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Opinião

(rw)14 de dezembro de 2006

Kofi Annan passa o cargo de secretário-geral das Nações Unidas ao sul-coreano Ban Ki Moon. Os dez anos de seu mandato foram marcados pelo Nobel da Paz e por críticas, principalmente de Washington, opina Klaus Dahmann.

Ele havia sido o favorito dos Estados Unidos. Hoje, já não se sente mais nada deste favoritismo. Kofi Annan atreveu-se a enfrentar o governo norte-americano e teve de agüentar duros golpes de Washington por causa disso.

Já seu antecessor Boutros Boutros-Ghali havia passado por esta experiência: o egípcio havia se tornado tão incômodo ao governo norte-americano, que Washington passou a procurar por alguém de convívio "mais fácil". Por alguém que se limitasse a se ocupar com as tarefas inerentes a um secretário-geral.

Kofi Annan pareceu ser o candidato ideal: por ser africano, pois segundo a lógica das Nações Unidas a África estava na vez de ocupar o cargo, e por ser um burocrata – e não um político conhecido. E os Estados Unidos realmente conseguiram se impor: Annan ganhou o posto.

Desde o início, o novo secretário-geral gozou de um bônus diante de seus subalternos: Annan ascendeu desde as estruturas mais inferiores da organização – desta forma, pela primeira vez alguém como eles havia se mudado para o 38º andar do quartel-general das Nações Unidas em Nova York. E também em outras áreas ele fazia boa figura, isto é, de representação, sem ser ameaça.

Este papel no entanto não durou muito tempo: pouco antes da guerra no Iraque, ele contestou de forma veemente a tese do governo norte-americano de que Saddam Hussein comprovadamente dispunha de armas de destruição de massa.

Uma afronta, que levou os críticos da ONU em Washington a aumentarem sua influência: o governo dos Estados Unidos voltou a considerar as Nações Unidas um órgão desnecessário e novamente ameaçou suspender os pagamentos à organização.

As acusações de malversação de verbas no Programa Petróleo por Alimento no Iraque vieram em momento oportuno. Um escândalo que estremeceu toda a organização, atingindo inclusive o escritório do secretário-geral. O fato de seu filho, Kojo, supostamente estar envolvido na trama, atingiu Annan de forma especialmente dura. Mesmo que o secretário-geral tenha conseguido provar não ter nenhum envolvimento pessoal no caso, uma sombra escura caiu sobre ele.

E entre os méritos: Annan conseguiu empolgar a comunidade internacional para as Metas do Milênio, com as quais se pretende combater a pobreza, doenças como a aids e aumentar a oferta de escolas.

Annan teve grande participação também no fato de que ao menos uma pequena reforma se impôs na organização: foram passos importantes, acima de tudo, o novo Conselho de Direitos Humanos como sucessor da ineficiente Comissão de Direitos Humanos, e a comissão Peacebuilding, que deverá acompanhar, em longo prazo, processos de estabilização.

Annan aconselhou seu sucessor Ban Ki Moon a demonstrar firmeza. Trata-se de uma qualidade imprescindível ao ex-ministro sul-coreano de Relações Exteriores – a não ser que evite, por princípio, qualquer tipo de conflito com Washington. Mas neste caso ele não seria a pessoa ideal para este cargo.

Klaus Dahlman é redator da Deutsche Welle.