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Opinião: "Menina de Chibok" traz alegria, mas abre questões

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Thomas Mösch
20 de maio de 2016

Militares e políticos nigerianos celebram reaparecimento de uma das meninas raptadas pelo Boko Haram em 2014. Mas eles ainda têm muito a explicar, afirma Thomas Mösch, chefe da redação hauçá da DW.

Thomas Mösch é chefe da redação hauçá da DW

Finalmente chegou o dia por que esperavam muitos na Nigéria e também em todo o mundo: reapareceu uma das 270 meninas raptadas em abril de 2014 pelos fundamentalistas islâmicos do Boko Haram de uma escola na cidade de Chibok.

Em primeiro lugar, trata-se de um motivo de alegria para a mãe dela e todos os seus familiares, cuja espera e orações não foram em vão.

Também podem se alegrar os apoiadores das famílias das jovens raptadas, em especial o grupo Bring Back Our Girls, pois eles se engajaram com tenacidade para que não se desistisse delas.

As imagens da moça também dão margem a esperanças, pois ela teria relatado que a grande maioria das reféns de Chibok estaria viva.

As imagens do nordeste da Nigéria, por outro lado, confirmam os receios dos últimos dois anos. A jovem voltou da mata com um bebê no braço, acompanhada por um homem que ela diria ser seu marido e que os militares suspeitam seja um terrorista do Boko Haram.

Logo em seguida ao rapto, peritos deduziram que as meninas seriam entregues como esposas para os membros da organização terrorista ou até "vendidas" em outras regiões. Foi isso que o líder dos terroristas, Abubakar Shekau, anunciou em um de seus vídeos. Relatos semelhantes partiram de outras mulheres que conseguiram escapar depois de serem raptadas pelo grupo.

Apesar da alegria e da esperança, diversas questões se impõem. Membros dos grupos de defesa civil e das Forças Armadas reclamam a vitória para si: cada um afirma ter recolhido a mulher, o homem e o bebê nos limites da mal afamada floresta de Sambisa, considerada como último reduto do Boko Haram.

Segundo a mídia, o homem teria conduzido a mulher e a criança para fora de um acampamento dos terroristas, onde os três estariam ameaçados de morrer de fome. Por outro lado, os fundamentalistas seguiriam mantendo presas, juntas, as demais 200 "meninas de Chibok".

Contudo, se o Boko Haram ainda tem o poder para manter unido um grupo tão grande de reféns, como é que esta conseguiu escapar, depois de tanto tempo? Como pode ser que especialistas e militares afirmem, todo esse tempo, que as jovens há muito foram dispersas por toda a região, sendo por isso tão difícil encontrá-las? Será, então, que as mundialmente famosas "meninas de Chibok" são o último trunfo dos terroristas, sabedores de que o Exército não pode se permitir nenhum ataque em que elas possam morrer?

Nas últimas semanas, até mesmo fontes ligadas ao presidente Muhammadu Buhari afirmavam repetidamente que a libertação das jovens estava sendo negociada. Um vídeo mostrando algumas delas alimentou tais esperanças. Afirmou-se que ele teria sido passado aos negociadores do governo nigeriano como prova de que as reféns ainda estavam vivas.

Cabe também questionar o modo sensacionalista como militares e políticos celebram o resgate da jovem como sendo uma vitória. Mesmo de acordo com os relatórios oficiais, não se tratou, de forma alguma, de uma vitória militar ou política, mas de um achado acidental.

Diante de outras 218 mulheres cujo destino é incerto, e de milhares de outras que não estão tanto em evidência, seria o caso de manter a humildade. O Boko Haram pode estar significativamente enfraquecido e encurralado em algumas regiões inacessíveis, mas ele continua representando uma ameaça, cometendo assassinatos quase diários.

A opinião pública não deveria se deixar ofuscar pelas felizes imagens do retorno da jovem a sua família. Milhares de homens, mulheres e crianças libertados das garras do Boko Haram estão vegetando em campos militares, onde alegadamente são interrogados sobre seu possível envolvimento em atividades terroristas. Em meados de maio, a ONG Anistia Internacional chamou a atenção para o campo militar de Maiduguri, onde são mantidas presas 1.200 pessoas das quais 150 já morreram, desde janeiro.

As imagens das festas de boas-vindas para a "menina de Chibok" não devem nos fazer esquecer que o governo e as Forças Armadas nigerianas ainda têm que responder a muitas perguntas, antes que o capítulo Boko Haram possa ser dado por encerrado.

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