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Opinião: Maduro não tem mais salvação

19 de maio de 2016

Incapacidade do presidente venezuelano de autorreflexão apresenta traços patológicos. Para ele, o culpado pela miséria do país é qualquer outro, menos o seu governo, escreve o jornalista Jan Walter.

Jan D. Walter é jornalista da DWFoto: André Loessel

Excesso de dúvida sobre si mesmo não costuma ser uma característica marcante entre políticos. Contudo o caso do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é diferente: o país vai mergulhando no caos, mas ele exclui categoricamente qualquer relação causal entre a crise e 16 anos de chavismo.

Maduro sofre simplesmente da ganância de poder tão difundida entre os déspotas? Indício em contrário é a paixão espantosamente ingênua com que conclama à luta pela "Revolução Bolivariana". Não se trata de uma representação calculada: esse homem acredita tão piamente no "socialismo do século 21", que seria uma insustentável autotraição ir agora procurar soluções fora dessa ideologia.

Isso é compreensível. No entanto, a incapacidade de Maduro de autorreflexão apresenta traços patológicos.

O quadro clínico: o país mais rico em petróleo do mundo é forçado a importar gasolina. A Venezuela é a única nação da América do Sul que importa mais alimentos do que exporta – medido em dólares, 100 vezes mais. A coisa já não estava funcionando quando o preço alto do combustível enchia de petrodólares os cofres governamentais. Há dois anos o país empobrece em ritmo meteórico: inflação, carestia e violência grassam.

Segundo Maduro, os culpados por essa miséria são exclusivamente os outros, sobretudo a "burguesia" venezuelana e os "imperialistas norte-americanos". Recentemente ele passou a acusar estes últimos de planejarem uma invasão na Venezuela – como se os Estados Unidos não tivessem nada mais com que se preocupar.

Na imagem coletivista de mundo do presidente, não se encaixa a ideia que sejam indivíduos que estão fechando seus negócios, antes de eles falirem, e investindo seu dinheiro onde ele vá ser respeitado. No entanto ele poderia concluir, com base no nepotismo à sua volta, que cada camarada é o melhor amigo de si mesmo.

O diagnóstico: perda de senso de realidade e mania de perseguição são sintomas de paranoia. Se Maduro – como ele próprio afirma – às vezes escuta a voz do falecido Hugo Chávez, isso seria indício seguro de esquizofrenia. Nesse quadro clínico também se encaixaria sua óbvia dificuldade de perceber e expressar correlações complexas – mas aqui os motivos são provavelmente outros.

A incapacidade de Maduro de situar as críticas que recebe, e suas tiradas contra todos os que a expressam, têm traços infantis. Também infantiloide é a idealização de seu pai de criação político, Chávez. Mesmo sua glorificação do histórico combatente libertário Simón Bolívar não parece calculismo político – ao contrário do que se vê em seu glacial vice-chefe de partido, Diosdado Cabello.

Se Maduro – como alega – realmente não associa a manifesta corrupção na Venezuela a si mesmo e a outros correligionários seus, então quase seria o caso de se diagnosticar: "distúrbio de personalidade".

No fim das contas, porém, Maduro possivelmente não passa de um mestre da redução de dissonância cognitiva: ele está seguro que a Revolução Bolivariana é a única saída para a injustiça da pobreza. No entanto, atualmente o povo venezuelano está pior com a revolução do que sem ela. A conclusão dele para essa constatação contraditória é que os culpados são os outros.

A terapia: psicólogos amadores não devem sugerir terapias. Diante das consequências do comportamento de Maduro, seja ele patológico ou não, é também secundário se ele é saudável ou doente. Claro está que durante sua presidência não se viu brilhar a menor centelha de esperança de que a espiral descendente possa se reverter.

Tampouco agora há qualquer sinal disso. Portanto uma cura parece descartada. A única coisa que ainda pode trazer alguma esperança à Venezuela é que, a estas alturas, todo o mundo sabe quem é Nicolás Maduro.

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