Opinião: Macron pode reformar a França
15 de agosto de 2017Depois de seu sucesso espetacular, Emmanuel Macron caminhou sobre as águas na capa da revista britânica The Economist. Na verdade, em quase toda a Europa, ele foi festejado como um messias: livrou a França e o continente europeu do pesadelo de uma presidente Marine Le Pen. Mas não só isso: ele parecia desencadear um novo entusiasmo na Europa e unificar os franceses.
O esperto político de 39 anos trouxe frescor a seu país. Macron tinha algo a oferecer para todos: uma melhor educação para os socialmente desfavorecidos; menos impostos para os empresários; um Estado forte para os inseguros e, para os conservadores, ele voltou a passear em veículo militar aberto por Paris na sua posse – em vez de uma limusine civil, como seu antecessor socialista François Hollande.
Não é de admirar que esse entusiasmo não fosse perdurar. Mas que os índices de aprovação caíssem tão rapidamente foi uma surpresa para muitos. Em polvorosa estão, entre outros, os funcionários do serviço público, cujo aumento salarial Macron pretende limitar. E o chefe do Estado-Maior, Pierre de Villiers, renunciou em meio a uma disputa aberta sobre medidas de austeridade nas Forças Armadas.
Nesse contexto, no entanto, Macron ainda não mexeu na "vaca sagrada": ele ainda não implementou a anunciada reforma do mercado de trabalho. E na semana de 35 horas de trabalho, algo que custa muita competitividade à França, Macron não se atreve a mexer – ou ainda não. Uma reforma da Previdência também está pendente. A primeira prova de fogo está sendo esperada para o início do segundo semestre. Os sindicatos já convocaram greves.
A ascensão de Macro tem muito a ver com as alternativas eleitorais do início do ano, principalmente com Marine Le Pen. Muitos votaram nele, não por querê-lo de qualquer forma, mas para impedir Le Pen. E quase metade dos franceses – como mostrou o resultado do primeiro turno – escolheu candidatos que queriam isolar a França da globalização. Então votar em Macron por motivos táticos no segundo turno não implica uma mudança de atitude do eleitor.
Entre os eleitores táticos de Macron também estão pessoas que teriam votado no conservador François Fillon, se ele não tivesse fracassado devido às acusações de emprego fantasma para seus familiares. E se os socialistas não estivessem tão arruinados, eles teriam abocanhado alguns dos potenciais eleitores de Macron. O presidente francês tem que lidar agora com todos esses táticos e céticos. É impossível agradar a todos.
Seus problemas, porém, não são insuperáveis. Abordando primeiramente as reformas impopulares, ele poderá colher frutos já durante o seu mandato – se a economia se recuperar e as coisas correrem bem economicamente. No cenário internacional, Macron faz bonito – quase sem transição, ele parece ter ascendido de rápido azarão a experiente estadista. E ele se beneficia de um novo clima na Europa: longe do populismo, rumo a uma política séria.
Essas não são certamente garantias de sucesso. Mas na França parece ter se espalhado o ponto de vista de que a oposição fundamental a qualquer tipo de mudança no país foi o que o levou à crise. Macron não é nenhum salvador, mesmo que atualmente ele seja chamado ironicamente de "Júpiter". Mas o jovem presidente tem chances – bem telúricas – de avançar como um reformador da França.