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Leste Europeu aprendeu como lidar com a UE

Boris Kálnoky
1 de maio de 2019

O ingresso no bloco europeu, 15 anos atrás, não foi fácil para os países antes sob influência soviética. Mas eles entenderam os mecanismos da UE, defendem seus interesses e crescem de forma dinâmica, opina Boris Kálnoky.

Comemoração da ampliação da União Europeia, em 2004
Comemoração da ampliação da União Europeia, em 2004Foto: picture-alliance/dpa

Em 1º de maio de 2004 a Europa cortada pela Cortina de Ferro se recompôs. O Bloco Leste virou Bloco Ocidental: as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia, Lituânia), Eslovênia e o atual Grupo de Visegrado (Polônia, Hungria, Eslováquia e República Tcheca), assim como os países insulares Chipre e Malta, no sul do continente, passaram a ser membros da União Europeia.

Assim a comunidade internacional cresceu de 15 para 25 países, com um acréscimo de 20% habitantes. O clima era de euforia e a questão parecia clara: bastava os europeus orientais fazerem tudo como os ocidentais. Durante alguns anos, a coisa correu bem: passo a passo o Leste se abriu para o Ocidente.

Mas aí veio a crise de 2009, e o abismo de prosperidade entre Leste e Oeste voltou a se escancarar. Em vez de milagre econômico, os cidadãos do Leste Europeu vivenciavam estagnação. Em vez de bem-estar – excetuada uma seleta camada de aproveitadores desavergonhadamente ricos –, a integração ao Ocidente criara insegurança existencial.

Os preços subiram, mas os salários permaneceram baixos, nunca se sabia quanto tempo daria para manter o emprego, quase ninguém podia se dar ao luxo de fazer uma viagem de férias, dois salários não bastavam para manter uma família de quatro. A vida – miserável porém segura sob o comunismo – se transformara numa luta pela sobrevivência. A euforia da UE deu lugar a um grande desapontamento.

A consequência foi um processo de aprendizado. Na verdade não fora tão boa ideia fazer tudo exatamente como o Oeste, pois economia e sociedade não eram tão estáveis e amadurecidas como lá. Os eleitores colocaram no poder governos que se contrapunham aos europeus ocidentais. O Estado passou a intervir mais fortemente na economia; conglomerados do Oeste, até então paparicados, foram submetidos a tarifas extras.

Os países de Visegrado se associaram numa espécie de união para autodefesa, a fim de melhor promover seus interesses dentro da UE. Novas ideias do Oeste eram examinadas com ceticismo e, de acordo com o caso, rejeitadas.

Cultura de boas-vindas em relação a migrantes, enfraquecimento dos Estados nacionais, cada vez mais poder para os grêmios da UE: nada disso faz sentido para nós, disseram os europeus orientais. Já Forças Armadas comuns da UE, política econômica responsável com menos endividamento estatal, por outro lado, fazem muito sentido.

Os países orientais da UE combinaram entre si para fortalecer reciprocamente suas próprias economias, em vez de sempre apelar para o Ocidente. Desde 2012 as rendas nacionais da região crescem com quase o dobro da velocidade do resto do bloco; finalmente os salários sobem, em parte rapidamente. Tudo somado, os novos membros aprenderam sua lição, de como, no contexto da UE é preciso agir com esperteza e formar coalizões para fazer avançar os próprios interesses.

Essa é uma história de sucesso que muitos na "velha União" não entendem, por puro moralismo. Lá se ouvem sobretudo queixas, em parte justificadas, de Estado de direito insuficiente, de quão autoritários ou antidemocráticos e, acima de tudo, quão ingratos e antieuropeus são os do Leste.

A verdade é que em nenhum outro lugar há tanto apoio à UE, ou menos cidadãos querendo que seus países abandonem a comunidade do que no Leste da Europa. A crise de confiança na UE é uma questão do Oeste e do Sul, não do Leste, como comprovam todas as pesquisas de opinião.

Em consequência de suas amargas experiências históricas, os europeus orientais são realistas. Eles entenderam como a União Europeia funciona na prática, e como é preciso jogar duro dentro dela, para não perder a si mesmo.

Autoconfiantes, eles codeterminam o discurso global europeu: afinal, também é a Europa deles, nela eles têm voz altiva e a utilizam. Com isso a UE se tornou mais diversa. Em outras palavras: há mais brigas, porém a briga é um meio consagrado para se encontrar soluções.

Boris Kálnoky, nascido em 1961, atua como correspondente na Hungria para o jornal Die Welt  e outros veículos de língua alemã.

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