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Esporte

Opinião: Futebol europeu precisa de mais ativismo social

Davis Van Opdorp
24 de dezembro de 2017

Protesto "take a knee" do futebol americano provou que esporte é poderosa plataforma de protesto social. Os futebolistas da Europa não seguem o exemplo – o que é uma pena, opina o jornalista Davis Van Opdorp.

Jogadores do Hertha Berlin fazem seu protesto "ajoelhe-se": estranho e deslocado
Jogadores do Hertha Berlin fazem seu protesto "ajoelhe-se": estranho e deslocadoFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Sohn

O protesto "take a knee" ("ajoelhe-se", na linguagem coloquial), nos Estados Unidos, apresentou todos os aspectos polarizadores que um movimento de ativismo social deve ter.

Quando os jogadores de futebol americano da National Football League (NFL) passaram a se ajoelhar durante o hino nacional, antes das partidas, em primeiro lugar havia uma causa unificadora: a brutalidade policial contra afro-americanos no país. Segundo o website de estatísticas ProFootballLogic,, 68% dos atletas da NFL são negros.

Mas talvez mais importante é que o "ajoelhe-se" tinha o antagonista perfeito: o presidente dos Estados Unidos. Um discurso chamando os atletas manifestantes de "filhos da mãe" e alguns tuítes bombásticos do ex-astro de reality TV bastaram para fazer o protesto escalar a dimensões sem precedentes.

Davis Van Opdorp é jornalista esportivo da DW

A obstinação desses atletas diante das críticas – que não vieram só de Trump, mas de muitos outros, inclusive de dentro da NFL – foi uma tremenda vitória para o ativismo social nos esportes.

Pode ser que Colin Kaepernick, o craque de futebol americano que lançou o gesto simbólico em 2016, não consiga mais trabalho na NFL, depois de ter encerrado seu contrato com os San Francisco 49ers, neste ano. Mas ele terá um lugar na história como alguém que arriscou a carreira no esporte profissional para se posicionar por algo em que acreditava.

Quem dera que esse também fosse o caso no futebol...

Com o "take a knee", Kaepernick se afirmou como um ativista social no nível de Mohammad Ali – o qual não só colocou em risco a carreira no pugilismo, como se expôs à prisão, por se recusar a alistar-se nas Forças Armadas durante a guerra do Vietnam.

O futebol da Europa não tem algo assim, e, considerando a plataforma que esses super-astros possuem, trata-se de uma verdadeira decepção.

Enquanto o astro americano de basquetebol LeBron James está usando suas contas na rede social, com grande número de seguidores, para abordar questões sociais, Cristiano Ronaldo compartilha fotos de si sem camisa ou fazendo propaganda para suas novas botas.

E não é que faltem questões para se tratar na Europa: há a crise migratória, o neonazismo, o racismo que se alastra e, em alguns países europeus, violações dos direitos humanos.

Para ser justos, é preciso observar que o esporte de fato restringe a plataforma para os jogadores levantarem questões sociais. A Fifa proíbe símbolos políticos ou religiosos como parte dos uniformes durante as competições, e a definição de quais símbolos se encaixam nessas categorias é uma grande zona cinzenta. Mas ainda há maneiras de os atletas desafiarem fãs racistas ou neonazistas, ou estádios construídos por modernos escravos.

Sem dúvida também existem futebolistas que tomaram uma posição contra algo de que discordam. James McClean, nascido em Derry, na Irlanda do Norte, (palco do massacre do Domingo Sangrento: em 1972, soldados britânicos mataram 28 manifestantes pacíficos), se recusa a portar uma papoula no uniforme no Dia da Lembrança, em que as Forças Armadas da Europa relembram seus mortos.

Jogadores não brancos, como Kevin-Prince Boateng e Mario Balotelli, abandonaram o campo durante partidas de futebol, em resposta a refrãos racistas da plateia, acarretando novas sanções no esporte. Mas, quando se trata dos astros do futebol na Europa, a maioria restringe seus pronunciamentos sobre questões sociais a entrevistas pós-partida, no lugar de manifestações desafiadoras.

O ativismo se limita ao nível corporativo, o que o faz parecer artificial. O "take a knee" do Hertha Berlin antes de um jogo da Bundesliga, no ano corrente, foi estranho e deslocado. Os comerciais "Diga não ao racismo" da Uefa são tão corporativos, que mais parecem uma campanha de publicidade do que anúncios de utilidade pública.

Talvez simplesmente não exista, no futebol, a plataforma para um movimento ativista do gênero. Hinos nacionais só são tocados durante partidas internacionais, nas quais os craques estão mais felizes de poder representar seus países do que dispostos a protestar contra um problema social que estejam enfrentando.

Os futebolistas da Europa também têm origens diversas, tornando menos provável que se reúnam em torno de uma questão social. As únicas injustiças contra a qual os atletas poderiam se juntar são as que ocorrem na própria Fifa. Mas nunca é fácil protestar contra o patrão.

Ainda assim, os superstars do futebol deveriam questionar a forma como o mundo funciona. Como o protesto "ajoelhe-se" mostrou nos Estados Unidos, ativismo social nos esportes pode ser muito poderoso.

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