Tudo o que a Coreia do Norte vem fazendo atualmente visa atingir os Estados Unidos, e infelizmente é preciso reconhecer que Kim Jong-un tem agido de forma muito habilidosa.
Entenda: A complexa equação chamada Coreia do Norte
Ele já podia prever as reações indignadas ao mais recente teste de mísseis, e elas não o impressionarão, afinal só levam à constatação que, fora uma ofensiva armada, mesmo a maior potência militar do mundo nada pode fazer contra Pyongyang.
Ainda assim haveria novas sanções, às quais se poderia recorrer. Se, por exemplo, ninguém mais no exterior empregasse trabalhadores norte-coreanos, isso seria um golpe contra uma importante fonte de divisas para o regime.
O teste desta segunda-feira (28/08) é uma escalada intencional de um conflito que parecia estar se distendendo. Em nível nacional, Kim Jong-un ostenta força, para o mundo externo ele sinaliza inflexibilidade.
Por outro lado, a forma e o direcionamento do teste de míssil mostram que o líder não quer levar a situação ao extremo – afinal, o presidente Donald Trump avisou que qualquer ameaça a território americano terá uma resposta decidida.
Provavelmente por isso o míssil não voou em direção ao sul, onde está Guam, mas ao leste. Do ponto de vista da Coreia do Norte, isso tem o bem-vindo efeito colateral de provocar medo e insegurança no Japão, aliado dos EUA.
Washington e Tóquio anunciaram sua determinação de aumentar a pressão sobre Pyongyang, mas não revelaram que isso significa.
A China apela, como sempre, por uma retomada das negociações, mas sem especificar sobre o que se deve negociar com os norte-coreanos.
Kim Jong-un não quer, de jeito nenhum, abrir mão de suas armas nucleares. No entanto, ao que consta, essa é a meta perseguida pelo resto do mundo.
Assim, o mais provável talvez sejam negociações sobre a Coreia do Norte. Nesse aspecto existem opções. Por exemplo: embora ninguém o diga abertamente, nem a Coreia do Sul nem a China estão especialmente interessadas numa reunificação da Coreia.
Se os EUA e seus aliados dessem plena liberdade a Pequim na Coreia do Norte, possivelmente logo o problema nuclear estaria resolvido – ainda que, quem sabe, ao preço de uma mudança de regime ao gosto dos chineses. Mas também nesse caso haveria risco de uma escalada militar. Nenhuma dessas perspectivas é muito auspiciosa.