio internacional de cinema, precisaria repensar radicalmente suas categorias. Somente nesse caso seria possível abordá-lo com demandas socialmente relevantes. Caso contrário, continuará sendo o que é: um prêmio comercial americano de cinema com muito show.

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