O governo Netanyahu quis política em vez de futebol, e teve o que desejou. Futuramente, também terá que decidir se quer Trump e, com isso, o unilateralismo, ou se aposta na comunidade internacional, opina Martin Muno.
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O último amistoso da seleção de Israel em Jerusalém aconteceu em 9 de outubro de 2017. Contra a Espanha, a equipe perdeu uma morna partida eliminatória para a Copa do Mundo por 1 a 0. Pode ser que a derrota seja o último jogo de seleções disputado em Jerusalém por algum tempo.
O amistoso marcado para o próximo sábado (09/06) na cidade, entre Israel e Argentina, foi suspenso. Os jogadores argentinos não queriam comparecer, já que radicais palestinos protestaram com veemência diante do centro de treinamento da equipe em Barcelona, levantando camisas da seleção sul-americana manchadas com tinta vermelha. Além disso, veículos da imprensa argentina relataram sobre ameaças pessoais contra a estrela do time, Lionel Messi, e sua esposa.
É compreensível que a equipe argentina não queira jogar sob essas condições e que, eventualmente, não queira colocar em risco a saúde das estrelas do time tão pouco tempo antes da Copa. Também dá para entender a decepção dos torcedores israelenses, que estavam ansiosos para ver o atual vice-campeão mundial em campo.
Menos compreensível é a transferência da partida de Haifa – onde deveria ter acontecido originalmente – para Jerusalém, aparentemente após intervenção da ministra israelense do Esporte, Miri Regev, que pertence à ala de extrema direita do partido governista Likud. "Miri Regev queria política em vez de futebol – e, agora, recebeu política. Quem paga o preço são os torcedores", comentou, de maneira resumida e certeira, Itzik Shmuli, deputado da União Sionista, da oposição, na Knesset (Parlamento israelense).
É evidente o motivo pelo qual o jogo do ano passado aconteceu sem maiores incidentes, mas a partida planejada para junho deste ano se tornou uma questão política. A causa da agitação é a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, em maio.
A ação catalisada pelo presidente Donald Trump marcou uma guinada decisiva na política dos Estados Unidos para o Oriente Médio e o fim do consenso do Ocidente sobre a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino.
No dia da abertura da embaixada, mais de 50 palestinos morreram durante protestos. Outros 2.800 ficaram feridos. Para a sociedade civil na cidade multicultural e multirreligiosa, isso significa que qualquer evento de proporções maiores tem um peso político.
É que, independentemente do fato de que ameaças de palestinos radicais também precisam ser condenadas, Shmuli tem razão: a liderança israelense sob Benjamin Netanyahu quis política em vez de futebol, e teve o que desejou. Futuramente, o governo também terá que decidir se quer política em vez de cultura. Precisa decidir se apostará em Trump e, com isso, no unilateralismo e no confronto com os palestinos, ou se aposta na comunidade internacional, em negociações e um curso de equilíbrio político.
Mais uma vez, o futebol perdeu a contenda com a política. Algo que, hoje em dia, só surpreende a alienados.
Martin Muno é jornalista da DW
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Jerusalém, a história de um pomo da discórdia
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.