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Irã

22 de junho de 2009

Os manifestantes nas ruas do Irã e o líder da oposição no país, Mir Hussein Mussavi, estão sendo, na realidade, instrumentalizados em luta interna pelo poder entre as altas esferas políticas, comenta Peter Philipp.

Só se pode chamar de cinismo o fato de o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, ter assegurado, com falsa modéstia, que tenha havido "40 milhões de vencedores" nas eleições no país. Será que ele realmente acredita poder dizer tal disparate aos eleitores? Às mesmas pessoas que, desde o anúncio do suposto resultado do pleito, vêm protestando e alegando que lhes roubaram a voz como eleitores? Sim, ele parece acreditar nisso.

Afinal, os iranianos vêm sendo enganados com frequência, e nestas eleições também. E isso não apenas na manipulação da contagem de votos, mas já na escolha de Mir Hussein Mussavi, o adversário mais importante de Ahmadinejad. E na ilusão de que os eleitores poderiam realmente decidir entre o atual sistema e um Estado novo, liberal e aberto a reformas. O mais provável é, contudo, que os eleitores e agora os manifestantes tenham sido instrumentalizados numa luta interna de poder no coração da República Islâmica.

Trata-se de uma luta pelo poder entre o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, de um lado, e Mahmud Ahmadinejad e o aiatolá Ali Khamenei, de outro. Rafsanjani é um dos homens mais ricos e poderosos do país. Um "homem de primeira hora", que vem se intrometendo desde a Revolução, há 30 anos, mas que defende uma linha pragmática, tanto em termos de política interna, quanto externa, certamente também em prol de interesses próprios.

Em 2005, Rafsanjani foi vencido no segundo turno do pleito pelo arrivista Ahmadinejad – uma derrota que ele evidentemente não engoliu. Sendo assim, não é nenhum segredo que, desta vez, Rafsanjani tenha tirado o antigo adversário Mussavi da cartola como num passe de mágica, apoiando sua campanha eleitoral com todos os recursos. Mussavi não é rico, e partidos não existem mesmo, ou seja, não há financiamento partidário. Daí surge a suspeita de que os recursos quase ilimitados de sua campanha eleitoral tenham vindo dos bolsos mais ricos do país: os de Rafsanjani.

Ahmadinejad atacou de imediato Rafsanjani e sua família durante a campanha eleitoral, acusando-os de corrupção e enriquecimento ilícito. E embora Khamenei, o líder supremo do país, tenha se comportado como se defendesse Rafsanjani, o confronto se tornou ainda mais acirrado, tendo culminado, no último sábado (20/06), na detenção temporária da filha e de quatro outros membros da família de Rafsanjani. Antes disso, eles já haviam sido proibidos de sair do país.

Os manifestantes nas ruas parecem ignorar tais conexões. Para muitos deles, não se trata de lutar, nos protestos, por uma extinção do sistema do Estado, mas sim por uma liberalização. Só há dúvidas se eles estariam dispostos a servir como soldados nesta luta pelo poder. Ainda mais como soldados sem armas, subordinados sem qualquer esperança à violência do Estado, quando esta for realmente posta em prática.

E Mussavi? Ele também é, de certa forma, um soldado nesta luta. Apesar de sua ameaça teatral, ele morreria como mártir antes de desistir, embora seja óbvio para todos que isso nada adiantará. Sua sobrevivência – também política – talvez seja a única chance: Se Mussavi conseguir evitar outra escalada do conflito, ele poderá se tornar, pela primeira vez na história da República Islâmica, um líder oposicionista na política interna. O fato de ele já ter sido um linha-dura não terá mais importância alguma.

Autor: Peter Philipp

Revisão: Simone Lopes

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