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Opinião: Fim da "coalizão" no Parlamento Europeu preocupa

18 de janeiro de 2017

Batalha que resultou na eleição de Tajani sepultou também aliança entre conservadores e social-democratas, o que emperra a legislatura e abre espaço para populistas e eurocéticos, opina o jornalista Bernd Riegert.

O jornalista Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas

Após uma longa eleição, o Parlamento Europeu tem um novo presidente. Essa certamente não foi a notícia mais importante do dia, mas, para a União Europeia, é algo digno de nota. Pela primeira vez, os deputados foram até os limites do complexo regimento interno do Parlamento e, numa verdadeira batalha eleitoral, elegeram o conservador Antonio Tajani. Nada foi definido nos bastidores. Nada foi combinado. Coalizões foram desfeitas, novas alianças foram forjadas. Em outras palavras, um profundo exercício democrático.

Ninguém pode acusar o Parlamento, como os eurocéticos costumam fazer, de não ser livre em suas decisões. Não importa a opinião que se tenha sobre o italiano Antonio Tajani, um aliado de Berlusconi, uma coisa é certa: ele será um presidente diferente do que o alemão Martin Schulz, que usou o cargo, a bem da verdade protocolar, para fazer política, para forjar maiorias no Parlamento e acordos com o Conselho da União Europeia e a Comissão Europeia. Schulz estendeu as competências de seu cargo, deu ao Parlamento um rosto – e a si mesmo, um palanque. Tajani, por sua vez, vai ser mais discreto. O italiano tem pouca ambição e deve representar mais do que agir.

O cargo de presidente será reduzido ao seu tamanho normal, voltará a ser insignificante perante a opinião pública. O Parlamento perde seu rosto, pelo menos na Alemanha, maior país-membro da UE, onde Schulz, filiado ao SPD, partido da coalizão do governo Angela Merkel, chega a ser cogitado como candidato a chanceler federal ou ministro do Exterior.

Porém, mais preocupante, do ponto de vista do Parlamento, é que a batalha eleitoral representou o fim da grande coalizão informal em Estrasburgo e Bruxelas. Juntos, conservadores e social-democratas aprovaram leis e negociaram com a outra instância legislativa do bloco, o Conselho da União Europeia, onde estão representados os países-membros, por meio de ministros da área do projeto de lei em questão. Isso agora acabou.

Agora, a muito custo, maiorias flutuantes terão que ser organizadas. Isso custa tempo e torna as decisões imprevisíveis. Os populistas antieuropeus podem passar a pesar mais na balança. A legislatura europeia pode se tornar mais lenta e ineficiente. E disso realmente não se precisa, especialmente em tempos de crises e desafios, de Brexit, Trump e questões de segurança interna e migração. As forças de centro no Parlamento terão que se aproximar. Para o bem da Europa.

O jornalista Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas.

Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.