Opinião: Futuro da UE está em jogo na eleição britânica
7 de maio de 2015Ao irem às urnas nesta quinta-feira (07/05) para escolher uma nova Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento britânico), os cidadãos do Reino Unido estarão decidindo muito mais do que suas futuras políticas de saúde, fiscal ou de imigração. Eles podem estar participando de uma decisão prévia para a Europa.
Pois o primeiro-ministro David Cameron prometeu realizar, até 2017, um referendo sobre a permanência do país na União Europeia (UE) caso seja reeleito. E ele não pode mais voltar atrás. Ele próprio afirma que quer manter o Reino Unido na União Europeia, mas numa UE reformada. Com isso, ele provavelmente quer dizer uma UE que interfira menos nos interesses nacionais dos Estados-membros, que gaste menos e empregue menos funcionários. Em outras palavras, Bruxelas perderia poder para os Estados-membros.
Mas Cameron não apresentou propostas concretas. E ele também ouviu o recado de Bruxelas de que mudar os tratados da UE não é algo assim tão simples. Além disso, os demais líderes europeus há anos reviram os olhos quando se fala em Cameron. Para eles, o premiê britânico se comporta de uma forma irritante e presunçosa quando está em Bruxelas. Com isso, Cameron tem reduzido dramaticamente sua influência e a de seu país na Europa.
Agora ele caiu numa armadilha: despertou, nos britânicos, expectativas que ele não pode cumprir, sobre um "acordo melhor" para o Reino Unido em Bruxelas. E, ao mesmo tempo, é pressionado pelo crescimento do partido Ukip, que luta abertamente para que o Reino Unido deixe a UE e rejeita qualquer outra opção. Há muito pouco que Cameron possa fazer. Ele está sendo empurrado pelo sentimento antieuropeu que assola grande parte da sociedade britânica. Caso um referendo seja realizado nessas circunstâncias, uma saída da UE parece algo bem provável.
E quais seriam as consequências? O país provavelmente teria prejuízos econômicos, que, entretanto, são difíceis de calcular. Talvez mais explosivas – e, de forma alguma, do interesse de Cameron – seriam as consequências políticas e constitucionais. Os escoceses votaram no ano passado contra a independência, mas por uma maioria apertada. A Escócia é muito mais pró-europeia do que o restante do Reino Unido. A saída do Reino Unido da UE poderia levar a Escócia a optar pela independência para permanecer, ela mesma, na UE. Essa nova fronteira política e econômica ao longo da Muralha de Adriano teria um impacto negativo sobre a economia do Reino Unido.
Mas as consequências econômicas e políticas de uma saída da UE não se limitariam ao Reino Unido. Muitos na UE dizem que não derramariam uma lágrima se os eternos reclamões britânicos fossem embora e que, sem eles, as coisas até ficariam melhores. Mas essa é uma falácia perigosa. A UE perderia não só uma economia forte e um dos centros financeiros mais importantes do mundo, ela perderia um parceiro cosmopolita, reformista e competitivo, perderia um país do G7, um Estado com um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, uma potência nuclear.
E mais: seria a primeira vez que um país deixa a UE, o que, pelos tratados atuais, pode até ser possível, mas é considerado puramente teórico. Seria a reversão da unificação europeia e talvez o início da desintegração. Outros países poderiam seguir o exemplo ou, pelo menos, pedir certas concessões neste ou naquele ponto para continuar no bloco.
O que isso significaria para a Europa é algo difícil de prever. Uma Europa que enfrentasse a agressão russa no lado oriental, o terrorismo islâmico ou o imperialismo comercial chinês não como um bloco, mas como uma aglomeração de pequenos Estados não teria muito a dizer no cenário mundial. E, em escala mundial, todos os países da UE são pequenos.
Essas considerações certamente não estão em discussão na eleição parlamentar britânica. A política europeia nem mesmo foi particularmente importante na campanha eleitoral. Mas, indiretamente, essa votação pode ter esses efeitos, bem mais amplos.
O principal adversário de Cameron, Ed Miliband, do Partido Trabalhista, rejeita um referendo. Caso ele se torne primeiro-ministro, o problema seria momentaneamente afastado. Mas, além do fato de que as negociações para formação do novo governo deverão ser difíceis, ele também não poderá simplesmente ignorar o atual clima eurocético do país.
Seja qual for o resultado, mas principalmente após uma reeleição de Cameron, todos no Reino Unido que acreditam no projeto europeu devem levar adiante um grande trabalho de persuasão, junto com os seus parceiros europeus, para mostrar aos céticos o que realmente está em jogo na Europa.